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segunda-feira, 25 de março de 2013

O Instituto Millenium, suas “aulas” de jornalismo e as lembranças

limpinho e cheiroso

Kamel, da Globo, e Serra durante debate eleitoral: mídia conservadora perdeu no campo democrático.

Organização que une empresários, imprensa e oposição ao governo lembra cenário do golpe de 1964. Seu poder de propagar intrigas e más notícias, porém, não tem sido capaz de superar a solidez e os resultados do projeto político em vigor.

Laurindo Lalo Leal Filho, via Revista Brasil Atual

O economista Cristiano Costa foi recebido em fevereiro pelo pessoal do Grupo A Tarde, em Salvador. A companhia de comunicação, que tem provedor e portal na internet, agência de notícias, jornal impresso, emissora de FM, gráfica, reuniu seus profissionais para servirem-se de uma palestra da série “Millenium nas Redações”. Blogueiro e professor de uma universidade capixaba chamada Fucape Business School, Costa é também colaborador cativo do Instituto Millenium, articulador desses eventos destinados a “aprimorar a qualidade da imprensa no Brasil”.

A base de sua explanação são seus artigos reproduzidos no site do instituto, em que critica duramente a política econômica do governo e ataca sem rodeios o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em um deles, cita o programa Minha Casa, Minha Vida como um dos responsáveis por inflacionar o setor imobiliário. Isso num ambiente em que até os preços de imóveis de alto padrão dispararam. As pessoas estão mais seguras no emprego e foram comprar, a queda dos juros levou mais gente a ter acesso a crédito, ou mais gente a tirar dinheiro de aplicações financeiras para investir em imóveis. Há muitos fatores em jogo, mas lá vai o programa federal destinado a famílias de baixa renda pagar o pato da especulação.

Outras redações de jornais e revistas foram “brindadas” pelo Millenium com palestras sobre assuntos variados, da reforma do Judiciário à assustadora “crise econômica”. O currículo dos palestrantes, colaboradores do instituto, explica o objetivo real das palestras: consolidar no meio jornalístico o papel oposicionista da mídia brasileira.

Há algum tempo os ambientes de redação eram conhecidos por ter profissionais críticos, independentes, e o direcionamento da informação era resultado da sintonia dos editores com os donos dos veículos. Não era incomum a conclusão do jornal ou da revista acabar em atrito entre repórter e superiores. Agora, os donos dos veículos preferem formar “focas” que já cheguem às redações comprometidos com suas crenças.

Essas crenças, recheadas de interesses políticos e econômicos, vêm sendo difundidas de maneira afinada pelos meios de comunicação reunidos no Millenium. Resultado concreto desse trabalho pôde ser visto neste início de ano. Três assuntos, alardeados como ameaças ao País, ocuparam as manchetes dos grandes jornais e foram amplificados pelo rádio e pela tevê: apagão, inflação e crise na Petrobras.

Além do noticiário parcial, analistas emitiam previsões catastróficas. Como elas não se confirmavam, o assunto era esquecido e logo substituído por outro. Em 8 de janeiro, o jornal O Estado de S.Paulo estampou na capa: “Governo já vê risco de racionamento de energia”. Um dia antes a colunista da Folha de S.Paulo Eliane Cantanhêde chamava uma reunião ordinária, agendada desde dezembro, de “reunião de emergência” do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico convocada às pressas por Dilma para tratar do risco de racionamento. Diante da constatação de que a reunião nada tinha de extraordinária, a Folha publicou uma acanhada correção. Como de costume, o tema foi sendo lentamente deixado de lado. O risco do “racionamento” desapareceu.

Pularam para o “descontrole” da política econômica e a ameaça de um novo surto inflacionário. “Especialistas” tentavam, a partir dos índices de janeiro, projetar uma inflação futura capaz de desestabilizar a economia. Aproveitavam para crucificar o ministro Mantega, artífice de uma política que contraria interesses dos rentistas nacionais e internacionais: a redução dos juros bancários está na raiz da gritaria.

Não satisfeitos, colocaram a Petrobras na roda, responsabilizando a “incapacidade administrativa” dos dirigentes da empresa pela redução dos dividendos pagos aos acionistas. Sem considerar que, dentro da estratégia atual de ação da Petrobras, os recursos de parte dos dividendos retidos passaram a contribuir para o desenvolvimento do país na forma de novos investimentos.


Variações de uma nota só
Aparentemente isoladas, essas versões jornalísticas são, na verdade, articuladas a partir de ideias comuns que permeiam as pautas dos principais veículos. No site do Instituto Millenium elas estão organizadas e publicadas de maneira clara. O Millenium diz ter como valores “liberdade individual, propriedade privada, meritocracia, Estado de direito, economia de mercado, democracia representativa, responsabilidade individual, eficiência e transparência”. Faz lembrar a ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, que chegou a dizer que só o indivíduo existe, a sociedade é ficção.

Fundado em 2005, o Millenium foi oficialmente lançado em abril de 2006 com o apoio de grandes empresas e entidades patronais lideradas pela Editora Abril e pelo Grupo Gerdau. Trata-se de uma liderança significativa, pois reúne uma empresa propagadora de ideias e valores e outra produtora de aços, base de grande parte da economia material do País. A elas juntam-se a locadora de veículos Localiza, a petroleira norueguesa Statoil, a companhia de papel Suzano, o Grupo Estado e a RBS, conglomerado de mídia que opera no sul do Brasil. A Rede Globo, como pessoa jurídica, não aparece na lista, mas um de seus donos, João Roberto Marinho, colabora.

Essa integração entre empresas de mídia e empresários faz do Millenium uma organização capaz de formular e difundir programas de ação política em larga escala, com maior capacidade de convencimento do que muitos partidos políticos. Com a oposição partidária ao governo enfraquecida, ocupa esse espaço com desenvoltura.

Apesar do apego declarado à democracia, alguns dos colaboradores não escondem o desejo de combater o governo de qualquer forma. É o que está explícito na fala de outro de seus colaboradores, o articulista Arnaldo Jabor, quando num dos eventos promovidos pelo instituto disse: “A questão é: como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo?”

Essa articulação faz lembrar a de organismos privados como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), fundado em 1959, e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), nascido em 1961. Ambos uniram empresários e mídia conservadora na formulação e divulgação de ideias que impulsionaram o golpe de 1964.

“Ipes e Ibad não eram apenas instituições que organizaram uma grande conspiração para depor um governo legítimo. Elaboraram um projeto de classe. O golpe foi seguido por uma série de reformas no Estado para favorecer o grande capital”, lembra o pesquisador Damian Bezerra de Melo, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

No cenário atual, de decadência do modelo neoliberal e de consolidação de políticas desenvolvimentistas no Brasil, o Millenium seria um instrumento ideológico para dar combate a esse processo transformador. “Nos anos de 1990 ocorreu a disseminação da ideologia do pensamento único, de que o capitalismo triunfou, o socialismo deixou de existir como projeto político”, lembra a historiadora Carla Luciana da Silva, da Universidade do Oeste do Paraná.

