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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Maria Rita Kehl: Alckmin usa a mesma retórica dos matadores da ditadura

viomundo

publicado em 17 de setembro de 2012 às 22:01

por Maria Rita Khel, na Folha de S. Paulo, sugestão de Botelho Pinto


“Quem não reagiu está vivo”, disse o governador de São Paulo ao defender a ação da Rota na chacina que matou nove supostos bandidos numa chácara em Várzea Paulista, na última quarta-feira, dia 12. Em seguida, tentando aparentar firmeza de estadista, garantiu que a ocorrência será rigorosamente apurada.

Eu me pergunto se é possível confiar na lisura do inquérito, quando o próprio governador já se apressou em legitimar o morticínio praticado pela PM que responde ao comando dele.

“Resistência seguida de morte”: assim agentes das Polícias Militares, integrantes do Exército e diversos matadores free-lancer justificavam as execuções de supostos inimigos públicos que militavam pela volta da democracia durante a ditadura civil militar, a qual oprimiu a sociedade e tornou o país mais violento, menos civilizado e muito mais injusto entre 1964 e 1985.

Suprimida a liberdade de imprensa, criminalizadas quaisquer manifestações públicas de protesto, o Estado militarizado teve carta branca para prender sem justificativa, torturar e matar cerca de 400 estudantes, trabalhadores e militantes políticos (dos quais 141 permanecem até hoje desaparecidos e outros 44 nunca tiveram seus corpos devolvidos às famílias -tema atual de investigação pela Comissão Nacional da Verdade).

Esse número, por si só alarmante, não inclui os massacres de milhares de camponeses e índios, em regiões isoladas e cuja conta ainda não conseguimos fechar. Mais cínicas do que as cenas armadas para aparentar trocas de tiros entre policiais e militantes cujos corpos eram entregues às famílias totalmente desfigurados, foram os laudos que atestavam os inúmeros falsos “suicídios”.


HERZOG
A impunidade dos matadores era tão garantida que eles não se preocupavam em justificar as marcas de tiros pelas costas, as pancadas na cabeça e os hematomas em várias partes do corpo de prisioneiros “suicidados” sob sua guarda. Assim como não hesitaram em atestar o suicídio por enforcamento com “suspensão incompleta”, na expressão do legista Harry Shibata, em depoimento à Comissão da Verdade, do jornalista Vladimir Herzog numa cela do DOI-Codi, em São Paulo.

Quando o Estado, que deveria proteger a sociedade a partir de suas atribuições constitucionais, investe-se do direito de mentir para encobrir seus próprios crimes, ninguém mais está seguro. Engana-se a parcela das pessoas de bem que imaginam que a suposta “mão de ferro” do governador de São Paulo seja o melhor recurso para proteger a população trabalhadora.

Quando o Estado mente, a população já não sabe mais a quem recorrer. A falta de transparência das instituições democráticas -qualificação que deveria valer para todas as polícias, mesmo que no Brasil ainda permaneçam como polícias militares- compromete a segurança de todos os cidadãos.

Vejamos o caso da última chacina cometida pela PM paulista, cujos responsáveis o governador de São Paulo se apressou em defender. Não é preciso comentar a bestialidade da prática, já corriqueira no Brasil, de invariavelmente só atirar para matar -frequentemente com mais de um tiro.

Além disso, a justificativa apresentada pelo governador tem pelo menos uma óbvia exceção. Um dos mortos foi o suposto estuprador de uma menor de idade, que acabava de ser julgado pelo “tribunal do crime” do PCC na chácara de Várzea Paulista. Ora, não faz sentido imaginar que os bandidos tivessem se esquecido de desarmar o réu Maciel Santana da Silva, que foi assassinado junto com os outros supostos resistentes.

