Enviado por luisnassif, sex, 18/01/2013 - 14:05
Nassif, o Lucio Flavio Pinto produziu textos com pouco tempo entre
eles, desnudando alguns pontos sobre a Vale privatizada e se afinal ela
realmente ajuda o país mais do que quando era estatal. Acho que você
poderia colocar a sua "colher" nesse assunto qualquer hora dessas. Um
abraço.
Do blog A Vale que vale
Imposto: não é com a Vale
Publicado por Lúcio Flávio Pinto ⋅ 19 de maio de 2012 ⋅
De 1997, quando a Lei Kandir entrou em vigor, isentando de
imposto a exportação de produtos semielaborados (ou não
industrializados), até o ano passado, a antiga Companhia Vale do Rio
Doce recolheu pouco mais de 540 milhões de reais em ICMS ao Pará pela
venda ao exterior do minério de ferro de Carajás, o melhor do mundo. O
ano recorde de pagamento do principal imposto estadual pela ex-estatal
foi 2009, quando o valor chegou a R$ 197 milhões.
Nos 10 anos dos governos tucanos seguidos de Almir Gabriel e Simão
Jatene, de 1997 a 2006, o recolhimento de ICMS somou R$ 236 milhões. Nos
quatro anos de Ana Júlia Carepa, do PT, a soma foi de R$ 304 milhões.
Por incrível que possa parecer, de 1997 a 2001, a Vale contribuiu
para o erário com menos de R$ 6 milhões em impostos sobre minério de
ferro exportado, o principal item da pauta de exportação do Pará e do
Brasil. Em 1997 a CVRD foi privatizada e, não por mera coincidência,
entrou em vigor a famigerada Lei Kandir, de autoria do ex-ministro de
Fernando Collor de Mello e então deputado federal por São Paulo, Antônio
Kandir. O ICMS pago pela Vale foi então de R$ 18.828,37. Menos do que
pagou ao tesouro estadual um supermercado da esquina.
O recolhimento deu um “enorme” salto no ano seguinte: foi para R$ 173
mil. Patinou em R$ 177 mil em 1999. Saltou para R$ 1,9 milhão em 2000 e
foi multiplicado para R$ 4,5 milhões em 2001. Ou seja: em seis anos, a
média anual de contribuição tributária da mineradora para o Estado foi
de R$ 1,2 milhão. Parabéns ao deputado Kandir. E – provavelmente –
otras cositas más para ele.
Aí a China atacou o mercado internacional com sua fome insaciável de
aço. O ICMS recolhido em 2002 alcançou R$ 38 milhões. Baixou para R$ 26
milhões do ano seguinte, infletiu para R$ 38 milhões em 2004 e ficou
pouco acima de R$ 60 milhões em 20005 e 2006.
Neste caso, sim, por mera circunstância quanto a políticas e
realidades locais, a fatura tributária da Vale despencou para pouco
abaixo de R$ 40 milhões entre 2007 e 2008, já no governo de Ana Júlia.
Aparece então o fenômeno de 2009, dos R$ 197 milhões. Graças à
recuperação da vitalidade da economia chinesa depois da crise financeira
internacional. Mas entre 2010 e 2011 a queda voltou a ser brutal: para
R$ 29 milhões e R$ 31 milhões nos dois anos, respectivamente. Nos quatro
meses deste ano a conta ainda não chegou a R$ 12 milhões
O minério de ferro ainda é o grande negócio da Vale – no mundo, no
Brasil e no Pará. Mas os números mudam com o avanço da mineradora sobre
outras substâncias minerais depositadas no subsolo de Carajás. No mesmo
período a exploração de ferro na nova mina, a de Serra Leste, subiu de
R$ 6 milhões no acumulado até 2006 para R$ 299 milhões em 2001, sendo R$
259 milhões só nesse último ano. Nesses 14 anos, a exploração do cobre
da Serra do Sossego rendeu R$ 218 milhões de ICMS. A iniciante produção
de níquel do Onça Puma e do Vermelho recolheu pouco mais de R$ 70
milhões.
Todo o Sistema Norte de mineração da Vale rendeu em 14 anos
aproximadamente R$ 1,3 bilhão de ICMS ao Pará. A média é de menos de R$
100 milhões por ano. O Pará vai viver disso?