“Quando surgem experiências concretas que podem desafiar essas ideias, aparece em sua defesa uma organização como o Millenium 
para manter vivo o ideal do pensamento único.”

Memórias de um golpista: Lincoln Gordon com o general Castelo Branco. A CIA patrocinou a ação de 1964.

A difusão dessas ideias não é feita por meio de manifestos ou programas partidários, como observa a pesquisadora. “É muito difícil pegar uma revista como a Veja ou um jornal como a Folha de S.Paulo e conseguir visualizar os sujeitos que estão produzindo as ideias defendidas ali. Cria-se uma imagem do tipo ‘a’ Folha, ‘a’ Veja, como se fossem sujeitos com vida própria. É uma forma de não deixar claro em nome de que projeto falam, como se falassem em nome de todos.”

Contra as versões, fatos
Conhecendo as ações do instituto e seus personagens fica mais fácil compreender como certos assuntos tornam-se destaque de uma hora para outra. A presença nos quadros do instituto de jornalistas e “especialistas” com acesso fácil aos grandes meios de comunicação leva suas “notícias” rapidamente ao centro do debate nacional. E fica difícil contra-argumentar com colaboradores do Millenium, não pela qualidade de seus argumentos, mas pela força de persuasão dos veículos pelos quais difundem suas ideias.

Como retrucar, com igual alcance, comentários de Carlos Alberto Sardenberg, na CBN, de Ricardo Amorim, na IstoÉ, na rádio Eldorado e no programa Manhattan Connection, da GloboNews, de José Nêumanne Pinto, no Estadão e no Jornal do SBT, de Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, entre tantos outros?

Não é mera coincidência a preferência dos integrantes do Millenium pela subordinação do Brasil aos grandes centros financeiros internacionais e sua ojeriza diante das relações harmônicas entre governos latino-americanos. Trata-se de uma tentativa de ressuscitar um projeto político implementado durante a ditadura que só passou a ser confrontado, ainda que parcialmente, a partir de 2003, com a posse do governo Lula.

Mas parece não haver espaço para uma hipótese golpista, apesar do já citado dilema de Jabor. Para a professora Tânia Almeida, da Unisinos de São Leopoldo (RS) e diretora de relações públicas da Secretaria de Comunicação do Rio Grande do Sul, um dos ganhos da crise política de 2005, com a questão do chamado “mensalão”, foi ter forçado análises e estudos em busca de explicações de como o então presidente Lula conseguiu suportar tanta notícia negativa e manter elevados índices de aprovação.

“Não era só carisma. Desde 2003, havia uma gestão de governo em funcionamento. Não existia somente aquilo de que os jornais e revistas tratavam, não era só escândalo. Outra proposta política estava acontecendo”, observa Tânia. Para a professora, os avanços sociais alcançados não permitem crer em crise que leve a uma ruptura institucional. “O Millenium é um agente articulador, social, político, que pode fomentar e aquecer debates, mas não teria potencial para causar uma crise nos moldes de 1964. O poder de influência da mídia ficou relativizado desde 2006 em função dessa política que chega lá na ponta e inclui quem estava fora.”

Damian Melo, da UFF, tem visão semelhante, mas com um pé atrás: “O Millenium não possui hoje estratégia golpista. Quer emplacar seu projeto, e isso pode ser pela via eleitoral mesmo. Muito embora nossa experiência nos diga que é melhor ficarmos atentos.”

Colaborou Rodrigo Gomes
***


O Ibad como modelo
Mauro Santayana
O Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) foi a mais descarada forma de intervenção norte-americana no processo político brasileiro, mas não a primeira. No governo Dutra (1946–1951), o grande desembarque econômico norte-americano no Brasil, os ianques agiam com desenvoltura na vida brasileira.
 Nessa fase, denominada pelo historiador Gerald K. Haines como “americanização do Brasil”, editoriais dos grandes matutinos cariocas chegaram a ser redigidos na embaixada dos Estados Unidos.

O Ibad nasceu da esperteza de um negocista, Ivan Hasslocher. Ele criou a agência de publicidade Incrementadora de Vendas Promotion para servir como operadora do sistema e levantou milhões de dólares da CIA e de empresas norte-americanas, a fim de eleger parlamentares de direita – já no fim do governo Juscelino, em 1959. Após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, passou a atuar descaradamente.

Clandestinamente, o instituto financiou, com a cumplicidade do deputado de extrema-direita João Mendes, a formação de sua própria bancada de parlamentares comprometidos com sua orientação ideológica. O embaixador norte-americano no Brasil naquele período, Lincoln Gordon, confessou, depois, que a CIA fora a principal fonte pagadora de Hasslocher.

Uma CPI foi instalada em 1963 para investigar o instituto, mas não pôde ir adiante. Seus membros mais ativos – Eloy Dutra, José Aparecido de Oliveira, João Dória, Benedito Cerqueira e Bocaiuva Cunha – foram cassados em 1964. Outro membro ativo, Rubens Paiva, seria assassinado pelo DOI-Codi em 1971.
Jango foi corajoso ao suspender as atividades do Ibad duas vezes, por 90 dias, até que a Justiça mandou fechar a instituição. Mas já era tarde. Hasslocher e seus assalariados continuaram a atuar clandestinamente, em associação com o Ipes. O Ibad tinha também em sua folha de pagamentos jornalistas, sem falar na adesão “gratuita” dos donos dos grandes jornais – com exceção do Última Hora.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Leandro e a Carta pegam a Veja. O Temer e a Globo deixam ?



Publicado em 10/08/2012

Na CartaCapital dessa semana há uma história dentro de uma história.


O Conversa Afiada republica texto de Leandro Fortes sobre a reportagem que escreveu esta semana para a Carta Capital.

Não deixe de ler também sobre os documentos publicados num post sobre o “Caneta”, o Policarpo.

O TRISTE FIM DE POLICARPO JR.



Por Leandro Fortes

Na CartaCapital dessa semana há uma história dentro de uma história. A história da capa é o desfecho de uma tragédia jornalística anunciada desde que a Editora Abril decidiu, após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, que a revista Veja seria transformada num panfleto ideológico da extrema-direita brasileira. Abandonado o jornalismo, sobreveio a dedicação quase que exclusiva ao banditismo e ao exercício semanal de desonestidade intelectual. O resultado é o que se lê, agora, em CartaCapital: Veja era um dos pilares do esquema criminoso de Carlinhos Cachoeira. O outro era o ex-senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Sem a semanal da Abril, não haveria Cachoeira. Sem Cachoeira, não haveria essa formidável máquina de assassinar reputações recheada de publicidade, inclusive oficial.

