terça-feira, 30 de abril de 2013

Bolsa Família contribui para redução do trabalho infantil



trabalhoinfantil
O Programa Bolsa Família contribui para a redução do trabalho infantil no Brasil, declarou a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no Informe Mundial sobre o Trabalho Infantil, divulgado nesta segunda (29).

No Brasil, existem aproximadamente 3,4 milhões de jovens entre 10 e 17 anos no mercado de trabalho, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. De acordo com o informe da OIT, o Bolsa Família, desde a sua criação, reduziu em 8,7% a quantidade de crianças trabalhando no campo e 2,5%, nas áreas urbanas.

Segundo a organização, políticas de proteção social, como o programa brasileiro, são cruciais no combate a esse tipo de trabalho, que atinge cerca de 215 milhões de crianças no mundo – dos quais mais da metade exerce atividades consideradas perigosas. “O relatório demonstra claramente que investir na proteção social por meio dos pisos de proteção social definidos em nível nacional é uma parte fundamental da resposta na luta contra o trabalho infantil, que inclui também o acesso a empregos decentes para os adultos e a educação para as crianças”, disse a diretora do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, Constance Thomas.

Estimativas da OIT apontam que cerca de 75% da população mundial – 5 bilhões de pessoas – não têm acesso à proteção social integral.

Para a organização, a dinâmica do trabalho infantil obedece a vulnerabilidade de áreas associadas à pobreza, contra a qual a seguridade social desempenha papel fundamental para a sua mitigação. Segundo o informe da OIT, em lugares pobres, onde há pouco acesso ao crédito, as famílias recorrem ao trabalho infantil para satisfazer suas necessidades básicas e combater as incertezas do contexto econômico.

A pobreza é o principal fator sobre o qual a OIT justifica a importância de pisos e sistemas de seguridade social que incluam programas públicos de emprego, de proteção à saúde e às pessoas com deficiência, de seguro-desemprego e de seguridade adaptada à infância.

Os autores recomendam também a introdução de medidas específicas dirigidas ao trabalho infantil nos sistemas de seguridade social, o fortalecimento das qualificações e os marcos legislativos nacionais, bem como atingir os grupos vulneráveis como as crianças que vivem o HIV/Aids, as crianças migrantes, as crianças provenientes de minorias étnicas marginalizadas, os grupos indígenas e outros grupos excluídos em nível econômico e social.


Conheça algumas informações levantadas pela OIT em todo o mundo:
- 215 milhões de crianças são vítimas de trabalho infantil. Estes são os dados mais recentes. A publicação de novos números está prevista para setembro de 2013
- 115 milhões de crianças estão envolvidos nas piores formas de trabalho infantil, as quais compreendem as práticas análogas à escravidão, a servidão por dívidas, a oferta de crianças para a prostituição, a utilização de crianças para a realização de atividades ilícitas e o trabalho que é prejudicial para a saúde, a segurança e a moral das crianças
- 15,5 milhões de crianças trabalham no serviço doméstico
- O principal setor onde se concentra o trabalho infantil continua sendo a agricultura (60 por cento). Somente um de cada cinco crianças que trabalham recebe um salário. A grande maioria é de trabalhadores familiares não remunerados.

Com informações da Agência Brasil e da OIT

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ex-presidente Lula receberá prêmio palestino de excelência

Enviado por Daniela Kresch -
01.04.2013
7h08m

de O Globo




O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será agraciado com o “Palestine International Award for Excellence and Creativity” (Prêmio Internacional da Palestina para Excelência e Criatividade). O prêmio é outorgado anualmente desde 2007 pela Fundação Paltel, do Grupo Paltel, maior empresa de serviços de telefonia dos territórios palestinos, com apoio da Autoridade Nacional Palestina.

Lula receberá o prêmio da categoria internacional não-competitiva, que "distingue personalidades internacionais por sua contribuição ao avanço dos direitos palestinos, da dignidade humana em geral e da paz internacional". O ex-Presidente Lula foi escolhido por unanimidade pelo conselho consultivo do prêmio.

Em edições passadas, a categoria internacional distinguiu o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan e a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, entre outras personalidades internacionais de grande destaque.

O prêmio será recebido pelo Embaixador Paulo Roberto Caminha de Castilhos França, representante do Brasil em Ramallah. A cerimônia acontece na quarta-feira, dia 3 de abril.

Experiência Brasileira poderá ajudar combater a fome na África




de Brasil Laico

Postado em: 5 dez 2012 às 11:31

Em troca, a atuação brasileira na África pode representar uma grande oportunidade comercial e de investimentos, principalmente no setor agrícola

Tecnologia brasileira e know-how em programas sociais podem colaborar na luta para erradicar a desnutrição no continente africano. O enorme potencial agrícola da África desperta o interesse comercial do Brasil. O continente africano tem um longo histórico de fome e desnutrição. Desde os anos 1960, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada principalmente por países desenvolvidos, já destinou cerca de 650 bilhões de dólares em ajuda aos países da África Subsaariana.


Fome ainda é um dos principais problemas da África

Ainda assim, de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o número de pessoas subnutridas na África aumentou de 175 milhões para 239 milhões nos últimos 20 anos.

Nos últimos anos o Brasil também se juntou à luta pela erradicação da fome no continente, principalmente devido ao know-how do país no próprio território. O relatório da FAO mostra que o Brasil conseguiu reduzir o número de subnutridos de 14,9% para 6,9% da população desde 1990.

Em troca, a atuação brasileira na África pode representar uma grande oportunidade comercial e de investimentos, principalmente no setor agrícola.

No final do mês de novembro de 2012, o diretor-geral da FAO, José Graziano, a presidente da Comissão da União Africana (UA), Nkosazana Dlamini Zuma e o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva — em nome do Instituto Lula — reuniram-se em Addis Abeba, capital da Etiópia, para discutir a ajuda ao desenvolvimento e marcaram para março de 2013 uma reunião sobre “novas abordagens unificadas para acabar com a fome na África”.


Esforços e interesses brasileiros

Na opinião do coordenador executivo para a África do Instituto Lula, Celso Marcondes, os programas sociais desenvolvidos nos últimos anos ajudaram a “desenvolver a imagem do Brasil como um país que combate a má distribuição de renda com intensidade”. Segundo ele, os programas podem ser utilizados, com as devidas adaptações, nos países africanos.

Para as empresas brasileiras, o mercado africano em expansão abre boas oportunidades. “A balança comercial no Brasil cresceu muito fortemente em relação à África. Empresas brasileiras estão indo [para o continente] com cada vez mais força, tanto as grandes empresas, como também as pequenas e médias, que começam a descobrir esse novo mercado”, afirmou Marcondes em entrevista à DW Brasil.

Para o diretor de programas da ADRA-Moçambique (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), Armindo Salato, que atua no país africano desde 1987, o diferencial da atuação brasileira no projeto está na experiência e na tecnologia.

Para ele, que já presenciou três grandes projetos quinquenais de agricultura contra a fome, não houve mudanças significativas nos investimentos tecnológicos. “Nunca vi trazerem um trator para esses projetos. Foi sempre a enxada com cabo curto, trabalho manual. Eu esperava que em algum momento pudéssemos começar, pouco a pouco, a mecanizar a agricultura nesses 15 anos.” Com a nova parceria, Salato espera que a agricultura industrializada se desenvolva.


Investimentos em agricultura industrial

De acordo com dados da União Africana, o continente tem potencial para aumentar consideravelmente sua produção agrícola, uma vez que quase 60% da terra cultivável ainda não é utilizada.

Uma das medidas a ser debatida na reunião em 2013 será a necessidade de se investir na produção agroindustrial, em vez da simples produção agrícola de subsistência. Para Salato, a “mecanização da agricultura poderá resolver de fato, em pouco tempo, o problema da fome”, mas alertou para a necessidade de se incluir os pequenos agricultores no programa.