Esta é a conta do povo. Agora, a contabilidade da empresa.
Em 2011 as exportações totais do Pará foram de 18,3 bilhões de
dólares (em torno de R$ 33 bilhões), sendo quase US$ 17 bilhões (ou mais
de 90% do total, ou mais de R$ 30 bilhões) de produtos de origem
mineral, em bruto ou semielaborados – isentos de impostos, portanto.
A Vale exportou no ano passado 97 milhões de toneladas de minério de
ferro de Carajás, com faturamento de 11,7 bilhões de dólares,
correspondentes a quase 20 bilhões de reais. Pois bem: esses R$ 20
bilhões renderam R$ 30 milhões de ICMS. Ou 0,15%. Alíquota de
desmoralizar qualquer erário; de massacrar qualquer povo. E fazer a
festa de outro povo, como o chinês: desses 97 milhões de minério de
ferro extraídos e exportados, 47 milhões (exatamente a metade do total)
foram para a China, que pagou US$ 5,8 bilhões.
Dá uns US$ 120 por tonelada. É muito se comparado com os US$ 15/25
por tonelada do início de Carajás, na metade dos anos 1980. Mas quem
possui minério igual? E quando ele acabar, não depois de 400 anos de
exploração, conforme se previa inicialmente, mas em menos de um século,
na escala atual de lavra? A partir de 2015 a produção passará para
inacreditáveis 230 milhões de toneladas anuais?
Talvez continue a ser maravilhoso para os donos de papeis da Vale com
direito a dividendos prioritários, mas e para o Brasil? E para o Estado
do Pará? Quem garante? Quem sabe das coisas?
Todos deviam saber. Mas raros se interessam. O que é uma pena – e muito cara. Criei um blog (
www.valeqvale.wordpress.com)
justamente para conhecermos melhor essa portentosa companhia, esfinge
ou cavalo de Tróia. Poucos se apresentaram. Agora estou colocando nas
ruas um dossiê especial sobre a Vale (A Vale engorda. O Pará emagrece”, é
o título da publicação, com 44 páginas).
É tentativa de provocar o debate, despertar o interesse e mobilizar a
vontade dos paraenses. Mais tarde será irremediavelmente tarde. Como já
está sendo. Os paraenses continuam desatentos ao movimento do maior
trem de cargas do mundo, que leva o filé-mignon dos minérios de Carajás
para o exterior, com destino certo: a Ásia. A história do Pará parou,
como manda a dança. O trem, não.
CVRD multinacional: qual o preço a pagar?
Publicado por Lúcio Flávio Pinto ⋅ 22 de novembro de 2012 ⋅
Artigo escrito em 2006 possibilita acompanhar o crescimento da Vale até o tamanho de multinacional.
Em 2002, 10 cidadãos propuseram, perante a justiça do Rio de Janeiro,
uma ação popular contra a venda da Companhia Vale do Rio Doce,
realizada cinco anos antes, em abril de 1997. Tiveram o cuidado de pedir
celeridade processual porque um dos autores já estava com mais de 65
anos de idade.
Mostraram também a relevância de uma definição breve em função da
natureza do pedido, que pretendia obrigar a ex-estatal a reparar os
danos causados ao interesse público por sua privatização açodada, pelo
seu valor de venda subestimado e pelo não cumprimento de obrigações que
lhe estavam impostas.
Passados quatro anos, a ação continua sem qualquer decisão na 12ª
vara cível do Rio. Constataram os autores que os réus adotaram em
conjunto uma estratégia para criar um fato consumado, “tornando
ineficazes quaisquer medidas judiciais”. Para alcançar esse propósito,
aproveitavam-se “da prudência natural dos julgadores, que somente se
animam a exercer o Poder Geral de Cautela quando configuradas situações
de risco iminente e manifesto, mas que às vezes chegam a um ponto sem
retorno, levando a cogitar da paradoxal tese da ‘
sanatória de nulidades em homenagem à boa-fé’”.
