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domingo, 27 de abril de 2014

Os escândalos que assombram a canonização de João Paulo II

26 de abril de 2014

João Paulo II, o papa que promoveu e encobriu pedófilos e violadores da Igreja, recebeu, ao mesmo tempo em que João XXIII, a canonização. 

 Eduardo Febbro
 cartamaior
 Vítimas, que vítimas? – perguntou o cardeal Velasio de Paolis. E acrescentou: “Não são apenas estas vítimas”. Depois houve um silêncio de corpo e alma e o olhar um tanto perdido do superior geral dos Legionários de Cristo, nomeado em 2010 para esse cargo pelo então papa Joseph Ratzinger. À pergunta de de Paolis se seguiu uma resposta: as vítimas não eram só os milhares de menores que sofreram com os apetites sexuais das batinas hipócritas, mas também o próprio Vaticano. As vítimas não eram unicamente os menores ou adultos abusados e violentados pelo padre Marcial Maciel, o fundador dessa indústria dos atentados sexuais que foi, durante seu mandato, o grupo dos Legionários de Cristo. A vítima era a Santa Sé, que foi “enganada”.

João Paulo II, o papa que, entre outros horrores, promoveu e encobriu pedófilos e violadores da Igreja, recebeu, ao mesmo tempo em que João XXIII, a canonização. Para além do espetáculo obsceno montado para esta ocasião, dos milhares de fieis na Praça de São Pedro, dos três satélites suplementares para transmitir o ato, para além da fé de muita gente, a canonização do papa polonês é uma aberração e um ultraje para qualquer cristão do planeta. Declarar santo a Karol Wojtyla é se esquecer do escandaloso catálogo de pecados terrestres que pesam sobre este papa: amparo dos pedófilos, pactos e acordos com ditaduras assassinas, corrupção, suicídios jamais esclarecidos, associações com a máfia, montagem de um sistema bancário paralelo para financiar as obsessões políticas de João Paulo II – a luta contra o comunismo -, perseguição implacável das correntes progressistas da Igreja, em especial a da América Latina, ou seja, a frondosa e renovadora Teologia da Libertação.

O “vítimas, que vítimas?” pronunciado em Roma pelo cardeal Velasio de Paolis encobre toda a impunidade e a continuidade ainda arraigada no seio da Igreja. Jurista e especialista em Direito Canônico, De Paolis fazia parte da Congregação para a Doutrina da Fé na época em que – anos 80 – se acumulavam as denúncias contra Marcial Maciel. No entanto, foi ele quem firmou a segunda absolvição do sacerdote mexicano. O ex-padre mexicano Alberto Athié contou à Carta Maior como Maciel sabia distribuir dinheiro e favores para comprar o silêncio das hierarquias. Athié renunciou em 2000 ao sacerdócio e se dedicou à investigação e denúncia dos abusos sexuais cometidos por clérigos e organizações.

O destino de Maciel foi selado por Bento XVI a partir de 2005. Em 2004, antes da morte de Karol Wojtyla, Maciel foi honrado no Vaticano. Neste mesmo ano, Ratzinger reabriu as investigações contra os Legionários. O dossiê Maciel havia sido bloqueado em 1999 por João Paulo II e mantido invisível por outra das figuras mais soturnas da cúria romana, Angelo Sodano, o ex-secretário de Estado de Giovanni Paolo. Sodano é uma pérola digna de figurar em um curso de manobras sujas. Decano do Colégio de Cardeais, ele tinha negócios com os Legionários de Cristo. Um sobrinho dele foi um dos assessores nomeados por Maciel para construir a universidade que os legionários de Cristo têm em Roma, a Universidade Pontífica Regina Apostolorum.

Sodano, que foi o número dois de Juan Paulo II durante quase 15 anos, tinha um inimigo interno, Joseph Ratzinger, um clube de simpatias exteriores cujos dois membros mais eminentes eram o ditador Augusto Pinochet e o violador Marcial Maciel. Sodano e Ratzinger travaram uma batalha sem tréguas: o primeiro para proteger os pedófilos, o segundo para condená-los. Em 2004, Ratzinger obrigou Maciel a se demitir e a se retirar da vida pública. Dois anos depois, já como Bento XVI, o papa o suspendeu “a divinis”. As investigações reabertas por Ratzinger demonstraram que Maciel era um pederasta, tinha duas mulheres, três filhos, várias identidades diferentes e manejava fundos milionários.
As denúncias prévias nunca haviam passado o paredão levantado por Sodano e o hoje Santo João Paulo. A carreira de Sodano é uma síntese do Papado de Karol Wojtyla, onde se mesclam os interesses políticos, as visões ideológicas ultraconservadoras, a corrupção e as manipulações. Angelo Sodano foi Núncio no Chile durante a ditadura de Pinochet. Manteve uma relação amistosa com o ditador e isso permitiu que organizasse a visita que João Paulo II fez ao Chile em 1987. Seu irmão Alessandro foi condenado por corrupção após a operação Mãos Limpas. Seu sobrinho Andrea teve a mesma sorte nos Estados Unidos. O FBI descobriu que Andrea e um sócio se dedicavam a comprar – mediante informação privilegiada – por um punhado de dólares as propriedades imobiliárias das dioceses dos Estados Unidos que estavam em bancarrota devido aos escândalos de pedofilia.