Outra preocupação está nos tipos de culturas agrícolas a serem produzidas em larga escala. Salato teme que a industrialização da agricultura foque apenas na exportação e não invista no cultivo de alimentos.

“Temos que olhar primeiro para as necessidades da própria África, e a primeira necessidade é a alimentar. Antes de sermos produtores para vender para fora, temos que olhar para o consumo interno”, afirmou Salato.

Agrosoft

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/12/experiencia-brasileira-ajudar-combate-fome-africa.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PragmatismoPolitico+%28Pragmatismo+Político%29

O Bolsa Família e a revolução feminista no sertão

03/12/2012 - 02h21  por Mariana Sanches

revistamarieclaire

A antropóloga Walquiria Domingues Leão Rêgo testemunhou, nos últimos cinco anos, a uma mudança de comportamento nas áreas mais pobres e, talvez, machistas do Brasil. O dinheiro do Bolsa Família trouxe poder de escolha às mulheres. Elas agora decidem desde a lista do supermercado até o pedido de divórcio

O dinheiro do Bolsa-Família trouxe poder de escolha às mulheres do sertão (Foto: Editora Globo)

Uma revolução está em curso. Silencioso e lento - 52 anos depois da criação da pílula anticoncepcional - o feminismo começa a tomar forma nos rincões mais pobres e, possivelmente, mais machistas do Brasil. O interior do Piauí, o litoral de Alagoas, o Vale do Jequitinhonha, em Minas, o interior do Maranhão e a periferia de São Luís são o cenário desse movimento. Quem o descreve é a antropóloga Walquiria Domingues Leão Rêgo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nos últimos cinco anos, Walquiria acompanhou, ano a ano, as mudanças na vida de mais de cem mulheres, todas beneficiárias do Bolsa Família. Foi às áreas mais isoladas, contando apenas com os próprios recursos, para fazer um exercício raro: ouvir da boca dessas mulheres como a vida delas havia (ou não) mudado depois da criação do programa. Adiantamos parte das conclusões de Walquiria. A pesquisa completa será contada em um livro, a ser lançado ainda este ano.
 
MULHERES SEM DIREITOS
As áreas visitadas por Walquiria são aquelas onde, às vezes, as famílias não conseguem obter renda alguma ao longo de um mês inteiro. Acabam por viver de trocas. O mercado de trabalho é exíguo para os homens. O que esperar, então, de vagas para mulheres. Há pouco acesso à educação e saúde. Filhos costumam ser muitos. A estrutura é patriarcal e religiosa. A mulher está sempre sob o jugo do pai, do marido ou do padre/pastor. “Muitas dessas mulheres passaram pela experiência humilhante de ser obrigada a, literalmente, ‘caçar a comida’”, afirma Walquiria. “É gente que vive aos beliscões, sem direito a ter direitos”. Walquiria queria saber se, para essas pessoas, o Bolsa Família havia se transformado numa bengala assistencialista ou resgatara algum senso de cidadania.

BATOM E DANONE
“Há mais liberdade no dinheiro”, resume Edineide, uma das entrevistadas de Walquiria, residente em Pasmadinho, no Vale do Jequitinhonha. As mulheres são mais de 90% das titulares do Bolsa Família: são elas que, mês a mês, sacam o dinheiro na boca do caixa. Edineide traduz o significado dessa opção do governo por dar o cartão do benefício para a mulher: “Quando o marido vai comprar, ele compra o que ele quer. E se eu for, eu compro o que eu quero.” Elas passaram a comprar Danone para as crianças. E, a ter direito à vaidade. Walquiria testemunhou mulheres comprarem batons para si mesmas pela primeira vez na vida. Finalmente, tiveram o poder de escolha. E isso muda muitas coisas.
 
O DINHEIRO LEVA AO DIVÓRCIO E À DIMINUIÇÃO DO NÚMERO DE FILHOS?
“Boa parte delas têm uma renda fixa pela primeira vez. E várias passaram a ter mais dinheiro do que os maridos”, diz Walquiria. Mais do que escolher entre comprar macarrão ou arroz, o Bolsa-Família permitiu a elas decidir também se querem ou não continuar com o marido. Nessas regiões, ainda é raro que a mulher tome a iniciativa da separação. Mas isso começa a acontecer, como relata Walquiria: “Na primeira entrevista feita, em abril de 2006, com Quitéria Ferreira da Silva, de 34 anos, casada e mãe de três filhos pequenos,em Inhapi, perguntei-lhe sobre as questões dos maus tratos. Ela chorou e me disse que não queria falar sobre isso. No ano seguinte, quando retornei, encontrei-a separada do marido, ostentando uma aparência muito mais tranqüila.”
A despeito do assédio dos maridos, nenhuma das mulheres ouvidas por Walquiria admitiu ceder aos apelos deles e dar na mão dos homens o dinheiro do Bolsa. “Este dinheiro é meu, o Lula deu pra mim (sic) cuidar dos meus filhos e netos. Pra que eu vou dar pra marido agora? Dou não!”, disse Maria das Mercês Pinheiro Dias, de 60 anos, mãe de seis filhos, moradora de São Luís, em entrevista em 2009.

Walquiria relata ainda que aumentou o número de mulheres que procuram por métodos anticoncepcionais. Elas passaram a se sentir mais à vontade para tomar decisões sobre o próprio corpo, sobre a sua vida. É claro que as mudanças ainda são tênues. Ninguém que visite essas áreas vai encontrar mulheres queimando sutiãs e citando Betty Friedan. Mas elas estão começando a romper com uma dinâmica perversa, descrita pela primeira vez em 1911, pelo filósofo inglês John Stuart Mill. De acordo com Mill, as mulheres são treinadas desde crianças não apenas para servir aos homens, maridos e pais, mas para desejar servi-los. Aparentemente, as mulheres mais pobres do Brasil estão descobrindo que podem desejar mais do que isso.

A História de uma mãe beneficiada pelo Bolsa Família



Enviado por luisnassif, dom, 02/12/2012 - 11:54

Por José Ribeiro Jr.

Comentário do post "O TCC sobre o Bolsa Família: uma aula de jornalismo"

Nassif, sua definição sobre frei Beto e Cristóvan Buarque é precisa e oportuna! Aproveito o "gancho" desse trabalho de graduação para compartilhar com você e seus leitores a surpreendente história de uma jovem mãe e a importância que programas sociais como o Bolsa Família possuem para quem não tem quase nada

Se não chove ou não faz muito frio, ela aparece quase todos os dias próximo ao cruzamento das ruas Brigadeiro Franco com Vicente Machado, no centro de Curitiba. Perto das 18 horas estaciona ali um carrinho desses de se transportar papel e trabalha duro até umas 20 horas. Junto com ela, 2 crianças e uma pré-adolescente, que são seus filhos e sobrinho. Em casa ficou o filho mais velho, de 14 anos, tomando conta do irmão menor, de 5, e de um bebê que a mãe não pode criar e ela assumiu. O marido, a essa hora, já saiu para trabalhar como vigia em uma indústria, onde ganha R$ 700. Ela soma a essa renda mais uns R$ 100 por semana, no máximo, com a venda do papel e material para reciclagem que cata nas ruas, mas principalmente no encontro da Brigadeiro com a Vicente. À renda deles se somam ainda os R$ 126 do Bolsa Família, e é só. Ao todo são oito pessoas que sobrevivem do trabalho do casal.