Mesmo assim, decidiram, no dia 30 do mês passado [
agosto],
acrescentar à ação inicial um requerimento de protesto, notificação e
interpelação para assegurar que o objetivo da demanda não seja
prejudicado ou mesmo inviabilizado: obrigar a CVRD a recolher ao tesouro
nacional “expressivas parcelas pecuniárias” que teria sonegado, graças a
condições leoninas que a favoreceram na privatização. Esse
ressarcimento terá que ser calculado sobre os enormes lucros líquidos
que a empresa acumulou desde 1997.
O sinal de alerta soou quando a Vale do Rio Doce anunciou, também em
agosto, que apresentara uma “oferta hostil” para a aquisição de todas as
ações ordinárias (com direito a voto nas decisões da empresa) da Inco
(International Nickel), do Canadá, pelo preço à vista de 86 dólares
canadenses por cada ação ordinária, ou 17,7 bilhões de dólares
americanos no total, correspondentes, numa livre conversão cambial, a
38,4 bilhões de reais.
Esse valor – lembram os autores populares – equivale a mais de 10
vezes o preço pago (R$ 3,38 bilhões) para a proposta vitoriosa de
aquisição do controle acionário da Vale pelo consórcio formado pelo
Bradesco, a Bradespar e a Companhia Siderúrgica Nacional, na véspera do
leilão de privatização.
Na nota obrigatória de comunicação que enviou à Comissão de Valores
Mobiliários, a Vale informou que quatro bancos europeus – Abn Amro, UBS,
Credit Suisse e Santander – dariam suporte financeiro à operação, e que
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se
colocouà disposição para também apoiar a transação.
O anúncio sobre a maior oferta de compra de uma empresa já
apresentada em toda a história da América do Sul teve um efeito
imediato: duas agências de classificação de risco, a Moody’s e a Fitch,
decidiram revisar negativamente os
ratings da Vale. Isso
porque, se a oferta da ex-estatal for aceita, sua dívida passará de US$
5,9 bilhões, em 30 de junho, para US$ 25,6 bilhões. Um crescimento de
mais de quatro vezes, capaz de causar preocupações a analistas mais
rigorosos.
Os autores se reportam ainda a um comentário que Miriam Leitão fez em sua coluna de economia no jornal
O Globo.
Segundo ela, o Canadá será “o maior desafio que a Vale tem pela frente.
A empresa terá de convencer as autoridades canadenses de que será um
bom negócio para o país. Antes de tudo, os investidores terão de dizer
se querem vender para a Vale. Mesmo que os investidores prefiram vender
para a Vale, as autoridades canadenses poderão dizer não. Por uma lei
chamada
Canadian Act, o governo do país levanta uma série de
questões sobre a operação antes de aprová-la. E promete dizer sim ou
não em 45 dias. A Vale terá de provar que tem boas intenções, que está
comprando a empresa para mantê-la funcionando e investir nela”.
– Não é exagero prever – observam os autores – que, no caso de
resultados negativos como entrevistos pelos comentaristas
especializados, o controle acionário da CVRD, objeto do multifário
contencioso popular, seja transferido ao consórcio de bancos
compromissados para a linha de financiamento, a menos que o principal
agente da política de investimentos do Governo Federal – a instituição
financeira pública BNDES – conceda o apoio financeiro subsidiário
suficiente, negado em crises econômicas similares recentes (por exemplo,
caso Varig), fazendo real mais uma vez a conhecida fórmula de que, no
Brasil, “privatizam-se os lucros e socializam-se os prejuízos”.
Dizem-se constrangidos ao constatar, em momentos como esse, “a
vocação de terra espoliada, cornucópia do mundo, como o Brasil, cujas
autoridades – diversamente de outros países, como o Canadá no exemplo da
hora – não se preocupam nem precisam ser convencidas se uma operação do
vulto anunciado ‘será um bom negócio para o país
’”.
Mas enquanto se compromete publicamente a
“participar como membro da
comunidade canadense”, a partir da compra da Inco, a segunda maior
produtora de níquel do mundo (e dona das maiores jazidas do minério), a
Vale não demonstra o mesmo cuidado com suas obrigações no país nativo,
“inclusive omitindo mais uma vez em comunicados dessa natureza o fato de
existir um enorme contencioso popular” no Tribunal Regional Federal da
1ª Região, com sede em Belém, questionando a titularidade do controle
societário da empresa.
Desse contencioso “pode resultar no decreto
judicial de nulidade da venda”.