A outra história é a de um jornalista, Policarpo Jr., que abandonou uma carreira de bom repórter para se subordinar ao que talvez tenha imaginado ser uma carreira brilhante na empresa onde foi praticamente criado. Ao se subordinar a Carlinhos Cachoeira, muitas vezes de forma incompreensível para um profissional de larga experiência, Policarpo criou na sucursal da Veja, em Brasília, um núcleo experimental do que pior se pode fazer no jornalismo. Em certo momento, instigou um jovem repórter, um garoto de apenas 23 anos, a invadir o quarto do ex-ministro José Dirceu, no Hotel Nahoum, na capital federal. Esse ato de irresponsabilidade e vandalismo, ainda obscuro no campo das intenções, foi a primeira exalação de mau cheiro desse esgoto transformado em rotina, perceptível até mesmo para quem, em nome das próprias convicções políticas, mantém-se fiel à Veja, como quem se agarra a um tronco podre na esperança de não naufragar.

A compilação e análise dos dados produzidos pela Polícia Federal em duas operações – Vegas, em 2009, e Monte Carlos, em 2012 – demonstram, agora, a seriedade dessa autodesconstrução midiática centrada na Veja, mas seguida em muitos níveis pelo resto da chamada “grande” imprensa brasileira, notadamente as Organizações Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e alguns substratos regionais de menor monta. Ao se colocar, veladamente, como grupo de ação partidária de oposição, esse setor da mídia contaminou a própria estrutura de produção de notícias, gerou uma miríade de colunistas-papagaios, a repetir as frases que lhes são sopradas dos aquários das redações, e talvez tenha provocado um dano geracional de longo prazo, a consequência mais triste: o péssimo exemplo aos novos repórteres de que jornalismo é um vale tudo, a arte da bajulação calculada, um ofício servil e de remuneração vinculada aos interesses do patrão.

A Operação Vegas, vale lembrar, foi escondida pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel, este mesmo que por ora acusa mensaleiros no STF com base em uma denúncia basicamente moldada sobre os clichês da mídia, em especial, desta Veja sobre a qual sabemos, agora, que tipo de fontes frequentava. Na Vegas, a PF havia detecdado não somente a participação de Demóstenes Torres na quadrilha, mas também de Policarpo Jr. e da Veja. Essa informação abre uma nova perspectiva a ser explorada pela CPI do Cachoeira, resta saber se vai haver coragem para tal.

Há três meses, representantes das Organizações Globo e da Editora Abril fecharam um sórdido armistício com Michel Temer, vice-presidente da República e cacique-mor do PMDB. Pelo acordo, o noticiário daria um descanso para Dilma Rousseff em troca de jamais, em hipótese alguma, a CPI do Cachoeira convocar Policarpo Jr., ou gente maior, como Roberto Civita, dono da Abril. A fachada para essa negociata foi, como de costume, as bandeiras das liberdades de imprensa e de expressão, dois conceitos deliberadamente manipulados pela mídia para que não se compreenda nem um nem outro.

No dia 14 de agosto, terça-feira que vem, o deputado Dr. Rosinha irá ao plenário da CPI apresentar um requerimento de convocação do jornalista Policarpo Jr.. É possível, no mundo irrreal criado pela mídia e onde vivem nossos piores parlamentares, que o requerimento caia, justamente, por conta do bloqueio do PMDB e dos votos dessa oposição undenista sem qualquer compromisso com a moral nem o interesse público.

Será uma chance de ouro de todos nós percebermos, enfim, quem é quem naquela comissão.

No mais, CartaCapital, já nas bancas.

E, definitivamente, nem veja as outras.

http://www.conversaafiada.com.br/pig/2012/08/10/leandro-e-a-carta-pegam-a-veja-o-temer-e-a-globo-deixam/

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

“Liberdade de expressão só é garantida para quem tem dinheiro”, reclama criador do blog Falha de S.Paulo

unisinos

18 dezembro de 2012

Com liminar que prevê multa diária de R$ 1.000, o blog Falha de S.Paulo segue fora do ar e sem veicular conteúdo. Em conversa com o Comunique-se, o idealizador da página que satiriza o jornal a Folha de S.Paulo, diz que, no país, a liberdade de expressão não é garantida para todos. "A censura é proibida em tese, mas, na prática, ela só é garantida para quem tem dinheiro".

A reportagem é de Nathália Carvalho e publicada no portal Comunique-se, 14-12-2012.

O assunto voltou a ser debatido quando, nessa quinta-feira, 13, a situação foi apresentada ao relator especial da ONU para a Liberdade de Expressão, Frank la Rue. Na ocasião, Lino conta que o representante não entendeu os motivos de o jornal ter aberto o processo e afirmou que "o humor incomoda mais do que a crítica".

Há dois anos, a página que parodiava o veículo foi tirada do ar, pois a Folha alegou que os autores usavam logo, fontes, conteúdo e fotos que caracterizavam o projeto gráfico do impresso. Para Lino, a questão não foi bem essa. "Criamos a página para criticar a postura da Folha, que se diz apartidária, mas faz jornalismo partidário. Eles têm preferências políticas muito claras. Não acho isso ruim. O errado é ser hipócrita falando que é imparcial", argumentou.

De acordo com as informações, o relator vai analisar os documentos entregues por Lino a ele e, provavelmente, se pronunciar sobre o assunto. Uma das ideias do criador do Falha com esta ação é que os veículos convencionais abordem o tema em pautas. "Ninguém fala sobre o assunto porque existe muito corporativismo nas redações", diz. A reportagem procurou o jurídico da Folha, mas ainda não teve retorno. A previsão é que o processo seja julgado no próximo ano.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

TV Globo e os terroristas do campo

domingo, 16 de dezembro de 2012

Por Altamiro Borges

Em outubro de 2009, integrantes do MST ocuparam uma fazenda grilada pela empresa Cutrale no município de Iaras (SP). Revoltados com a lentidão da reforma agrária, ativistas destruíram pés de laranja com tratores. Apesar da direção do movimento ter criticado a iniciativa, a cena foi superexplorada pela mídia ruralista.


A TV Globo, já em campanha para a sucessão de 2010, reproduziu o vídeo inúmeras vezes. Ontem, porém, ela silenciou sobre uma ação terrorista dos ruralistas em terras indígenas no Mato Grosso.

Segundo relato dos jornalistas Daniel Carvalho e Juca Varella, na Folha deste domingo, os fazendeiros que invadiram ilegalmente terras dos índios xavantes Marãiwatsédé, na cidade Alto da Boa Vista (MT), utilizaram métodos terroristas para sabotar ontem uma ação de despejo liderada por agentes do Incra e da Polícia Federal. “Eles usam táticas de guerrilha contra forças federais para tentar impedir despejo, queimam ponte, bloqueiam estrada e armam um ataque frustrado”. A emboscada poderia até ter causado mortes.