Aliás, o “tribunal do crime” acabara de inocentar o acusado: o senso de justiça da bandidagem nesse caso está acima do da PM e do próprio governo do Estado. Maciel Santana morreu desarmado. E apesar da ausência total de marcas de tiros nos carros da PM, assim como de mortos e feridos do outro lado, o governador não se vexa de utilizar a mesma retórica covarde dos matadores da ditadura -”resistência seguida de morte”, em versão atualizada: “Quem não reagiu está vivo”.


CAMORRA
Ora, do ponto de vista do cidadão desprotegido, qual a diferença entre a lógica do tráfico, do PCC e da política de Segurança Pública do governo do Estado de São Paulo? Sabemos que, depois da onda de assassinatos de policiais a mando do PCC, em maio de 2006, 1.684 jovens foram executados na rua pela polícia, entre chacinas não justificadas e casos de “resistência seguida de morte”, numa ação de vendeta que não faria vergonha à Camorra. Muitos corpos não foram até hoje entregues às famílias e jazem insepultos por aí, tal como aconteceu com jovens militantes de direitos humanos assassinados e desaparecidos no período militar.

Resistência seguida de morte, não: tortura seguida de ocultação do cadáver. O grupo das Mães de Maio, que há seis anos luta para saber o paradeiro de seus filhos, não tem com quem contar para se proteger das ameaças da própria polícia que deveria ajudá-las a investigar supostos abusos cometidos por uma suposta minoria de maus policiais. No total, a polícia matou 495 pessoas em 2006.

Desde janeiro deste ano, escreveu Rogério Gentile na Folha de 13/9, a PM da capital matou 170 pessoas, número 33% maior do que os assassinatos da mesma ordem em 2011. O crime organizado, por sua vez, executou 68 policiais. Quem está seguro nessa guerra onde as duas partes agem fora da lei?


ASSASSINATOS
A pesquisadora norte-americana Kathry Sikkink revelou que o Brasil foi o único país da América Latina em que o número de assassinatos cometidos pelas polícias militares aumentou, em vez de diminuir, depois do fim da ditadura civil-militar.

 Mudou o perfil socioeconômico dos mortos, torturados e desaparecidos; diminuiu o poder das famílias em mobilizar autoridades para conseguir justiça.

Mas a mortandade continua, e a sociedade brasileira descrê da democracia.
Hoje os supostos maus policiais talvez sejam minoria, e não seria difícil apurar suas responsabilidades se houvesse vontade política do governo. No caso do terrorismo de Estado praticado no período investigado pela Comissão da Verdade, mais importante do que revelar os já conhecidos nomes de agentes policiais que se entregaram à barbárie de torturar e assassinar prisioneiros indefesos, é fundamental que se consiga nomear toda a cadeia de mando acima deles.

Se a tortura aos oponentes da ditadura foi acobertada, quando não consentida ou ordenada por autoridades do governo, o que pensar das chacinas cometidas em plena democracia, quando governadores empenham sua autoridade para justificar assassinatos cometidos pela polícia sob seu comando?

Como confiar na seriedade da atual investigação, conduzida depois do veredicto do governador Alckmin, desde logo favorável à ação da polícia? Qual é a lisura que se pode esperar das investigações de graves violações de Direitos Humanos cometidas hoje por agentes do Estado, quando a eliminação sumária de supostos criminosos pelas PMs segue os mesmos procedimentos e goza da mesma impunidade das chacinas cometidas por quadrilhas de traficantes?

Não há grande diferença entre a crueldade praticada pelo tráfico contra seis meninos inocentes, no último domingo, no Rio, e a execução de nove homens na quarta, em São Paulo. O inquietante paralelismo entre as ações da polícia e dos bandidos põe a nu o desamparo de toda a população civil diante da violência que tanto pode vir dos bandidos quanto da polícia.

“Chame o ladrão”, cantava o samba que Chico Buarque compôs sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide. Hoje “os homens” não invadem mais as casas de cantores, professores e advogados, mas continuam a arrastar moradores “suspeitos” das favelas e das periferias para fora dos barracos ou a executar garotos reunidos para fumar um baseado nas esquinas das periferias das grandes cidades.