Os autores assinalam “o mesmo comportamento descuidado” perante a
justiça carioca: nenhum dos três personagens acionados (
a Vale, a União e
o então presidente Fernando Henrique Cardoso) teve “a preocupação de
informar nos autos a operação financeira de alto risco, que põe em
perigo de dano irreparável os frutos civis (lucros líquidos), que servem
de base ao objeto perseguido na ação popular”.
Entre os quais está o recolhimento dos valores devidos ao fundo de
melhoramento e desenvolvimento regional a partir dos lucros líquidos da
Vale nos 12 Estados onde a ex-estatal atua. Com o beneplácito e comando
do BNDES, essa obrigação legal foi substituída por uma “doação ridícula
aviltada” de R$ 86 milhões.
Os autores alertam ainda que a operação de compra da Inco pela Vale,
se consumada, além de frustrar os efeitos da ação popular e desrespeitar
os direitos dos cidadãos, feridos pela venda da estatal, “representa em
si mesmo um manifesto atentado à dignidade da Justiça Brasileira”.
Mesmo que não consigam uma decisão judicial antes de formalizada a
transação, anunciam a intenção de propor uma ação de atentado,
requerendo a declaração de nulidade da compra da Inco pela Vale.
De imediato, pediram a intimação dos responsáveis pelas duas
empresas, para que eles não aleguem no futuro terem agido sem dolo,
sabendo que estão usando “recursos financeiros imprescindíveis para
assegurar provisão para contingências (possíveis perdas com a ação
popular em curso)”.
Também querem a intimação do BNDES, considerando que seu presidente,
Demian Fiocca, “tornou público o propósito de suprir com refinanciamento
os eventuais danos materiais” decorrentes da aquisição da empresa
canadense, “sendo certo que os recursos a serem utilizados para tanto
ressumam interesse público”. Pedem igualmente a ampla divulgação do
inteiro teor da petição, inclusive no Canadá,
Pode ser que os autores da ação popular continuem a esbarrar no
silêncio judicial, mas talvez eles consigam tirar a opinião pública do
estado letárgico em que o estrondoso anúncio da aquisição da Inco a tem
mantido desde então, fazendo-a pensar em outras consequências desse ato e
não só na consagração da CVRD como a primeira multinacional brasileira
para valer.
A Vale encolheu. E agora?
Publicado por Lúcio Flávio Pinto ⋅ 10 de janeiro de 2013
No dia 20 de dezembro a Vale informou à opinião pública ter
concluído a avaliação anual da mineração de cobre de Onça Puma e dos
ativos de alumínio, ambos no Estado do Pará, “o que implicará no
reconhecimento do
impairment antes de impostos de US$ 4,2 bilhões, o que impactará nosso resultado contábil no quarto trimestre de 2012”.
A linguagem codificada de “economês” do comunicado deve ter
prejudicado o entendimento da gravidade da questão, acessível apenas aos
iniciados e aos integrantes do “mercado”.
Ao invés de citar a expressão técnica em língua estrangeira, a
mineradora brasileira, podia prestar uma homenagem póstuma a Joelmir
Betting. Ele foi o primeiro jornalista da era atual a se comunicar com
seus leitores, ouvintes e telespectadores em linguagem humana
inteligível. Combateu a irracionalidade da linguagem cifrada, que a Vale
voltou a usar na sua nota oficial no encerramento de 2012. Além de
ferir o estilo no léxico nacional.
A expressão
impairment significa que a empresa perdeu valor
em termos quantitativos, mas também em excelência, poder ou eficiência. O
termo tem origem no latim; em francês se tornou
empetrer.
Claro que o mercado ao qual se destina em primeiro lugar a mensagem
da Vale só usa o inglês e tem autorização legal para fazê-lo. Mas por
que deixar de lado o português, mais próximo do léxico latino? Questão
de esnobismo técnico ou opção consciente pelo recado dirigido só aos
iniciados?
Linguagens à parte, a Vale reconheceu, afinal: os problemas surgidos
com os dois fornos de Onça Puma determinaram a paralisação total de suas
operações de ferro-níquel desde junho de 2012. Segundo o comunicado,
após analisar o caso, a Vale “decidiu reconstruir um dos fornos, com
custo estimado em US$ 188 milhões em 2013, e planeja a retomada da
operação para o quarto trimestre de 2013”.