A casa onde moram é um barraco melhorado em um trecho da Rua Eugênio Parolin. Melhorado porque o casal começou a levantar paredes de alvenaria e fazer quartos, mas não pode concluir porque foi denunciado à Cohab. Resultado: teve que assinar um documento se obrigando a não fazer mais nenhuma alteração, sob pena de ter que abandonar o local. Por conta disso os “quartos” são separados por panos estendidos que isolam o espaço em que dormem o casal e a neném da outra “peça” onde ficam as crianças e os dois pré-adolescentes. Ali tem cama, tem armário, tem TV e outros bens adquiridos nas Casas Bahia com um carnê que ela paga religiosamente. Não se sabe se a casa tem banheiro, mas as crianças estão sempre asseadas, dentes escovados, roupa limpa. Demonstrações do zelo da mãe.


Luana e seus garotos: exemplo de cidadaniaA mulher dos 4 L’s se chama Luana Lenita Linhares de Lima – o último “L” ela ganhou do marido. A filha pré-adolescente também ganhou nome com L, chama-se Lesslie. O marido é Silvio e os meninos são Leandro, Leonardo, Lucas e Matheus - este, o único que foge à regra dos nomes começados com a letra L, é o sobrinho. A bebezinha chama-se Rhaiana e é um caso à parte. Nasceu com sérios problemas em decorrência do vício do crack da mãe. Abandonada, acabou sendo acolhida pela família de Luana. Tem quase 2 anos, mas o desenvolvimento de um bebê de dias de vida. Não fica em pé, se alimenta com mamadeira, não controla as necessidades fisiológicas, precisa fazer fisioterapia. Quando pegou a recém-nascida abandonada, o casal foi entregá-la ao Conselho Tutelar do Parolin, na intenção de que alguma família desse a ela o que precisava. A funcionária os convenceu a ficar com a guarda do bebê com o argumento de que o que ela precisava era de amor, e isso os dois tinham para dar.

Para se adequar à tarefa adicional a família criou uma rotina. Começa às 6 horas da manhã, quando Luana prepara as crianças e as leva à escola – dois em colégios da Prefeitura, outros dois em estabelecimento estadual. À tarde o filho mais velho freqüenta o contraturno em uma instituição religiosa, onde realiza alguns cursos que o preparam para o Programa Menor Aprendiz. Em casa ficam dormindo a neném e o filho caçula. Logo o marido chega do trabalho para dormir também. Até às 14 horas Luana faz as tarefas da casa, cuida da bebê e de Lucas, prepara o almoço e busca as crianças na escola. Então o marido acorda e assume a casa, em especial as atenções a bebê. Luana parte então para a atividade de carrinheira, na companhia de 2 filhos e do sobrinho.

O menino mais velho, de 14 anos, mesmo quando não tem o contraturno fica em casa com o pai, “porque sente vergonha” da profissão da mãe. Isso não é problema para ela, porque pressente que a conseqüência seria ele abandonar a escola para evitar a descriminação dos colegas. Não se pode condenar o menino por isto. E ela reconhece que a chance do filho está justamente na escola; fora dali, a outra oportunidade de ascensão econômica é no tráfico. Então que fique em casa ajudando o pai e fazendo as tarefas escolares. Uma demonstração de inteligência emocional impressionante. Quando cai a noite, o pai volta à atividade de vigia e então é o filho pré-adolescente que dá as atenções à pequena Rhaiana. Isso até Luana e as crianças voltarem com o carrinho carregado de papelão, garrafas PET e outros recicláveis.

Na esquina da Brigadeiro com a Vicente ela é bem conhecida de alguns moradores e de pessoas que freqüentam a área. Uma senhora para um instante e avisa que tem roupas usadas para trazer. Alguém estaciona um carro e entrega um velho patinete para os meninos. É uma festa. Outro reduz a velocidade e deixa algum trocado nas mãos das crianças em troca de um drops. Um casal pergunta se ela trouxe a lista de material escolar e de uniformes dos filhos. Ela não só trouxe como anotou no verso de cada lista o tamanho das roupas de cada um, o número do calçado, os respectivos valores e o endereço do fornecedor mais em conta. O nome dela também é eficiência.

Luana Lenita Linhares de Lima é a cara da nova classe D que ascendeu com o governo Lula. Mas não é isto que a faz especial, nem tão rara. A pobreza de recursos em que vive desde que nasceu há 30 anos não impediu que ela formasse um espírito de cidadã pouco comum, inclusive nos estratos mais bem aquinhoados da sociedade. Do pouco que ganha, a carrinheira Luana recolhe para a Previdência como contribuinte individual para ter direito aos benefícios do seguro social. Ela conhece os deveres do Estado e os cobra, indiferente ao mau atendimento dos funcionários da Prefeitura.

Não aprova nem se envolve com o poder paralelo que domina a favela onde a família vive, mas sabe que ali não é a lei do Estado ausente que vige, então se enquadra. Se alguém manifesta a intenção de ir a sua casa ela adverte que não é qualquer carro que pode entrar ali; veículos brancos são mal-vindos, porque pode ser polícia ou de outro órgão repressor. Quebrar as regras do poder paralelo pode representar a perda do barraco, e ela não pode correr esse risco. Fez inscrição na Cohab para comprar a casa própria, mas quer mesmo é a regularização da propriedade no Parolin, porque ali perto estão as escolas dos filhos, o emprego do marido, o posto de saúde que socorre a família, a rota que ela cumpre diariamente para recolher seus recicláveis.

De maneira surpreendente para alguém que a sociologia política qualificaria como lúmpen, Luana está bem informada sobre todos os programas sociais do governo federal e da Prefeitura de Curitiba. E sabe como se valer deles. Recebe o reforço do Bolsa Família, aprende rudimentos da Informática no Liceu do Ofício, faz fisioterapia na bebê na unidade de saúde, possui cartão para compras no Armazém da Família... E o que mais surpreende é que ela utiliza esses recursos para impulsionar sua vida e não para acomodação. Seu nome também é consciência cidadã.

Descobrir o que faz de Luana uma cidadã tão consciente é uma tarefa que deveria interessar os cientistas sociais. Uma população de “Luanas” transformaria o País, quem sabe, em uma geração. Como tantas mulheres iguais a ela, também veio do interior tentar a vida na cidade grande. Perdeu a mãe muito cedo, foi criada pelo pai, que formou nova família e então os filhos da primeira união se dispersaram.

É fiel da Igreja do Evangelho Quadrangular e com alguma freqüência refere que ela, o marido e os filhos “louvam”. Afora isto não tem qualquer traço característico dos chamados “crentes”. Não manifesta preferências políticas de nenhuma ordem e se refere a presidente Dilma com a intimidade de uma vizinha (“agora é mais, porque a Dilma aumentou o salário ...”, observou, comentando o ganho do marido). Nos cuidados que demonstra com a família e ao deixar transparecer que possui uma escala de valores nobres Luana faz lembrar a história que se ouve falar de Dona Lindu, a mãe do ex-presidente Lula.

Será que o novo grande líder político nacional é um dos meninos que a ajudam na catação dos papeis? Ou será Lesslie que vai conduzir os destinos do País daqui a pouco mais de duas décadas? Parece improvável, mas também parecia há 60 anos quando dona Lindu colocou seus meninos num pau-de-arara e partiu para São Paulo.

(http://compaixaoefortaleza.blogspot.com.br/2012/03/mulher-dos-quatro-ls-...)

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-historia-de-uma-mae-beneficiada-pelo-bolsa-familia?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

Nobel da Paz elogia e estuda programas brasileiros de combate à fome



Postado em: 8 nov 2012 às 18:53 na página do Por um Brasil Laico e Democrático

Nobel da Paz estuda programas brasileiros de combate à fome. A ativista iemenita Tawakkol Karman foi recebida nesta quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff

A ativista iemenita Tawakkol Karman, prêmio Nobel da Paz em 2011, foi recebida nesta quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff e se interessou pelos programas brasileiros de combate à fome.