PELA CULATRA
Do ponto de vista da segurança pública, este tiro sai pela culatra. “Combater a violência com mais violência é como tentar emagrecer comendo açúcar”, teria dito o grande psicanalista Hélio Pellegrino, morto em 1987.

E o que é mais grave: hoje, como antes, o Estado deixa de apurar tais crimes e, para evitar aborrecimentos, mente para a população. O que parece ser decidido em nome da segurança de todos produz o efeito contrário. O Estado, ao mentir, coloca-se acima do direito republicano à informação -portanto, contra os interesses da sociedade que pretende governar.

O Estado, ao mentir, perde legitimidade -quem acredita nas “rigorosas apurações” do governador de São Paulo? Quem já viu algum resultado confiável de uma delas? Pensem no abuso da violência policial durante a ação de despejo dos moradores do Pinheirinho… O Estado mente -e desampara os cidadãos, tornando a vida social mais insegura ao desmoralizar a lei. A quem recorrer, então?

A lei é simbólica e deve valer para todos, mas o papel das autoridades deveria ser o de sustentar, com sua transparência, a validade da lei. O Estado que pratica vendetas como uma Camorra destrói as condições de sua própria autoridade, que em consequência disso passará a depender de mais e mais violência para se sustentar.


Maria Rita Khel é psicanalista e integrante da Comissão Nacional da Verdade

domingo, 16 de dezembro de 2012

PSDB pretende indicar Coronel Telhada, ex-comandante da Rota, para Comissão de Direitos Humanos

15 dezembro 2012

unisinos

O PSDB pretende indicar o vereador eleito Coronel Telhada como integrante da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal. A decisão foi discutida internamente no partido nas últimas semanas, e a indicação deve sair em fevereiro do ano que vem,  quando os vereadores são nomeados para as vagas nas comissões.

A informação é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 15-12-2012.

O partido diz que a indicação faz sentido porque a comissão aborda também a questão da segurança pública. Chama-se Comissão Extraordinária de Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais. Por ser uma comissão extraordinária, ela não analisa projetos de lei, apenas promove debates sobre os assuntos.

Telhada foi comandante da Rota entre 2009 e 2011. Foi eleito em outubro deste ano com o slogan Uma Nova Rota Política para São Paulo, com mais de 89 mil votos. Em sua carreira, matou 36 suspeitos de crimes. Segundo ele, as mortes ocorreram em confrontos, “dentro da lei”. Com a indicação, ele seria o representante do PSDB nas discussões sobre tema dos direitos humanos no Legislativo Paulistano. A presidência da comissão, no entanto, pode ficar com o PT.

A disputa pelo comando e por vagas em comissões já movimenta os bastidores políticos da Câmara. A tendência hoje é que a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, considerada uma das mais poderosas, fique com o atual presidente da Casa, José Police Neto (PSD). O PT pode ficar com a presidência da Comissão de Finanças ou abrir mão para o PV em busca de uma composição com o partido.

O PSB pleiteia Educação, e o PT também quer Saúde. O PMDB pode indicar o presidente da Comissão de Educação ou de Transportes. A presidência da Câmara na próxima gestão deverá ser do PT, com o vereador José Américo.


Veja também: Fora do Brasil, repórter ameaçado por 'policiais' relata mudança brusca de vida

Fora do Brasil, repórter ameaçado por 'policiais' relata mudança brusca de vida

15 dezembro 2012

unisinos

Após escrever uma reportagem em julho relatando que o ex-comandante da Rota (a controversa unidade de elite da Polícia Militar de São Paulo) e vereador eleito Paulo Telhada usava sua página no Facebook para pregar a violência, o repórter André Caramante, do jornal Folha de S. Paulo, passou a ser alvo de ameaças que o levaram a deixar o país com a família.

A entrevista é de Luis Kawaguti e publicada por BBC Brasil, 12-12-2012.