Emboscada e coquetéis molotov

Os grileiros chegaram a fabricar coquetéis molotov. “Quem está com bomba fica desse lado. Quem não está fica desse outro”, dizia um deles, de cima de uma caminhonete. “Era uma emboscada para os agentes de segurança. A ideia era atacá-los e depois tocar fogo ao caminhão com a mudança, em protesto. Um produtor da região, de cerca de 60 anos, puxou conversa com os jornalistas. Em tom jocoso, questionou se o repórter não estaria disposto a ‘pegar umas pedras’ e se juntar aos manifestantes”, descrevem os repórteres.

Ainda segundo os jornalistas, “a tensão ia aumentando. Uns, mais preocupados, diziam: ‘Dessa vez não vai ser bala de borracha’. Um homem retrucou: ‘Mas aqui também tem [bala de verdade]’. De repente, as luzes se apagaram. A escuridão era quebrada apenas pelos faróis do comboio de 20 carros de polícia que se aproximava. Um grupo de quatro manifestantes se aproximou do primeiro carro, de onde saíram quatro soldados armados. ‘Nem mais um passo, senão a gente atira’, gritou um soldado da Força Nacional”.

A seletividade da mídia ruralista

“O barril de pólvora que se armou na região não havia explodido até a conclusão desta reportagem, mas a disposição de quem está em Posto da Mata deixava claro que pode ser apenas uma questão de tempo. ‘Vai morrer homem, mulher. Estou disposto a morrer pelo que tenho’, dizia Odemir Perez”. A invasão da reserva dos Marãiwatsédé foi planejada por ricaços ruralistas, que alistaram pequenos produtores e contam com o apoio de políticos da direita. Dom Pedro Casaldáliga há muito denuncia o clima de tensão na região.

O conflito, porém, nunca foi destaque na mídia ruralista. Quando da ocupação da fazenda grilada da Cutrale em 2009, jornais, revistas e emissoras de tevê fizeram um baita escândalo. Eles ajudaram a criar o clima para a instalação da CPI do MST, visando criminalizar o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra. Agora, a mídia nada fala sobre a ação terrorista dos ruralistas no Mato Grosso. Nem sequer um vídeo no Jornal Nacional da TV Globo. E ainda tem gente que acredita na neutralidade da imprensa burguesa!

Postado por Miro às 23:58
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/12/tv-globo-e-os-terroristas-do-campo.html

sábado, 15 de dezembro de 2012

Gilmar investe contra Wikipédia e "blogs sujos"

brasil247


6 de Agosto de 2012 às 12:49

 Ministro do STF pediu à Polícia Federal abertura de inquérito contra a enciclopédia virtual, que incluiu no seu verbete dados de reportagens da revista Carta Capital; Gilmar Mendes também pretende proibir anúncios de estatais em sites que o criticam, como os de Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif

247 – O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, acaba de comprar uma briga que ainda vai dar muito pano pra manga. Segundo informa o blog do jornalista João Bosco Rabello, do Estado de S. Paulo, ele pediu à Polícia Federal que abra investigação contra a Wikipédia, enciclopédia virtual, feita de forma colaborativa, que produziu um verbete a seu respeito.

Nele, Gilmar é tratado de forma predominantemente respeitosa (leia aqui o perfil completo), mas a Wikipédia também incluiu dados de reportagens que o criticam, especialmente de Carta Capital. Leia abaixo:


Denúncias veiculadas na Carta Capital
Em matéria de 2012, Carta Capital veiculou diversas denúncias contra Gilmar Mendes.[63] Nela, Mendes é acusado de 
sonegação fiscal[64], 
de ter viajado em aviões cedidos pelo ex-senador Demóstenes Torres,[65][66] 
de intervir em julgamentos em favor de José Serra.[67][68][69], 
de nepotismo,[70] 
e testemunho falso ao relatar uma suposta chantagem do ex-presidente Lula para que adiasse o processo do Mensalão para depois das eleições municipais de 2012.[71][72] 
A revista repercute acusações de certos movimentos sociais[quem?] dele ser o "líder da oposição", de estar destruindo o judiciário e de servir a interesses de grandes proprietários. Mendes porém volta à afirmar não ser o líder da oposição.[73]

No dia 31 de maio de 2012, o PSOL protocolou uma representação na Procuradoria Geral da República contra o ministro Gilmar Mendes questionando a conduta do magistrado em relação às denúncias de que teria sofrido pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para adiar o julgamento do mensalão.[74] A representação se encontra em curso.

Em setembro de 2010, a reportagem da Folha de S. Paulo presenciou uma ligação de José Serra para Gilmar Mendes.[67] Segundo o jornal, José Serra teria ligado para Gilmar Mendes para pedir o adiamento de uma votação sobre a obrigatoriedade de dois documentos para votar (julgamento de ADI pedida pelo PT).[67] Gilmar Mendes foi acusado de nepotismo por[quem?]. Em março de 2012, a Folha de S. Paulo revelou que a enteada do ministro Gilmar Mendes é assessora do senador Demóstenes Torres. Segundo a Folha, especialistas afirmaram que o caso poderia ser discutido no âmbito da regra antinepotismo porque súmula do STF impede a nomeação para cargos de confiança de parentes de autoridades dentro da "mesma pessoa jurídica".[75]

Em uma conversa entre o senador Demóstenes Torres e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, gravada pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo, o parlamentar afirma a Cachoeira ter obtido favores junto ao ministro Gilmar Mendes para levar ao STF uma ação envolvendo a Companhia Energética de Goiás (Celg).[76] Considerada a "caixa preta" do governo de Minas, a Celg estava imersa em dívidas que somavam cerca de R$ 6 bilhões.[76] Segundo reportagem do Estadão, Demóstenes disse a Cachoeira que Gilmar Mendes conseguiria abater cerca de metade do valor com uma decisão judicial, tendo "trabalhado ao lado do ministro para consegui-lo".[77] 

O ministro Gilmar Mendes também foi acusado por Carta Maior - O portal da esquerda de ter relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira e seu amigo Demóstenes Torres. O ministro porém negou ter viajado em avião de Cachoeira e apresentou documentos que, segundo ele mesmo, desmentem tais acusações.[78]

O ministro foi acusado em abril de 2011 pelo seu ex-sócio e ex-procurador-geral da República Inocêncio Mártires Coelho por desfalque e sonegação fiscal. Mendes recebeu, a seu favor, um parecer assinado pelo advogado-Geral da União, Luís Inácio Adams, o qual valida o despejo de Mártires Coelho do cargo de gestor do IDP. O denunciante deu o processo por encerrado em troca da quantia de R$ 8 milhões.[79]

Paulo Lacerda, ex-diretor da Policia Federal e da Abin, envolvido no escândalo dos grampos da Operação Satiagraha, foi acusado por Gilmar Mendes de estar "assessorando" o ex-presidenteLula. Lacerda acusou, em retorno, Mendes de mentir e dizer leviandades.[80] A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) manifestou solidariedade a Paulo Lacerda.[8]


Em razão da crítica, Mendes pediu a investigação. Segundo ele, o verbete de uma enciclopédia deve ter caráter informativo – e não ideológico.