Depois do encontro, que aconteceu no Palácio do Planalto, Tawakkol pediu ao Brasil que ajude o Iêmen na elaboração de planos similares, os quais qualificou de “exemplares”.

Mais jovem Nobel da Paz e primeira mulher árabe a receber o prêmio, a jornalista de 33 anos foi uma das líderes da revolta que derrubou uma ditadura de 32 anos no Iêmen.


Ela também pediu ao governo brasileiro que financie bolsas de estudo para jovens iemenitas que se engajaram na Primavera Árabe, a onda de protestos ocorrida em países árabes entre 2010 e 2012.

Sorridente, ela elogiou os brasileiros por terem escolhido uma mulher para comandar o país. “Queria parabenizar vocês brasileiros por ter uma presidenta. Tenho certeza de que todas as brasileiras têm orgulho de serem governadas por uma mulher”, afirmou.

Tawakkol viajou ao Brasil para participar da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção (IACC, na sigla em inglês), organizada pela organização Transparência Internacional (TI) e inaugurada nesta quarta-feira em Brasília.

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/nobel-da-paz-elogia-dilma-brasil-fome.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PragmatismoPolitico+%28Pragmatismo+Político%29

Ultra-capitalismo: do terrorismo ao calote mundial

31/07/2011 

DEBATE ABERTO

Por que não podemos classificar o terrorista norueguês como ultra-capitalista? Por que temos que nos conformar com o rótulo na capa da revista Veja, que o chama de ultra-nacionalista, ou com as variantes usadas no restante das corporações de mídia.

 Marcelo Salles



Por que não podemos classificar o terrorista norueguês como ultra-capitalista? Por que temos que nos conformar com o rótulo na capa da revista Veja, que o chama de ultra-nacionalista, ou com as variantes usadas no restante das corporações de mídia (atirador, terrorista, extremista e outros tantos, que confundem muito mais do que explicam). São confiáveis esses veículos de comunicação que imediatamente após o tiroteio apontavam o dedo para um providencial “extremista islâmico”? -- versão que, aliás, não resistiu a 24 horas.

Estou sendo radical? O capitalismo não prega genocídios? O capitalismo tem um lado humano?

Quando digo que o marginal norueguês é ultra-capitalista não estou pensando nos postulados de Adam Smith ou naquilo que é permitido que se publique a respeito do sistema que domina o mundo. Estou me referindo ao que é escondido (o trabalho escravo ou semi-escravo e a máquina de moer essa gente que trabalha por um salário mínimo de fome) e ao que está implícito, às sutis formas de produção e reprodução de subjetividades, que interferem nas formas de sentir, pensar e agir dos cidadãos e, conseqüentemente, da própria sociedade em que estes estão inseridos.

O assassino em massa que chocou o mundo agiu influenciado por doutrinas que pregam a concorrência violenta, o ódio ao próximo. Essa teoria que joga a culpa de tudo em estrangeiros, negros, gays, ou em qualquer um que seja diferente. É reducionista, mas funciona. Em vez de reconhecer os próprios defeitos, o que demanda tempo, reflexão e análise, basta jogar a culpa em alguém com quem a pessoa não se reconhece: o outro.

Não me parece casual que o alvo do assassino tenha sido um acampamento da juventude socialista, que reuniu centenas de jovens de todos os cantos do mundo – inclusive do Brasil. O bandido criticava o multiculturalismo e chegou a dizer que esse era o grande problema do nosso país. Essa seria a razão para sermos uma sociedade “disfuncional”, de segunda classe.

É evidente que o genocida norueguês nunca assistiu a um desfile da Estação Primeira de Mangueira. E nem viu um Neymar da vida jogando. Muito menos teve a oportunidade de apreciar uma partida como a de quarta-feira, entre Flamengo e Santos. Ali, na Vila Belmiro, quando todos os deuses do futebol (que não são nórdicos, por suposto) baixaram simultaneamente em campo, ficou provada a existência de milagres. Esses milagres que permitem uma jogada como a do terceiro gol do Santos, quando o miscigenado Neymar fez com a bola algo que desafia a compreensão até mesmo dos deuses. Esses milagres que fizeram com que o Flamengo virasse uma partida após estar perdendo por três gols de diferença, sendo que o miscigenado Ronaldinho fez três e foi chamado de “gênio” pelo melhor jogador do mundo na atualidade. Foi um jogo que será lembrado daqui a cem a nos. Deve ser duro para os racistas ouvirem isso, mas a verdade é que esses milagres nascem justamente com a miscigenação que as teorias nazistas repudiam. Futebol e música soam melhor quando tem mistura, é assim em qualquer lugar do mundo.

A propósito: o nazismo não era capitalista? Se não, o que era?

A dificuldade de se entender o discurso do premiê da Noruega é compreensível. Todos ficaram chocados quando ele afirmou que discursos de ultra-direita são legítimos. Isso porque as corporações de mídia não conseguiram traduzir para o bom português; preferiram fingir que ele não estava se referindo à ultra-direita, ou seja, a versão mais descarada do capitalismo. Para as corporações de mídia é melhor apostar na confusão do que mostrar ao povo brasileiro que seus sócios e amigos defendem, por exemplo, o cercamento de favelas. Ou o abandono da gente pobre. A tortura de traficantes varejistas.

Os tiros disparados na Noruega também ecoam nos Estados Unidos. O extremismo do assassino nórdico tem tudo a ver com o fundamentalismo neoliberal de mercado. Ambos reivindicam para si a verdade, como se existisse apenas uma, a deles. Ambos consideram-se pertencentes a uma casta superior. E ambos agiram com planejamento, método e frieza.

Agora a maior economia do mundo anuncia tranqüilamente que pode dar um calote amplo, geral e irrestrito, mas não aparece um economista para entoar os cânticos de “irresponsável”. Onde estão os fiscais dos fundamentos da economia? Onde os que diziam que Lula quebraria o Brasil? Cadê a turma que defendia o modelo estadunidense como digno de ser seguido? Estão todos quietinhos, debaixo da cama, morrendo de medo das conseqüências, imprevisíveis, de uma moratória dos Estados Unidos.

O mundo não está nessa situação porque de vez em quando aparece um lunático disposto a tudo para fazer valer sua irracionalidade. Chegamos a este ponto porque o modelo de sociedade adotado pela maior parte do mundo não presta. Quem sabe a União de Nações Sul-Americanas – Unasul – aponte uma nova direção.

Marcelo Salles é jornalista (twitter: @MarceloSalles)

Uma revolução. A lei n. 10.639/3 e o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas.

  Entrevista especial com Lúcia Regina Pereira 

unisinos 

“Não basta promulgar uma lei; precisa mudar a mente das pessoas e seus posicionamentos”, declara a secretária do Grupo de Trabalho Negros: História, Cultura e Sociedade  ANPUH/RS.
Confira a entrevista.

Foto: http://cinemahistoriaeducacao.wordpress.com
Uma reivindicação do Movimento Social Negro, a Lei n. 10.639/3, que inclui no currículo oficial das escolas a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira, completa dez anos. Apesar de alguns professores ainda serem resistentes à legislação, Lúcia Regina Pereira ressalta que “diferente de dez anos atrás, mais pessoas, escolas, e educadores têm ciência, se não consciência, dessa outra parcela da população que precisa se ver na história e se ver de forma positiva”.
Para ela, a instituição desta lei “prevê uma revolução na educação do país ao mostrar que o Brasil foi construído a partir de vários grupos étnicos: o grupo indígena, o grupo negro e o grupo europeu, e que essas histórias todas têm que vir à tona para entendermos como funciona a sociedade brasileira”. Em entrevista à IHU On-Line por telefone, Lúcia assinala que “muitas escolas ainda pensam que fazer uma atividade no dia 20 de novembro contempla a questão da lei, mas a proposta não é essa”.