Com os filhos fora da escola regular e longe dos amigos e da profissão, o jornalista espera providências das autoridades, que ainda não identificaram os autores de ameaças como: "Quero deixar um recado para o André Caramante. Para ele deixar a polícia trabalhar em paz ou os filhos dele vão estudar no tacho do inferno", feita por telefone a um funcionário da Folha de S.Paulo, segundo o Ministério Público.

Segundo o advogado de Telhada, as ameaças não partiram dele - que pediu pela internet apenas que seus simpatizantes escrevessem ao jornal em atitude de "desagravo" à reportagem. Porém, o pedido deflagrou a perseguição ao repórter feita por supostos policiais que equiparam a defesa dos direitos humanos à proteção a bandidos.

O episódio mostrou, contudo, que Caramante não está sozinho. Ele tem o apoio de diversas organizações não-governamentais, entidades de classe e movimentos sociais. Na última segunda-feira, recebeu o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo - devido não só à reportagem de julho, mas a um trabalho sistemático de denúncia de abusos de direitos humanos no país.

Na terça-feira, a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, escreveu em sua conta no Twitter que Caramante, "que denuncia impunidade e violência" em São Paulo, "deve poder trabalhar livre de ameaças". Ela afirmou também que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana reforçará o apoio aos jornalistas.

Eis a entrevista.

Que tipo de ameaças você recebeu após a publicação da matéria sobre o coronel Paulo Telhada?
Por telefone, ameaçaram minha família. Pela internet, houve uma onda de ameaças e intimidações em redes sociais, blogs e até no próprio site do jornal Folha de S.Paulo, na seção de comentários. Entre as mensagens, fui chamado de "bandido". Disseram coisas como "bala nele", "você ainda será vítima de um sequestro relâmpago", "quando apontarem uma arma para você..." e, ironizando, "espero que nada de mau te aconteça". Esta onda teve grande força por mais de um mês, e seguiu forte até outubro.

O coronel me chamou publicamente, no Facebook, de "notório defensor de bandidos" e pediu uma mobilização contra mim. Houve incitação de pessoas para que denegrissem meu trabalho e deflagrou-se uma onda de intimidações e de incitação à violência contra mim e contra o jornal.

As ameaças e intimidações na internet estão ligadas, em sua maioria, a alguns policiais, por meio de declarações próprias, e simpatizantes. Em relação aos atos fora da internet, até o momento, não é possível apontar um autor.


A defesa do coronel diz que ele nunca falou com você...
Esse mesmo coronel da PM reformado, eleito vereador, é alguém que durante seu trabalho na Polícia Militar assume ter matado 36 pessoas - todas "dentro da lei", segundo afirma. Na tentativa de desmoralizar meu trabalho na Folha de S. Paulo, ele disse nunca ter falado comigo. Não é fato. Já fiz reportagens sobre a Rota quando era comandada por ele.

Conversamos para que ele pudesse oferecer sua versão sobre uma suspeita de que seus subordinados haviam feito uma emboscada na qual seis suspeitos de tentar roubar caixas eletrônicos em um supermercado foram mortos. Existe a suspeita de que a operação policial teve a oportunidade de prender os suspeitos, mas eles foram mortos. Isso aconteceu em agosto de 2011.

 
Qual foi o impacto de tudo isso para você e para a sua família? Estão no exterior?
Sim, atualmente estamos no exterior. Ao contrário do que tentaram dizer, não considero que eu e minha família passamos a viver escondidos e sim que mudamos temporariamente nossa localização. Isso por causa das ameaças de morte e fatos que consideramos suspeitos, relacionados por exemplo a chamadas telefônicas, à presença de motocicletas durante percursos em trajetos iguais aos meus e ao levantamento de informações de parentes meus por policiais.

 
Como foram as mudanças na sua vida pessoal? Está pensando em voltar logo?
Toda mudança de rotina, ainda mais esta, brusca e imposta, traz transtornos e desafios. Meus filhos tiveram seu processo de aprendizado regular interrompido. Minha companheira mudou completamente sua rotina. Hoje, parte de nossa vida é transportada em malas de viagem. A comunicação com amigos e parentes é bem restrita.