Em virtude desses problemas “e diante da atual situação de mercado
para ferro-níquel, a valoração de Onça Puma determinou a necessidade de
reconhecimento de
impairment antes de impostos de US$ 2,848 bilhões. O valor contábil de Onça Puma era de US$ 3,778 bilhões em 30 de setembro de 2012”.
Prossegue a comunicação oficial da empresa:
“A volatilidade dos preços do alumínio e as incertezas
macroeconômicas sobre a economia europeia contribuíram para redução do
valor de mercado da nossa participação de 22% na Hydro ASA (Hydro),
produtora de alumínio norueguesa, a um nível inferior ao valor contábil
do investimento. Com base nos preços das ações da Hydro em 30 de
setembro de 2012, estamos reconhecendo
impairment antes de impostos de US$ 1,3 bilhão, o que afetará nosso lucro no 4T12 [
quarto trimestre do ano passado].
Apesar destes impactos, permanecemos confiantes nos fundamentos de
longo prazo do mercado global de níquel. Ao mesmo tempo, acreditamos no
potencial dos ativos da Hydro para criar valor significativo para o
acionista como resultado de uma combinação única de uma rica dotação de
recursos naturais e de liderança tecnológica em alumínio.
Os
impairments anunciados não terão qualquer efeito no fluxo
de caixa da Vale e serão tratados como itens excepcionais. Nossa
revisão anual de ativos será concluída em conjunto com a divulgação de
nossas demonstrações financeiras de 2012 em 27 de fevereiro de 2013”.
Segui linearmente o texto divulgado pela Vale para mostrar que se a
empresa praticasse de fato os princípios de transparência que proclama
em suas numerosas peças de publicidade, teria dito logo de início que
seu valor contábil de balanço, a ser divulgado no próximo mês de
fevereiro, sofrerá uma redução de mais de 4,2 bilhões de dólares.
A causa são os graves problemas operacionais na fábrica de níquel do
Onça Puma, que terá uma redução de valor de mais de US$ 2,8 bilhões, e
da “volatilidade” do alumínio, cujos preços continuam baixos no mercado
internacional.
Embora a Vale diga que a correção nos fornos da usina do Onça Puma
será suficiente para que a fábrica volte a funcionar no final deste ano,
essa previsão parece otimista. O projeto já era muito problemático
quando estava sob o controle da empresa canadense Canico.
Sua aquisição pela Vale parece ter sido um impulso sem maior análise
do então presidente da empresa, Roger Agnelli, que ficou no cargo
durante 10 anos, um recorde na história da antiga Companhia Vale do Rio
Doce. Uma explosão ocorreu no primeiro dos fornos em junho.
Quinze dias depois, outra explosão no segundo forno, que continuou
funcionando como se nada de anormal tivesse acontecido. Parece que assim
como a compra e a implantação seguiram um ritmo acelerado, a operação
da usina manteve essas características.
A perda de valor também comprova a irreflexão da Vale na transação
que transferiu todo o complexo de alumínio implantado no Pará,
compreendendo desde a mineração de bauxita e produção de alumina pela
Alunorte (a maior fábrica do mundo) até a metalurgia da Albrás, a oitava
maior do mundo, à Norsk Hydro. A multinacional norueguesa conseguiu
assim sua plena verticalização, da mina à indústria de transformação.
Em troca, a ex-estatal recebeu da multinacional norueguesa 22% de
suas próprias ações. Em fevereiro de 2011, quando a transação se
consumou, essas ações valiam US$ 3,5 bilhões. Hoje valem US$ 2,2
bilhões. A Vale entregou um polo integrado de alumínio em troca de
ninharia. Foi um dano irreparável à soberania do Brasil nesse setor
vital da economia.
A mineradora, que caiu do 2º para o
3º lugar no ranking mundial, o primeiro abalo depois da era imperial de
Roger Agnelli, diz ainda acreditar no futuro. Só que ele se tornou
menos certo do que antes. O lucro, se houver em 2012, desta vez não terá
os valores estratosféricos do passado, que resultavam em dividendos sem
igual para os seus donos e acionistas. Mas não em ganho consolidado
para o país.