E acrescenta: “A proposta é que se integre no currículo propriamente dito e no currículo culto da escola, nas próprias relações interpessoais, para que as pessoas tenham consciência do tratamento. Então, esta questão tem de deixar de ser uma coisa pontual e festiva. A cultura tem que ser tratada como uma questão educacional, como uma questão de organização social. A cultura, neste momento, é extremamente importante, e ela tem que perpassar todo o processo educacional”.

Lúcia Regina Pereira é mestre e doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul  PUCRS. Leciona nas redes estadual e municipal de ensino. Também é integrante do Grupo de Pesquisa Africanidades, Ideologia e Cotidiano - AIC (PPGH/PUCRS), coordenadora técnica de Maria Mulher  Organização de Mulheres Negras, Secretária do GT Negros: História, Cultura e Sociedade  ANPUH/RS. Ela estará na Unisinos na noite de hoje, 23-04-2013, ministrando a palestra Os 10 anos da lei n. 10.639/3: Avanços e perspectivas, às 19h30, no Auditório Central.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Como e em que contexto foi sancionada a lei n. 10639/3?
Foto: http://educador.brasilescola.com
Lúcia Regina Pereira – Esta lei é resultado de um processo muito longo de trabalho e de reivindicação das organizações negras do final do século XIX e início do século XX. Em meados do século XX, essa discussão foi proposta pela instituição da Frente Negra Brasileira, que atuou de forma mais incisiva politicamente. E, nos anos 1970, o movimento negro atuou politicamente e concretizou essa reivindicação sobre a questão negra da educação no sistema de ensino. Esse processo vem se desenvolvendo desde o período colonial com as Irmandades do Rosário, que sempre tiveram na pauta das suas ações a preocupação também com a educação.

IHU On-Line – Como a lei é abordada nas escolas, entre professores e alunos?
Lúcia Regina Pereira – Num primeiro momento, houve resistência. Ouvia colegas dizendo que não iriam cumprir a lei porque era uma coisa vinda de cima. Na realidade, há um desconhecimento do processo histórico da instituição da lei. Ela não veio de cima, não foi a presidência da República que propôs; foi uma reivindicação do Movimento Social Negro. As pessoas ainda ficam com “o pé atrás”, porque acham que é preciso ter leis para outros segmentos discriminados da sociedade, mas não é assim que funciona. A instituição da lei prevê uma revolução na educação do país para mostrar que o Brasil foi construído a partir de vários grupos étnicos: o grupo indígena, o grupo negro e o grupo europeu, e que essas histórias todas têm que vir à tona para entendermos como funciona nossa sociedade.
Ainda hoje há aqueles que são resistentes à lei. Porém, o lado bom é que, diferente de dez anos atrás, mais pessoas, escolas e educadores têm ciência, se não consciência, dessa outra parcela da população, a qual precisa se ver na história e se ver de forma positiva.

IHU On-Line – Como a história e cultura afro-brasileira eram abordadas na educação nacional antes da instituição da lei n. 10639/3, e o que mudou no ensino após a instituição da lei?
Lúcia Regina Pereira – A história era vista com muitos estereótipos. Primeiro, quando os negros apareciam na dita história, apareciam como acessórios. A história africana foi ligada à história das grandes navegações. Então, a história do negro aparecia a partir do colonialismo. Nas imagens pejorativas, o negro era visto como escravo, como o mau trabalhador e como uma pessoa que não tinha condições devido à falta de civilidade, de trabalhar e progredir. Embora existam restrições, ainda hoje algumas pessoas não aceitam a revisão histórica e veem a sociedade de uma forma eurocêntrica e acham que as coisas devem continuar do jeito que estão.
Por outro lado, existem pessoas imbuídas desta ideia de ver o Brasil, de fato, na sua multiculturalidade e, nessa, a população negra – que é 53% da população – tem um papel fundamental naquilo de bom, que é a preservação da cultura, as relações interpessoais, a questão da religião, a questão da culinária etc.
A lei entrou para o calendário oficial da escola e, mal ou bem, elas são obrigadas a olhar para este tema. Algumas estão trabalhando durante todo o ano, outras trabalham de forma pontual. Então, muito mais pessoas, tanto professores do Censo quanto alunos, acabam tendo um contato, mínimo que seja, com a cultura afro-brasileira.

IHU On-Line – Quais os avanços e perspectivas dez anos após a instituição da lei n. 10639/3?
Lúcia Regina Pereira – Eu diria que a perspectiva é de avanço, até porque ela é uma lei revolucionária. Eu gosto muito de dizer isso, visto que ela muda todo o sistema de ensino do país, desde a educação infantil até o ensino superior. Em termos de mudança social, as pessoas serão obrigadas a mudar seus pensamentos, suas visões simbólicas do mundo e das relações sociais no Brasil. Então, isso é revolucionário. Não se trata apenas de incluir conteúdos na sala de aula, mas também de pensar o fazer individual, o fazer de cada pessoa no dia a dia. Como eu trato aquele que é diferente? Como eu trato as questões étnico-raciais na sala de aula? Além da questão do conteúdo propriamente dito, as pessoas terão que olhar para seu comportamento e ver até que ponto – ou até onde – vão as limitações em aceitar o outro como produtor de história, como produtor de cultura, que é uma cultura relevante. E, se não fosse essa cultura, com certeza o Brasil seria diferente.

IHU On-Line – Quais são hoje as principais reivindicações do movimento afrodescendente?
Lúcia Regina Pereira – Em matéria de publicação, diferente de dez anos atrás, existe um bom número de publicações relacionadas à questão do negro. Esse é um ponto extremamente positivo. Outro ponto é que a lei se efetive de fato, porque, dada a resistência da cultura brasileira, alguns municípios de tradição germânica ou outra qualquer pensam que não é importante falar de negros na sua localidade. Estamos aprendendo a história do país, e na história do país precisa estar incluída a de todos os segmentos. É importante fazer com que isso realmente se efetive. Não basta promulgar uma lei; precisa mudar a mente das pessoas e os seus posicionamentos.
Muitas escolas ainda pensam que fazer uma atividade no dia 20 de novembro contempla a questão da lei, mas a proposta não é essa. A proposta é que se integre no currículo propriamente dito e no currículo culto da escola, nas próprias relações interpessoais, para que as pessoas tenham consciência do tratamento. Então, esta questão tem de deixar de ser uma coisa pontual e festiva. A cultura tem que ser tratada como uma questão educacional, como uma questão de organização social. A cultura, neste momento, é extremamente importante, e ela tem que perpassar todo o processo educacional.
Os professores e professoras que estão se formando precisam ter conhecimento dessa lei, para quando forem exercer a sua profissão saberem como trabalhar a temática dentro da sala de aula. Então, é uma via de duas mãos. A questão da pesquisa também é fundamental. Por muito tempo se pesquisou a população negra da sociedade como se ela fosse um apêndice invisível, e hoje nós temos pesquisas direcionadas que vão reverter em prol dessa população que tanto foi excluída na sociedade brasileira.

sábado, 20 de abril de 2013

Bolsa Família amplia aprovação escolar


Educação

tribunadabahia

Publicada em 31/03/2013 09:08:00
 
Entre os estudantes de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, os que recebem Bolsa Família têm chances de repetir de ano cerca de 11% menores que as de alunos cadastrados, mas não beneficiados pelo programa.