Paralelamente, o ministro do STF também pedirá ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que investigue os valores dos patrocínios de empresas estatais aos chamados “blogs sujos”. Seus principais alvos são os sites dos jornalistas Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif, que, segundo ele, atacam as instituições democráticas – e o veto, segundo ele, não fere a liberdade de expressão.

É uma guerra inglória, que poderá transformar o ministro do STF em alvo constante da blogosfera.

Distorções e manipulação na cobertura da Folha de S.Paulo


Observatório da Imprensa

Por Beatriz Mayara Bevilaqua

A remoção forçada dos moradores da Comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos, resultou em denúncias de abuso de autoridade no local e violação de direitos humanos. Além disso, houve um claro cerceamento à liberdade de imprensa, ocorrido quando não foi permitido o livre acesso ao local.

A reintegração teve início na madrugada do dia 22 de janeiro de 2012. Foram empregados mais de 220 viaturas, 40 cães, 100 cavalos e 300 agentes da prefeitura local para apoio psicológico e social da população. A Comunidade estava localizada na zona sul da cidade de São José dos Campos. O município pertence ao estado de São Paulo, mesorregião do Vale do Paraíba e fica a 94 km da capital paulista.

A desocupação no Pinheirinho é um exemplo de tentativa de criminalização das periferias pela imprensa, com reflexo na opinião pública. Trata-se de um assunto de relevância para a compreensão de um dos maiores massacres ocorridos na região do Vale do Paraíba.


A Comunidade
De acordo com os dados de pesquisa de Andrade (2010, p.73) a data de fundação de Pinheirinho é de 25 de fevereiro de 2004. Inicialmente havia aproximadamente 240 famílias e até 2010 o acampamento ficou oito vezes maior. O terreno pertence a uma massa falida da Selecta S/A, que tem como proprietário o investidor Naji Nahas conhecido nacionalmente por irregularidades praticadas no mercado financeiro.

Segundo relatório do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe – São Paulo) em 2012 já havia mais de 1.500 famílias morando no bairro. Durante todo o período em que a população viveu em Pinheirinho esta conheceu várias formas de preconceitos por parte do setor público municipal. Andrade (2010, p. 76) cita em sua dissertação de mestrado, realizada entre os anos 2008 e 2010, depoimentos de algumas moradoras da

Comunidade:
Pergunta: Qual a diferença de morar aqui e de morar lá fora?
“[...] se não tiver médico num lugar, a gente não pode ir num outro postinho. Nos outros bairros também já não aceitavam o Pinheirinho, quer dizer, tipo assim, uma discriminação, né? A gente sofre este tipo de coisa. [...] E os lugares que a gente vai as pessoas falam: ‘Por que você usa luz assim?’ ‘Por que você usa água assim?’ ‘Por que você está lá naquela terra?’ Eles não entendem a situação da gente” [Cláudia].

Meus filhos estudam em escola do Estado, porque na da prefeitura não pega. [...] Eles alegam que a gente não tem uma conta de luz, uma conta de água ou de telefone. [Juliana]

Pergunta: Nos postinhos tem problema?
“Eles não pedem para chamar a gente, não olham na cara da gente. Ainda mais quando é de Pinheirinho. Chega no pronto-socorro aqui, os médicos: O que é aquilo, ali? Com aquela cara, olhando. Aí [ pergunta]: ‘Onde você mora?’ [ resposta:] ‘Pinheirinho’. Aí que demora mesmo!”[Raquel].

Segundo o relatório “A voz das Vítimas”, produzido pelo Condepe (2012), na véspera da reintegração de posse do terreno, dia 21 de janeiro (sábado), houve uma concessão de um prazo de 15 dias fixada em juízo para a negociação entre o governo estadual e federal de uma proposta de políticas públicas integradas entre o município de São José dos Campos, o governo do estado de São Paulo e a União para uma solução fundiária e habitacional para a ocupação. Com isso a Assembleia dos Moradores festejou naquele mesmo dia a suspensão da liminar de reintegração de posse. No dia 22 de janeiro o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) validou a desocupação através de uma liminar emergencial. A ordem expedida pela juíza Márcia Faria Mathey Loureiro manteve a desapropriação do terreno.


Reintegração de posse
Segundo nota divulgada em 22 de janeiro de 2012 pelo Centro de Comunicação Social da Polícia Militar ao todo foram encaminhados ao local mais de 2 mil policiais militares. Foram empregados mais de 220 viaturas, 40 cães, 100 cavalos e 300 agentes da prefeitura local para apoio psicológico e social da população. Também foram utilizadas duas aeronaves Águia da Polícia Militar. Segundo a nota foram detidas 16 pessoas e não houve mortes, nem feridos (Polícia Militar-SP, 2012c).

No dia 23 de janeiro uma outra nota foi divulgada pela PM. A nota esclarece que “a integridade física das pessoas norteou a estratégia para cumprimento da determinação judicial” (Polícia Militar-SP, 2012b). O mesmo texto explica que a PM “agiu com o objetivo de restabelecer a ordem pública” e fez uso “ de técnicas não letais”. Segundo números registrados no site da polícia militar “até às 18h de 23 de janeiro de 2012 foram apreendidas duas armas de fogo, 1.100 invólucros de maconha e 388 pinos para embalar cocaína, também foram localizadas três bombas caseira.” A PM também disponibilizou em seu site um infográfico para compreender a operação em Pinheirinho (Polícia Militar-SP, 2012a).

O líder da comunidade, Valdir Martins, em entrevista concedida à autora deste trabalho, deu sua versão dos fatos e fez denúncias contra a PM de São Paulo:
Aquele vídeo divulgado na internet de um senhor sendo espancado pela PM, ele morreu de traumatismo craniano. A polícia está sendo processada. Duas meninas foram estupradas no acampamento, um rapaz foi estuprado com um cabo de vassoura pela tropa de choque [...].




Foram mais de 600 processos contra o estado de São Paulo por abusos policiais denunciados e desrespeito à população de Pinheirinho. Várias entidades defensoras de direitos humanos questionaram a legitimidade da decisão judicial. O jornalista Aurélio Moraes, do Jornal Nossa Jacareí publicou um vídeo na Internet em 14 de janeiro de 2012 mostrando de que maneira os moradores vinham tantando regulamentar o terreno junto a prefeitura e a tensão no local dias antes da reintegração. (MORAES, 2012). Alguns veículos de comunicação, como a própria Folha de S.Paulo denunciaram a Polícia Militar (PM) como cerceadora da liberdade de imprensa, ocorrido quando não foi permitido o livre acesso ao local de reintegração, bem como aos alojamentos da prefeitura. Por outro lado, uma comissão especial da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de São José dos Campos aprovou a operação militar no caso Pinheirinho.