Continuo trabalhando à distância, mas sinto a angústia de não poder exercer plenamente minha profissão. Repórter tem mais é que sujar os sapatos atrás da notícia, tem de estar nas ruas, estar em contato direto com as fontes de informação.

A avaliação sobre o meu retorno, juntamente com minha família, será feita em conjunto com a direção da Folha de S. Paulo. Desde o início desse período de maior pressão, tudo tem sido decidido em conjunto com o jornal, afinal, o que aconteceu também foi uma tentativa de atentar contra o direito de informar.

 
Como se sente nesta situação?
Essa tentativa de intimidação contra a liberdade de imprensa não é nova e não se restringe apenas a mim. No México, por exemplo, as pressões contra a imprensa livre são exercidas pelo narcotráfico. No Brasil, mesmo após o fim da ditadura militar, há quase 30 anos, as indicações são de que setores das forças de segurança tentam impedir a divulgação de informações.

Posso citar dois exemplos, cada um com seu grau de intensidade, mas ainda assim semelhantes por terem PMs como alvo de denúncia: o do jornalista Caco Barcellos, autor do livro-reportagem Rota 66 - A História da Polícia que Mata, ameaçado de morte e obrigado a deixar o país nos anos 1990 por mostrar a política de extermínio da tropa especial da PM de São Paulo.

E também o do jornalista Renato Santana que, em 2011, após denunciar grupos de extermínio na região do litoral paulista, passou a ser ameaçado e teve de pedir demissão do jornal para o qual trabalhava e se mudar.

 
O governo estadual poderia ter feito alguma coisa para evitar essa situação, ou pode tomar alguma atitude agora?
Depois de a notícia sobre minha mudança temporária de localização ter sido tornada pública, o governador Geraldo Alckmin propôs me colocar, ao lado de minha família, no programa estadual de proteção a vítimas e testemunhas. Mas isso não atendeu a minha expectativa, porque faria com que eu tivesse de abrir mão de minha atividade profissional, do direito de informar.

(O programa) faz com que um jornalista tenha de deixar de exercer seu trabalho, rompa laços de amizade, mude de casa ou até mesmo de nome, mas não diz nada sobre como responder à ameaça contra a liberdade de imprensa que a minha situação expôs.  

(e não é exatamente isso que eles querem? calar a imprensa que denuncia?)

No fim de julho, o secretário da Segurança Pública do governador Alckmin já havia afirmado que iria determinar uma investigação na Corregedoria da PM contra o coronel reformado sobre as atitudes dele contra mim no Facebook. Até hoje não fui informado sobre o resultado dessa investigação. Somente dois meses depois dessa afirmação, a Corregedoria da PM, sabendo que eu já estava fora do país, enviou um ofício ao jornal para me ouvir. Fica muito difícil acreditar em resultados. Afinal, havia uma investigação em curso no fim de julho?



 
Qual é a sua opinião sobre o posicionamento do governo Alckmin?
Se tivéssemos uma política de segurança pública transparente em São Paulo, o governo manteria de forma explícita, por exemplo, uma lista completa com todos os dados das vítimas dessa onda de violência em andamento. Em São Paulo, jornalistas não têm acesso a documentos públicos sobre esses crimes. A desculpa é a de que a revelação sobre quem morreu "atrapalharia as investigações".

 
Como vê essa atitude do governo do Estado de trocar cúpula e aceitar ajuda federal?
Diante da atual onda de violência enfrentada pela população de São Paulo, a mudança no comando da Segurança Pública e o recebimento de ajuda do governo federal eram medidas cujo adiamento seria muito difícil justificar. O novo comando chega com a necessidade de apresentar resultados urgentes à população, que espera voltar a confiar plenamente nas instituições governamentais, nas leis. A população não pode temer suas polícias e nem viver sob a pressão de criminosos. Essa mesma população quer afastar o fantasma do estado de exceção que assombra as periferias, onde se atropelam direitos fundamentais.