Os pesquisadores Luis de Oliveira e Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chegaram a esse resultado ao cruzar pela primeira vez os dados de três bases administrativas – Cadastro Único, Projeto Frequência e Censo Escolar – e concluíram haver “evidências de que o Programa Bolsa Família reduz a repetência de quem o recebe”.

Enquanto o Bolsa Família é focalizado nas famílias do Cadastro Único com renda de até R$ 140 por pessoa, o cadastro inclui um conjunto bem maior de famílias, com renda de até meio salário mínimo por pessoa (R$ 339 atualmente) ou de até três salários mínimos no total (R$ 2.034). Assim, com mais de 1,2 milhão de casos analisados, a pesquisa aponta indícios de que o benefício do Bolsa Família eleva a taxa de aprovação entre crianças que, em geral, estavam nas famílias mais pobres do cadastro.

Crianças cadastradas cujos responsáveis completaram pelo menos o ensino fundamental têm chance 32% menor de repetir, enquanto os domicílios menos favorecidos tendem a abrigar os estudantes com piores resultados. Na contramão dessa tendência, o benefício de renda, condicionado à frequência escolar, “tem ajudado essas famílias a garantir melhores condições para seus filhos”.

Os autores ressalvam que, por trabalharem com dados de registros administrativos sujeitos a falhas de preenchimento e de qualidade, seus resultados devem ser mais interpretados em termos de direção do que por suas magnitudes.

Eles esperam que o contínuo aperfeiçoamento do Cadastro Único e do Censo Escolar possibilite estimativas cada vez mais precisas, mas dizem haver evidências suficientes para sustentar que o Bolsa Família aumenta as chances de aprovação de seus beneficiários.

O cruzamento de dados permitiu ainda outras constatações. Os meninos do cadastro repetem 71% mais do que as meninas. O índice de repetência entre estudantes que têm algum tipo de necessidade especial é aproximadamente 76% maior que o dos demais.

Segundo os autores, isso indica “uma dificuldade do sistema escolar em lidar com essas pessoas”. Alunos já defasados têm 24% mais chances de repetir e, além disso, os que repetiram o ano anterior têm outros 46% adicionais em probabilidade de permanecer mais um ano estacionados na mesma série.

No México, Lula afirma que é possível acabar com a fome do mundo

vermelho

20 de Abril de 2013 - 9h15

Durante participação no lançamento da Cruzada Nacional contra a Fome, em Chiapas, no México, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou de como a experiência brasileira prova que é possível erradicar a miséria no mundo.


Ricardo Stuckert/Instituto
Lula no México Lula participa no México do lançamento da Cruzada Nacional contra a Fome

"Eu vim aqui dar o meu testemunho. É possível terminar a fome no mundo. O que necessitamos são de governos comprometidos com os pobres. Os ricos não precisam dos governos. Quem precisa do governo são as pessoas pobres do mundo. “

A iniciativa do governo de Peña Nieto é inspirada nos programas e no compromisso do governo brasileiro no combate à pobreza. ”O programa Fome Zero no Brasil inspirou em boa medida a Cruzada Nacional contra a fome”, declarou a ministra de Desenvolvimento Social do México, Rosario Robles.

Peña Nieto destacou como o exemplo do Brasil inspira a iniciativa “você teve êxito e tirou 33 milhões de brasileiros da pobreza. Aqui estamos empenhados para 7 milhões e meio de mexicanos abandonem essa condição e tenham dignidade. “

O ex-presidente brasileiro disse que as críticas que as iniciativas de combate à pobreza estão recebendo no México são iguais as que ele recebia no começo do seu governo. E incitou Peña Nieto a ter no seu governo um compromisso permanente com os mais pobres “Este país tem tudo que seu povo necessita, e agora, presidente, eles tem você. Não falte com eles.”

Informações do Instituto Lula



Bono: “Lula é um tesouro global”

revistaforum

11/04/2013 | Publicado por Renato Rovai em Geral

Na última terça-feira (9), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o músico irlandês Bono, líder da banda U2, se encontraram em Londres. Durante cerca de uma hora conversaram sobre Bolsa Família, segurança alimentar e fome na África. Além, é claro, de uma paixão compartilhada por ambos, o futebol.
“Lula, você é o único interlocutor capaz de falar com capitalistas e socialistas, com dirigentes dos países ricos e com as lideranças do Terceiro Mundo”, afirmou o músico irlandês.

No final do encontro, Bono fez um desafio para o ex-presidente brasileiro.

“Você é hoje a única pessoa em condições de liderar uma cruzada internacional para transformar o Bolsa Família num programa planetário, que atenda a todos os pobres do mundo! Vamos, eu me junto a você e fazemos isso juntos!”, disse.

Bono fez questão de gravar um vídeo com uma mensagem para todos os brasileiros sobre a importância de Lula. Veja o vídeo com o depoimento do roqueiro sobre o ex-metalúrgico que chegou a presidência do Brasil.

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Lula e Bono discutem "Bolsa Família Mundial"

Cantor escolheu iniciativa brasileira como exemplo mundial de política social bem-sucedida


Lula e Bono discutem "Bolsa Família Mundial" Ricardo Stuckert/Divulgação
Ex-presidente disse que Bono "é uma máquina de produzir ideias" Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que está "muito feliz" com o fato de o cantor Bono Vox, da banda U2, ter escolhido o Bolsa Família como exemplo mundial de programa social bem-sucedido.

— Bono é uma máquina de produzir ideias. Mas o importante é que ele está preocupado em internacionalizar as políticas públicas e sociais do Brasil — afirmou Lula, após se encontrar com o cantor, na capital britânica.

Ao comentar a sugestão de criação de um Bolsa Família Mundial para resolver os problemas sociais do planeta, o ex-presidente disse ao cantor que a ideia é boa, mas é necessário ter cuidado com o cadastro dos beneficiários.

— Se isso não for bem feito, se isso não for sério, não dá certo porque o dinheiro será jogado fora — disse Lula, que esteve em Londres por menos de 24 horas, nesta terça, para uma agenda de compromissos, que contou também com palestra promovida pelo banco BTG Pactual e abertura da exposição Gênesis, do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.


Índia começa a distribuir seu 'Bolsa Família'

Atualizado em  1 de janeiro, 2013 - 12:51 (Brasília) 14:51 GMT 
 
bbc 

Foto: AP
Estudos avaliam que três quartos da população indiana vivem abaixo da linha da pobreza

A Índia lançou um ambicioso plano para o pagamento em dinheiro de subsídios aos mais pobres em 20 distritos, segundo as autoridades.
O ministro das Finanças, P. Chidambaram, disse que o esquema beneficiará mais de 200 mil pessoas inicialmente, e que cobrirá todo o país até o final de 2013.
As autoridades afirmam que a iniciativa, que se assemelha ao Bolsa Família brasileiro, vai trazer os cidadãos mais pobres do país "para o palco principal".
Mas os partidos da oposição acusaram o governo de "subornar os eleitores" antes das eleições gerais de 2014.

O governo planeja desembolsar 3,2 triilhões de rúpias (ou cerca de R$ 120 bilhões), sob o esquema de Transferência Direta de Benefício (DBT, na sigla em inglês).

O esquema significa para os beneficiários dos 29 programas de bem-estar no país - principalmente relacionados a bolsas de estudo - a transferência de valores para contas bancárias ligadas a seus números de identificação únicos em 20 distritos a partir de janeiro.

O programa será estendido para outros 11 distritos a partir de 1º de fevereiro e mais 12 distritos a partir de 1º de março.

'Divisor de águas'

"Este é realmente um divisor de águas na maneira com que nós governamos", Chidambaram disse a jornalistas na segunda-feira, um dia antes do lançamento do programa.

"Esta é uma mudança de jogo. Ele é um divisor de águas na maneira em que o benefício atinge o beneficiário, sem qualquer intermediação por qualquer ser humano", acrescentou.