O relatório divulgado em junho de 2012 pela 36ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de São José dos Campos descartou violação dos direitos nas condutas da Polícia Militar, da prefeitura e da Justiça na reintegração de posse do Pinheirinho. O documento afirma que “os números nos permitem afirmar com tranquilidade que inexistiu violação dos direitos humanos na conduta geral da Polícia Militar.” O relatório se contrapõe à investigação do Condepe, que denunciou violações aos direitos humanos em março de 2012 (ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 2012).

O relatório também afirma que “A exploração política e econômica praticada pelos líderes do movimento contra a população carente que se instalou no Pinheirinho pode ser outra importante causa do problema, se não a principal”. Eles acusam líderes da Comunidade, como Valdir Martins, o Marrom, de vender terrenos dentro do Pinheirinho e lucrar com a comercialização dos lotes. No mesmo relatório defendem a juíza Márcia Faria Mathey Loureiro, que autorizou a reintegração de posse. “O feito obedeceu ao devido processo legal e os réus tiveram direito à mais ampla defesa e toda sorte de recursos” (ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 2012).

Em entrevista, o líder da Comunidade Pinheirinho, Valdir Martins, se defende da acusação e comenta o relatório divulgado pela 36ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de São José dos Campos (OAB).

Na verdade nunca houve a comercialização de lotes lá dentro. Esse presidente da OAB de São José dos Campos já foi pré candidato a prefeitura da cidade. Ele é do partido do PSDB e fez uma função para o partido que mandou me acusar sem fundamento... Nunca existiu essa comercialização! (MARTINS, 2012).

Na madrugada de 22 de janeiro de 2012 dois mil policiais militares realizaram a reintegração de posse, mas somente na noite do dia 25 de janeiro a polícia concluiu a reintegração. O portal de notícias R7 denunciou em 27 de janeiro de 2012 as condições dos abrigos superlotados. Uma das ex-moradoras de Pinheirinho criticou na entrevista a bolsa aluguel que o Governo do Estado prometeu oferecer aos desabrigados. Na opinião dela a bolsa é insuficiente para uma família de 10 pessoas como a dela, sendo duas portadoras de necessidades especiais (BARBEIRO, 2012).

O líder da comunidade, Valdir Martins, disse que a supervalorização do terreno foi a principal causa da reintegração de posse. Ele também explicou o que representou a perda do terreno para os ex-moradores:
“Para desocupar uma casa leva-se 48 horas, em Pinheirinho em 72 horas eles desocuparam 1.843 casas. Para o rico propriedades são fazendas, iates e apartamentos, para o pobre propriedade às vezes é o próprio filho, o próprio marido, uma foto, uma cadeira, uma mesa. E agora quem vai devolver isso? Uma mãe disse para mim: Marrom, a única coisa que eu tinha de valor não era a casa, a casa eu construo outra, eu tinha um DVD do meu único filho que morreu aos 8 anos, agora eu nunca mais poderei vê-lo. As pessoas perderam mais que casas, perderam coisas pessoais, intimidade, aquele presente que o avô deixou. É comum você encontrar no terreno ainda fotos, cartas [...] 90% perdeu absolutamente tudo. O que houve em pinheirinho foi um estupro social, um crime, um massacre! [...]” (MARTINS, 2012).

A Polícia Militar do estado de São Paulo deixou uma mensagem final sobre o caso Pinheirinho no site da instituição da PM e explica que “em seus 180 anos de existência, sempre trabalhou em consonância com o ordenamento jurídico. E acrescenta que “sua atuação se baliza por três princípios básicos: respeito integral aos direitos humanos, filosofia de polícia comunitária e gestão pela qualidade. Por fim, conclui: “Seu único escopo é o respeito ao cidadão, ao povo brasileiro e às instituições democráticas. E assim continuará, sempre.”


Repercussão Internacional
O jornal britânico Guardian fez críticas ao governo brasileiro por meio de um artigo publicado em 24 de janeiro de 2012. O artigo também questionou a cobertura da grande imprensa e afirmou que os veículos só deram atenção ao caso quando houve repercussão nas redes sociais. O jornal critica as ligações históricas dos jornais brasileiros ao poder político e enfatiza que a imprensa do Brasil falou de Pinheirinho em “tons suaves”, como por exemplo manchetes destacando uma van de uma TV incendiada e uma menor atenção para as casas que foram perdidas pelos moradores (NUNES, 2012).

O processo judicial em torno da posse do terreno é antigo e deve se prolongar em muitas questões. O defensor público Jairo Salvador, de São José dos Campos, em entrevista concedida para o Jornal do Brasil em 1º de fevereiro de 2012, afirma que não há precedentes brasileiros do caso. “O Pinheirinho é só mais um capítulo do extermínio da pobreza, de uma cidade que quer se vender como perfeita. Não tem lei em São Paulo. É só ter força. Cada um cumpre o que quer”. (PSOL..., 2012).

O pesquisador e antropólogo Inácio de Carvalho Dias de Andrade - que conviveu por três anos na Comunidade Pinheirinho, em depoimento à autora deste trabalho, afirmou que a força policial teve respaldo da grande imprensa.

A grande mídia tem um enorme poder em pautar os debates públicos seja pela abrangência de seus meios ou pelo impacto que pode causar, no entanto, tanto no caso do Pinheirinho como o da Cracolândia, ela se ausentou de discutir em profundidade o assunto, suas causas ou outras soluções possíveis. Isso acontece tanto com grandes veículos que pretendem passar uma aura de imparcialidade para o leitor, como aqueles, mais honestos, que assumiram alguma posição nesses casos. Mas o fato é que, passado todos esses meses, eu não vi nenhuma maior discussão ou questionamento sobre o destino ou situação daqueles moradores despejados. O caso paulista é exemplar, mas também poderíamos traçar analogias aqui com outras ações parecidas no Brasil que não recebem atenção devida nos noticiários. Existem obras para a Copa do Mundo no Brasil inteiro nas quais os mesmos problemas vêm ocorrendo. Mesmo o caso da Hidroelétrica de Belo Monte parece abandonado sem alguma discussão aprofundada pelos diversos setores da população. No entanto, para que esse discurso midiático possa ganhar força, ele precisa contar com respaldo discursivos da sociedade, tais como a associação fácil de pobreza a desorganização (ANDRADE, 2012.)


A cobertura da Folha de S.Paulo
As notícias coletadas entre os dias 23 e 30 de janeiro chamam atenção, inicialmente, por dois aspectos: em primeiro lugar pelo excesso de declaração de autoridades locais e nacionais, e em segundo pela pouca “voz” dada aos moradores durante a cobertura jornalística.