Você recebeu apoio de alguma instituição?
Recebi a solidariedade de familiares, amigos, de entidades de classe, estudantes, colegas de profissão e de organizações que defendem os Direitos Humanos e a Liberdade de Imprensa, como Repórteres Sem Fronteiras, SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Instituto Vladimir Herzog, Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, S.O.S. Racismo (Assembleia Legislativa de SP), Condepe (Conselho de Defesa da Pessoa Humana de SP), Comitê Paulista Pela Memória, Verdade e Justiça, e também das ONGs Justiça Global, Conectas, Instituto Sou da Paz.

Membros do hip hop e da cena cultural da periferia de São Paulo, como a Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), estenderam as mãos e isso tem muito valor, assim como o incentivo que sempre me foi dado pelo grupo independente Mães de Maio, composto por familiares de jovens mortos durante o primeiro grande enfrentamento entre o crime organizado e as forças de segurança, em maio de 2006.


Outro lado
O advogado de defesa do coronel Paulo Telhada, Israel Alexandre de Souza, afirma que o perfil do Facebook analisado pela reportagem de André Caramante e pelo Ministério Público era falso.

De acordo com Souza, a página em questão era uma homenagem a Telhada e não seria de autoria dele. "Eu consigo provar que não foi ele quem postou", afirmou o advogado.

"O coronel tem uma página com 100 mil seguidores no Facebook em que ele publica as posições dele. E a posição dele é de combate ao crime, mas ele não publica incitação à violência."

O caso levou o Ministério Público a pedir à Justiça Eleitoral a cassação do registro de candidatura de Telhada por usar indevidamente meios de comunicação social. O processo foi extinto em primeira instância, mas os promotores recorreram.

Em relação à alegação de que Telhada teria chamado Caramante de "notório defensor de bandidos", Souza afirma: "O coronel 'postou' na página dele dizendo que esse cara perseguia ele. Pode ter dito isso, não tenho certeza. O que ele pediu para os seguidores dele foi que mandassem e-mails de desagravo ao jornal o defendendo."


O advogado diz que a ação do coronel foi "uma atitude cívica de liberdade de expressão", mas afirmou acreditar que se Telhada soubesse com antecedência da repercussão do caso não teria publicado a mensagem.



(claro! como não? ele pede para os soldadinhos dele agirem (o machão matador) e foi apenas uma atitude civica de liberdade de expressão)

Souza acrescentou que os seguidores do vereador "podem ter exagerado no desagravo". "Não acredito nem que sejam ameaças reais, mas não deixam de ser crime e deveriam ser apuradas pela polícia", afirma.

Além do processo na Justiça Eleitoral, o caso é investigado pelo Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GECEP) do Ministério Público do Estado de São Paulo.

A Secretaria de Segurança Pública afirma que não há falta de transparência na pasta, "fato comprovado pelo fato de São Paulo ser o único Estado do País que divulga as estatísticas criminais mensalmente, e com regularidade".

"Quanto aos boletins de ocorrência, eles não são divulgados integralmente para preservar as partes e não atrapalhar as apurações", acrescenta a secretaria. "Quanto aos crimes, todos estão sendo investigados e todas as hipóteses, inclusive o suposto envolvimento de policiais, são consideradas nas apurações." "O Governo do Estado de São Paulo e o novo secretário de Segurança, Fernando Grella Vieira, são os maiores interessados em elucidar os casos."

A Polícia Militar afirmou que uma investigação sobre as ameaças ao jornalista "está em andamento".

"Estamos na fase de processamento de autoria dessas supostas ameaças, como o objetivo de individualizar a suposta conduta, descobrindo os supostos motivos da ameaça, atribuir uma penalidade administrativa militar e abrir um procedimento para avaliarmos sua conduta na esfera penal (Inquérito Policial Militar)", disse a entidade em nota.

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