O ministro das Finanças disse que, nesta fase, o regime não iria cobrir subsídios para alimentos, fertilizantes, diesel e querosene, porque o governo ainda opera com um "grande grau de cautela".

"Vamos olhar para a transferência de todos os subsídios e benefícios através deste esquema, mas temos que fazê-lo lentamente. Nós não vamos apressar em nada e depois descobrir que o sistema não consegue lidar com isso", disse ele.

Sob o esquema, os que vivem abaixo da linha da pobreza receberão entre 30 mil rúpias (cerca de R$ 1.200) e 40.000 rúpias (R$ 1.500) por ano, em vez de cerca de dezenas de programas de bem-estar, incluindo bolsas e pensões.

Funcionários dizem que a iniciativa vai reduzir o desperdício de dinheiro, garantindo que o bem-estar chegue àqueles que mais necessitam.

Analistas, no entanto, dizem que a aplicação do regime pode não ser fácil como apenas 222 milhões de pessoas na Índia matriculadas até agora em um esquema de identidade biométrica. E também porque as famílias mais pobres não têm contas bancárias e muitas aldeias não têm um banco.

As autoridades indianas dizem que cerca de 360 milhões de pessoas atualmente vivem na pobreza. Mas uma estimativa sugere cerca de três quartos de 1,21 bilhão de indianos vivem abaixo da linha da pobreza.

Bolsa Família muda percepção da mulher sobre sua vida

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11/03/2013 11:33

ipea.gov.br

Ideia foi defendida por pesquisadores em evento promovido no Dia Internacional da Mulher

Foto: João Viana
Walquíria Domingues, Unicamp: Bolsa Família tem
função emancipatória

Uma pesquisa avaliou a influência do Bolsa Família (PBF) sobre as mulheres de regiões pobres e concluiu que o programa não apenas melhora a renda das famílias, mas tambéms muda a percepção dessas pessoas sobre a suas próprias vidas.

O estudo foi apresentado por seus autores – a professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Unicamp Walquíria Domingues Leão Rego e o filósofo italiano Alessandro Pinzani, que leciona na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – durante o seminário Mulher e Bolsa Família, realizado, em Brasília, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) no dia Internacional da Mulher (08 de março).

Entre os aspectos levantados no trabalho, os pesquisadores destacaram a função emancipatória do dinheiro do PBF em lugares onde impera o trabalho informal, já que as oportunidades de emprego são quase inexistentes e o Estado é pouco atuante. Walquíria e Alessandro deram o exemplo de uma entrevistada do Piauí, que declarou só ter obtido crédito no comércio após o recebimento do benefício. Isto, segundo os autores, altera o moral das beneficiarias e desperta sentimentos de autoafirmação e determinação.

O debate também teve a participação da professora doutora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Neuma Aguiar. A pesquisadora é responsável por estudos com enfoque nas implicações do Programa Bolsa Família na atual divisão de papéis entre homens e mulheres - tanto na inserção no mercado de trabalho quanto na vida social.

“Não há avanços no sentido de que a gestora compartilhe tarefas de cuidados cotidianos com outros membros da família”, disse Neuma. Entretanto, em suas pesquisas, quase metade das entrevistadas responderam que elas tomam as decisões em casa. Um terço das beneficiárias disse que são os maridos a darem a última palavra.

Abertura
Na abertura do seminário, o chefe de Gabinete da Presidência do Ipea, Sergei Soares, observou que dois temas estão entre os que sempre se destacaram no trabalho do Instituto: “Gênero” e “Desigualdades”. “Abordar a temática da mulher e das transferências de renda em um dia tão importante quanto este é realmente muito especial”, garantiu.

Tatau Godinho, da SPM, falou do valor de um debate que combina o tema da mulher com as políticas sociais de todos os níveis. “O que é importante para nós é trazer a discussão de como as políticas sociais vão além das desigualdades e da pobreza”, falou.

Por fim, a ministra Tereza Campello, do MDS, destacou o trabalho do Ipea para a agenda tanto do MDS quanto da SPM. “Comemorar hoje o 8 de março, dez anos da Secretaria de Políticas para as Mulheres e dez anos do Bolsa Família é emblemático”, comemorou.

Veja a apresentação da Professora Neuma Aguiar "Análise do Programa Bolsa Família desde a Perspectiva de Gênero" - clicar para baixar o pdf

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A ideologia brasileira da mesquinharia


por Juremir Machado da Silva

O mesquinho acha-se moderno, pragmático, altivo, crítico, autônomo e visionário. Acredita que toda forma de proteção social, desde que não seja a empresas, é uma forma de populismo, de paternalismo e de assistencialismo.

A ideologia da mesquinharia usa sempre o mesmo argumento falacioso: não se deve dar o peixe, deve-se ensinar a pescar. Não se deve dar bolsa-família, deve-se dar empregos. Justamente os empregos que nunca foram dados pelos partidos que apoiam. E não foram dados por não existirem. E não existiram por incompetência na sua criação, por falta de um modelo adequado ou por impossibilidade conjuntural ou estrutural de serem gerados.


O mesquinho entende que, se os empregos não existem, os necessitados devem ralar-se. Que fiquem passando fome até que seja possível criá-los.

Nessa lógica, o mesquinho promete o futuro, não se lembra do passado e ignora o presente. Explora sofismas, meias verdades e mentiras inteiras como formas de justificar a sua indiferença pelo sofrimento dos outros. Espalha que o assistencialismo gera preguiça. Faz crer que a maioria das pessoas vai preferir viver com R$ 70 sem trabalhar a viver com R$ 700 trabalhando.

Essa é uma das asneiras mais difundidas por espíritos malignos, gente ruim, ideólogos da maldade, mas, principalmente, mentes toscas. Isso até pode acontecer de maneira marginal, mas jamais, estatisticamente falando, como tendência global. Viver bem, com trabalho, continua sendo mais interessante para a maioria do que viver mal sem trabalho. Salvo quando a alma do indivíduo alquebrado já está saturada e ninguém mais pode lhe incutir esperança, o que ocorre quando o sistema atrofia o gosto pela vida.

A ideologia da mesquinharia é dissimulada, ardilosa, cruel. Prefere gastar em repressão a investir em ajuda social. Todo adepto da ideologia da mesquinharia é um radical, um fundamentalista, um xiita, um extremista, um fanático da ordem dos cemitérios, da asfixia social, do parasitismo absoluto.

O mesquinho passa o dia repetindo chavões como se fossem pilares da modernidade. Acredita, como uma anta, que toda crítica aos excessos do capitalismo é uma defesa do comunismo.Vê em toda ressalva do modo de vida americano, marcado pelo consumismo, uma adesão ao estilo de vida cubano.

O mesquinho tem cérebro de ervilha. Mas não consegue enlatá-las para vender. Gasta o seu tempo no ódio aos demais. É pouco rentável.

As asneiras dos mesquinhos incluem: acreditar que Lula, de fato, se tornou milionário, ou bilionário, e que a revista Forbes publicou uma capa com ele como um dos homens mais ricos do mundo; crer que destacar os aspectos positivos das cotas, do bolsa-família, do ProUni e de outras políticas assistenciais dos governos do PT, é ser petista; difundir a ideia de que nunca houve tanta corrupção no Brasil, como se a corrupção atual, enorme e condenável, não fosse a mesma de antes; acreditar que a meritocracia realmente seleciona os melhores num sistema de desigualdade na competição e não que serve de mecanismo de reprodução dessa desigualdade.

Enfim, melhor não ser muito sofisticado na análise para não confundir as mentalidades mesquinhas mais lentas e pesadas.