Logo no primeiro dia de cobertura da reintegração, segunda-feira, 23 de janeiro de 2012, observamos o uso de definidores primários na cobertura da Folha de S.Paulo. Apenas fontes oficiais deram declarações sobre o ocorrido na chamada de capa do jornal: Polícia Militar (PM), assessor da presidência e “planalto”. As pessoas descritas, todas em cargos institucionais, funcionam como definidores primários, legitimando a informação. Isso porque, como lembra Hall (Hall et. al. apud PENA, 2004, p.178) as primeiras fontes a serem ouvidas sobre um determinado assunto é que vão pautar o debate que será feito em torno desse mesmo assunto na sequencia. Nesse sentido eles definem a angulação e o tom do debate que segue. As fontes oficiais, portanto, possuem grande influência na construção da notícia e refletem a pressão exercida dentro das redações. Além disso refletem a posição editorial, ideológica e política em defesa do proprietário.

Observamos também a referência negativa aos moradores da comunidade. “Moradores incendiaram carros e atiraram pedras contra policiais militares [...]”.

A foto da manchete traz uma mensagem sobre a ação policial: a imagem mostra um PM retirando uma mulher com uma criança de colo da área de confronto o que remete a ideia de proteção por parte da polícia. O comportamento da cobertura jornalística revela como os fatos são construidos subjetivamente. A foto Manchete também revela isso. Segundo o próprio Manual da Folha de S.Paulo “uma boa foto pode ser mais expressiva e memorável que uma excelente reportagem”.

A matéria do dia 23 de janeiro, da página C1, com o título “Retirada de famílias deixa rastro de destruição em São José dos Campos” afirma no corpo do texto que carros foram incendiados por moradores. “Seis veículos foram incendiados por moradores, dois deles pertencentes a empresas de comunicação que acompanhavam a ação.” O texto não inclui depoimentos dos moradores confirmando esta acusação. O fato de não trazer a outra versão, mostra o descumprimento do próprio Manual da Folha de S.Paulo, que diz que quando uma informação é ofensiva a uma pessoa, o jornal deve ouvir o outro lado e publicar as duas versões com “destaque proporcional”. O Manual também diz que quando houver publicação de um texto sem ouvir o outro lado, o jornal deve tentar ouvir a fonte no dia seguinte sobre o mesmo assunto.

Enquanto o jornal prioriza o depoimento do comandante da polícia nos primeiros parágrafos, o advogado que representa os moradores, Antonio Donizete Ferreira, aparece ao final do texto com uma declaração superficial do ocorrido no dia. Mais uma vez observa-se a preferência dada aos definidores primários na cobertura do tema.

Na terça-feira, 24 de janeiro de 2012, a Folha traz alguns depoimentos de ex-moradores de Pinheirinho e revela que alguns querem voltar para sua terra-natal. Em seguida a reportagem informa que a prefeitura oferece passagens para quem quiser voltar e que pelo menos 30 aceitaram. Isso representa 0,3% dos 10 mil moradores de Pinheirinho, o que estatisticamente é um número muito pequeno. O jornal generaliza uma situação a partir de uma pequena parcela.

Uma nota que evidencia a prioridade por definidores primários está localizada na
página C1 com o título “Decisão do TJ é correta, dizem especialistas”. O texto desta mesmo edição, 24 de janeiro de 2012, defende a ideia de que o procedimento de reintegração no Pinheirinho foi o correto e para comprovar isso a reportagem consulta “especialistas sobre o tema”. A matéria também diz que a PM agiu corretamente em obedecer aos magistrados estaduais. A matéria consiste em entrevista com o professor de direito constitucional da PUC André Ramos Tavares e o advogado Gustavo Rene Nicolau que confirmaram que dificilmente a competência do caso à justiça estadual seria revertida. Analisando esta matéria, podemos remeter ao pensamento de Francisco José Karam (2004) que diz que a objetividade e a subjetividade estão intimamente relacionadas no jornalismo. Podemos observar aqui que a ideia de objetividade é quebrada pelo fato do jornal ter escolhido um especialista que estivesse de acordo com aquilo que o jornal defende. O Manual da Folha estabelece que o cruzamento de informação é obtido cruzando várias fontes para uma informação. “Qualquer informação de cuja veracidade não se tenha certeza deve ser cruzada.” Ou seja, se a Folha quisesse estabelecer um debate dentro dos marcos da objetividade, esta poderia ter ouvido mais especialistas, inclusive com pontos de vista diferentes.

No mesmo dia 24 de janeiro de 2012, o jornal britânico Guardian, citado no segundo capítulo deste trabalho, publicou um artigo com críticas ao governo brasileiro. O artigo questionou a cobertura da mídia e enfatizou que a imprensa do Brasil falou de Pinheirinho em “tons suaves”. A Folha de S.Paulo repercutiu uma breve nota sobre a crítica do jornal britânico três dias depois, em 27 de janeiro. Karam ( 2004) afirma que “não há um fato e várias opiniões e julgamentos, mas um mesmo fenômeno e uma pluralidade de fatos, conforme a opinião e o julgamento.”

Olien, Tichenor e Donohue, são citados por Traquina (2001, p.125). Escrevem os autores: “A reportagem inicial de um contramovimento no sistema será geralmente cética se não hostil, e o problema será definido de acordo com as suas ramificações para as relações de poder existentes”.

Na quarta-feira, dia 25 de janeiro, a matéria da página C4, “Retirada de famílias ignora ação social”, traz entrevista com a defensoria pública do Estado. Segundo a defensoria o atendimento dado aos ex-moradores é precário e foram encontradas pessoas abrigadas próximas a viveiro de pombos e fezes de animais. Alguns sem-teto, segundo a reportagem, preferiram se abrigar em uma igreja. Além disso alguns ex-moradores disseram que suas casas foram demolidas antes que pudessem pegar seus pertences. A matéria se refere aos ex-moradores, mas não acrescenta uma fala de qualquer um deles. Para Felipe Pena (2005) a decisão de publicar algo ou não depende principalmente de uma política empresarial.

Uma outra nota desta quarta-feira, 25 de janeiro, afirma que os sindicatos lideram a resistência que restou no local. A palavra “invasão” é presente em praticamente todas as matérias informativas analisadas neste trabalho. A palavra, possui o sentido de ilegalidade e denota juízo de valor por parte do jornal.

A matéria diz que “grupos de esquerda estão presentes no Pinheirinho desde o início da „invasão? em 2004, e seus líderes sempre foram respeitados como porta-vozes da comunidade.” Podemos observar aqui que “partidos de esquerda” seria uma forma de retirar a legitimidade do movimento dos moradores, já que estaria a serviço de um partido que luta pelo poder e quer desgastar quem está no poder.

Na quinta-feira, dia 26 de janeiro de 2012, a foto da capa da Folha chama atenção: o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, cercado por manifestantes e protegido por um segurança. O texto da chamada de capa do Caderno Cotidiano C1 diz que cerca de 800 manifestantes atiraram pedras e ovos contra o prefeito na saída da missa pelo aniversário da cidade de São Paulo. O protesto era contra as ações da PM na Cracolândia e Pinheirinho. Segundo a Folha, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não compareceu e o prefeito da cidade, Gilberto Kassab lamentou o ocorrido. O repórter não entrevistou qualquer manifestante. Com base nos autores Chomsky e Herman (1997 apud KARAM, 2004, p. 235) o consenso seria produzido por uma elite a qual é detentora de várias empresas e possui influência tanto em instituições públicas quanto privadas vinculadas ao poder político e econômico. A promessa da imprensa liberal de ser porta voz da democracia fica comprometida, pelo fato de não ter sido dado espaço para que o “outro lado” falasse, novamente o jornal não cumpre o próprio manual.

Nesta edição do dia 26 de janeiro, na página C4, a Folha entrevistou o pedreiro Severino Antonio de Jesus Silva e o ajudante de transportes Jamerson Conceição dos Santos. Além disso o jornal denunciou o descaso da prefeitura por não enviar caminhões, ambulância, nem agentes de trânsito para organizar uma caminhada dos ex-moradores por um trajeto de 4km até um abrigo da prefeitura. Uma mulher grávida desmaiou, mas segundo a reportagem, foi socorrida por um policial militar.

Na página C5 encontramos uma matéria sobre a polícia ter restringido o acesso da imprensa durante a operação. Mas esta matéria não tem chamada de capa e tampouco é destaque de página. O discurso de ações isoladas como coletivas e a falta de destaque noticioso sobre o cerceamento à liberdade de imprensa durante a reintegração de posse, comprometem a falta de isenção do jornal por meio da ocultação de fatos relevantes para a contextualização do episódio Pinheirinho.

Na sexta-feira, 27 de novembro de 2012, a Folha não fez chamada de capa sobre o assunto. No entanto, no caderno Cotidiano, há uma página inteira falando sobre a reintegração. Uma das matérias entrevista a relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada, Raquel Rolnik. Ela criticou as autoridades brasileiras pedindo explicações sobre o caso.

No sábado, dia 28 de janeiro de 2012, novamente a Folha não fez chamada de capa sobre Pinheirinho. Há apenas uma matéria na página C7 com o título “Prefeito diz que vai priorizar desabrigados”. Começamos a observar que a pauta sobre Pinheirinho já não está mais em relevância como no primeiro dia da cobertura. O pesquisador Inácio de Carvalho Dias de Andrade em entrevista concedida para este trabalho conclui “Mas o fato é que, passado todos esses meses, eu não vi nenhuma maior discussão ou questionamento sobre o destino ou situação daqueles moradores despejados” (ANDRADE, 2012).

Na edição de domingo, dia 29 de janeiro de 2012, a Folha coloca abaixo da dobra uma chamada de capa com uma entrevista com o ex-dono de Pinheirinho. Segundo o próprio site da Folha, o número de tiragem neste dia é de 320.504 exemplares, enquanto nos dias úteis 292.251 exemplares. Ou seja, a reportagem de domingo tem muito mais leitores (Folha de S.Paulo, 2012).

Na página 4 do caderno 2 encontramos a entrevista com Benedito Bento Filho. Segundo ele Pinheirinho era um jardim antes da “invasão” dos antigos moradores. Ele diz: “Antes de ser invadido pelos sem teto, aquilo era lindo, um verdadeiro jardim”.

A reportagem com Benedito Bento Filho, o homem que vendeu a terra a Naji
Nahas, ocupa toda a página do caderno 2. Benedito defende Naji Nahas afirmando que o empresário é um amigo e um homem muito “digno” e critica as lideranças dos sem teto. No texto, porém não há qualquer depoimento com um ex-líder ou ex-ocupante do terreno para gerar um debate sobre o tema.

O Manual da Folha diz que “nunca participa de campanhas para enaltecer ou desacreditar pessoas nem serve a interesses particulares de partido político, grupo ou tendência ideológica”. Silveira (2004) no entanto reforça a ideia que a imprensa funciona como um instrumento político da classe dominante para manter o status quo. Nas palavras do próprio autor “ [...] a produção de notícias trata os fatos como mitos, evita uma leitura crítica sobre a realidade e busca silenciar os grupos não conformistas, transformando a imprensa num meio de manipulação ideológica.”


Considerações finais
Foram identificados elementos de criminalização social e manipulação da informação por parte do jornal Folha de S.Paulo. O uso de autoridades como definidores primários reflete a pressão exercida dentro das redações, além de transparecer a posição editorial, ideológica e política em defesa do proprietário.

O discurso de ações isoladas como coletivas e a falta de destaque noticiosa sobre o cerceamento à liberdade de imprensa são outros exemplos de manipulação.

Este trabalho nasceu de uma perturbação: de que maneira a Folha fez a cobertura do Caso Pinheirinho? Que fontes o veículo utilizou para as reportagens ? O jornal privilegiou algum lado? E o histórico de denúncias de estupro, abuso de autoridade no local e violação de direitos humanos foram pautados pelo veículo? A criticidade na cobertura do jornal foi aquém do que se esperava.
Foi percebido que os ex-moradores tiveram pouco destaque nas reportagens, as fontes oficiais são usadas prioritariamente durante toda a cobertura do jornal.

Algumas acusações foram feitas aos ex-moradores sem ao menos escutá-los. A Folha descumpriu com o próprio Manual quando afirma que o veículo deve ouvir e publicar as duas versões com “destaque proporcional”. Até mesmo o jornal britânico The Guardian questionou a cobertura da grande imprensa brasileira e afirmou que os veículos só deram atenção ao caso quando houve repercussão nas redes sociais. O jornal disse que a imprensa do Brasil usou “tons suaves” para reportar o Caso Pinheirinho.

A cobertura informativa da Folha não mostrou os dois lados proporcionalmente, principalmente quando permitiu na edição do dia 30 de janeiro, edição de domingo e de maior peso, uma página inteira para um ex-proprietário do terreno, Benedito Bento Filho. A página , do caderno 2, destaca sua fala quando diz que o terreno era um jardim, antes da “invasão” dos sem-teto.

O próprio uso da palavra “invasão” e não “ocupação” também revela parte da ideologia do veículo. A palavra, possui o sentido de ilegalidade e denota juízo de valor por parte do jornal. As fotos de manchete também trouxeram mensagens ideológicas da Folha, como a da capa no primeiro dia de cobertura.

Somos assim levados a questionamentos sobre a cobertura informativa da Folha de S.Paulo envolvendo reintegrações de posse e movimentos sem-teto no país. O veículo seguiria o mesmo padrão jornalístico do Caso Pinheirinho com outros casos relacionados?

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