Usina de ódio, de ressentimento e de rancor, o mesquinho odeia as ruas engarrafadas por causa do acesso dos pobres aos automóveis; odeia os aeroportos cheios por causa das viagens da classe C; odeia as universidades “rebaixadas” pela entrada dos que deveriam fazer cursos técnicos; odeia esses pobres que votam com o estômago; entende que só os ricos podem votar com os bolsos; vê como a modernidade a permanência dos pobres na pobreza, à espera dos empregos do futuro, e uma elite desfrutando da climatização. São os mesmos que se venderam aos Estados Unidos, em 1964, para evitar as reformas de base: reforma da educação, agrária, bancária, tributária, etc.

O Brasil corria um sério risco: poderia ficar melhor para a maioria.

A ideologia da mesquinharia deu o golpe para salvar-nos da melhoria.

Atrasou o país em mais de 20 anos.

Continua a cantar o refrão: o perigo comunista.

São fantasmas de opereta.

O comunismo acabou.

Falta construir um capitalismo muito melhor.

Uma verdadeira social-democracia.

Para isso, será preciso ensinar geografia aos mesquinhos.

Falar-lhe dos países escandinavos, etc.

O mesquinho adora Estado mínimo em economia e Estado máximo em moral. Gostar de meter-se na vida alheia para domesticá-la como seu moralismo.

Todo mesquinho é um moralista de ceroula.

http://saraiva13.blogspot.com.br/2013/04/a-ideologia-da-mesquinharia.html

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A seca e o Bolsa Família



unisinos

"A atual seca no Nordeste brasileiro apresenta uma intensidade equivalente à que ocorreu entre 1982 e 1984. Há 30 anos não acontecia uma seca com tal amplitude no semiárido", constata Evaristo Eduardo de Miranda, agrônomo, doutor em Ecologia e pesquisador da Embrapa, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 30-03-2013.

Segundo ele, "o crescimento da renda e da organização dos produtores permite imaginar novos cenários para a redução da pobreza rural no sertão. Está demonstrado: a renda rural depende muito mais de tecnologia do que da terra. O futuro está na incorporação de novas técnicas agrícolas e na inserção dos agricultores em cadeias produtivas rentáveis, como ocorreu em quase todo o Brasil".

E o agrônomo conclui: "Como diziam os cangaceiros, o futuro fica em cima do futuro, e não embaixo do passado".


Eis o artigo.
A atual seca no Nordeste brasileiro apresenta uma intensidade equivalente à que ocorreu entre 1982 e 1984. Há 30 anos não acontecia uma seca com tal amplitude no semiárido.

Eu morei na cidade pernambucana de Petrolina e trabalhei como pesquisador em todo o sertão, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre 1980 e 1988. Vivi de perto a dura realidade dos períodos de seca. Agora, contudo, uma combinação virtuosa de diversas ações sociais está obtendo um resultado inédito na proteção dos mais pobres diante dos impactos de dois anos de estiagem.

Mais de 10 milhões de pessoas, em cerca de 1.300 municípios, estão atingidas pela seca. Ao contrário do que ocorria no passado, não houve ondas de saques, nem deslocamentos de flagelados, nem a organização de frentes de trabalho pelo governo, nem a invasão de cidades ou ataques a armazéns em busca de comida. Não existem campanhas na televisão para arrecadar alimentos para as vítimas da estiagem. Antes tudo isso se passava, até mesmo em secas de menor intensidade. Cerca de 1,2 milhão de pessoas foram alistadas em frentes de trabalho em 1999! Hoje, não. Por quê?

O Programa Bolsa Família está garantindo a alimentação de quase todas as famílias no semiárido nordestino. Com esses recursos financeiros as pessoas adquirem alimentos básicos no comércio local. E há uma sinergia com outros programas, como a construção de mais meio milhão de cisternas entre 2003 e 2013.

Essas cisternas vieram somar-se ao programa inicial de implantação de cisternas rurais da Cáritas Brasileira e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A água das chuvas é recolhida nos telhados das construções, passa por um filtro e é armazenada numa cisterna de alvenaria, protegida da contaminação e da luz. Essa água de qualidade fica disponível para o uso das famílias, ao lado da casa.

O fornecimento de água de qualidade à população rural e nas pequenas cidades foi ampliado pelo Programa Água para Todos e pelas interligações de adutoras. E é complementado, ainda, por outras ações, como a Bolsa Estiagem, o crédito emergencial, os leilões de milho, a recuperação de poços, a consolidação de polos de irrigação e as ações estruturantes (construção de adutoras e novos sistemas de abastecimento de água).

Existe um Comitê Integrado de Combate à Seca. A coordenação do emprego de carros-pipa para fornecer água para o consumo humano não é local, é do Exército Brasileiro. Os carros-pipa ganharam eficiência, porque enchem cisternas, e não apenas latões. A cisterna torna-se uma reserva de água, inclusive para os vizinhos. Mais de 400 mil cisternas estão cadastradas e georreferenciadas, o que aprimora o seu uso e a implantação de novos equipamentos. São mais de 4 mil caminhões mobilizados na distribuição de água, embora eles ainda só atendam 50% dos municípios em risco climático.

Entre 2001 e 2011, a renda na Região Nordeste cresceu 73%, enquanto na Região Sudeste a taxa foi de 46%. O aumento da renda e da segurança alimentar no semiárido nordestino é um fato novo, aliado à redução da incidência de enfermidades, graças ao acesso à água potável e ao trabalho da Pastoral da Criança. Situações seculares de dominação estão sendo rompidas e poucos avaliam o alcance social e político deste novo cenário.

Hoje em dia, quem mais sofre com a estiagem são os rebanhos, sobretudo os dos médios e grandes produtores. Reportagens televisivas e jornais mostram o gado morrendo e o prejuízo de agricultores, em geral, bem alimentados.

Forragem não se compra em supermercado, como arroz e feijão, com os recursos de programas sociais. Medidas emergenciais como distribuir milho e cana-de-açúcar para forragem são caras e difíceis de realizar. Não há como atender milhões de agricultores espalhados por centenas de milhares de quilômetros quadrados. A solução está na mudança progressiva dos atuais sistemas de criação de animais.

Como no inverno em países temperados, o período seco exige a formação de estoques de forragem sob a forma de feno, silagem ou em áreas preservadas do acesso animal. A Embrapa, as universidades e os sistemas estaduais de pesquisa desenvolveram diversas alternativas para garantir ou complementar a alimentação dos rebanhos no período seco.

Existem plantas forrageiras resistentes à seca, tecnologias e suplementos para ampliar a digestibilidade do material seco consumido pelos rebanhos e diversas alternativas com árvores e arbustos forrageiros, nativos e exóticos. Alguns produtores já utilizam essas técnicas. Sua adoção mais ampla, no entanto, depende de uma política eficaz de inclusão produtiva, de difusão tecnológica e de assistência técnica, atualmente inexistente.

A cisterna rural, mesmo no pior ano de seca, consegue armazenar água suficiente para as necessidades das famílias. Da mesma forma, outras tecnologias da pesquisa agropecuária podem garantir água para os animais. E até para as culturas, por meio da chamada irrigação de salvação e da cisterna calçadão, por exemplo. Está na hora de inovar em matéria de tecnologia agrícola no semiárido. E também de repensar o sistema de assistência técnica aos produtores rurais.

O crescimento da renda e da organização dos produtores permite imaginar novos cenários para a redução da pobreza rural no sertão. Está demonstrado: a renda rural depende muito mais de tecnologia do que da terra. O futuro está na incorporação de novas técnicas agrícolas e na inserção dos agricultores em cadeias produtivas rentáveis, como ocorreu em quase todo o Brasil.

Como diziam os cangaceiros, o futuro fica em cima do futuro, e não embaixo do passado.

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