Mas o mundo sucumbiu ao grito de “santo súbito” que reclamava a canonização de um homem que presidiu os destinos da Igreja em seu momento mais infame e corrupto. O papa “viajante”, o papa “amável”, o papa “dos jovens”, era um impostor ortodoxo que deixou desprotegidas as vítimas dos abusos sexuais e os próprios pastores da Igreja quando estes estiveram com suas vidas ameaçadas.

Sua visão e suas necessidades estratégicas sempre se opuseram às humanas. Na trama desta história também há muito sangue, e não só de banqueiros mafiosos como Roberto Calvi ou Michele Sindona, com quem João Paulo II se associou para alimentar com fundos secretos os cofres do IOR (Banco do Vaticano), fundos que serviram para financiar a luta contra o comunismo no leste europeu e contra  a Teologia da Libertação na América Latina.

João Paulo II deixou desprotegidos os padres que encarnavam, na América Latina, a opção pelos pobres frente às ditaduras criminosas e seus aliados das burguesias nacionais. Em 2011, cinquenta destacados teólogos da Alemanha assinaram uma carta contra a beatificação de João Paulo II por não ter apoiado o arcebispo salvadorenho Óscar Arnulfo Romero, assassinado em 24 de março de 1980 por um comando paramilitar da extrema-direita salvadorenha, enquanto celebrava uma missa. Romero sim que é e será um santo. O arcebispo enfrentou os militares para pedir-lhes que não assassinassem seu povo, percorreu bairros, zonas castigadas pela repressão e pela violência, defendeu os direitos humanos e os pobres. Em resumo, não esperou que Bergoglio chegasse a Roma para falar de “uma Igreja pobre para os pobres”. Não. Ele a encarnou em sua figura e pagou com sua vida, como tantos outros padres aos quais o Vaticano taxava de marxistas ou comunistas só porque se envolviam em causas sociais.

João Paulo II é um santo impostor que traiu a América Latina e aqueles que, a partir de uma igreja modesta, ousaram dizer não aos assassinos de seus povos. Se, no leste europeu, João Paulo II contribuiu para a queda do bloco comunista, na América Latina favoreceu a queda da democracia e a permanência nefasta de ditaduras e sua ideologia apocalíptica. Um detalhe atroz se soma à já incontável dívida que o Vaticano tem com a justiça e a verdade: o expediente de beatificação de Óscar Romero segue bloqueado nos meandros políticos da Santa Sé. João Paulo II beatificou Josemaría Escrivá, o polêmico fundador da Opus Dei e um de seus protegidos. Mas deixou Romero de fora, inclusive quando estava com sua vida ameaçada. “Cada vez mais sou um pastor de um país de cadáveres”, costumava dizer Romero.

João Paulo II foi eleito em 1978. No ano seguinte, Monsenhor Romero entregou a ele um informe sobre a espantosa violação dos Direitos Humanos em El Salvador. O papa ignorou o informe e recomendou a Romero que trabalhasse “mais estreitamente com o governo”. Como lembrou à Carta Maior Giacomo Galeazzi, vaticanista de La Stampa e autor de uma magistral investigação, “Wojtyla Secreto”, em “seus 25 anos de pontificado nenhum bispo latinoamericanao ligado à ação social ou à Teologia da Libertação foi nomeado cardeal por João Paulo II”. A resposta está em uma frase de outro dos mais dignos representantes da “Igreja dos Pobres”, o falecido arcebispo brasileiro Hélder Câmara. “Quando alimentei os pobres me chamaram de santo; mas quando perguntei por que há gente pobre me chamaram de comunista”.

O show universal da canonização já foi lançado. A imprensa branca da Europa tem a memória muito curta e sua cultura do outro é estreita como um corredor de hospital. Todos celebram o grande papa. Ela promoveu à categoria de santo um homem que tem as mãos sujas, que cometeu a infâmia de encobrir violadores de crianças, de beijar ditadores e legitimar com isso o rastro de mortos que deixavam pelo caminho, de negociar benefícios para a máfia, que sacrificou em nome dos interesses de uma parte da Europa a misericórdia e a justiça de outros, entre eles os da América Latina. Estão canonizando um trapaceiro. O cúmulo da esperteza, do erro imemorial.

Em que altar se ajoelharão as vítimas dos abusadores sexuais e das ditaduras? Podemos levantar todos juntos um lugar aprazível e justo na memória com as imagens do padre Múgica ou do Monsenhor Romero para nos reencontrarmos com a beatitude o sentido de quem, por um ideal de justiça e igualdade, enfrentou a morte sem pensar nunca em si mesmo, ou em baixas vantagens humanas.


Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Em defesa do Estado Laico

de barcaparaavalon

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


Aderindo à campanha encabeçada pelo blog Livres Pensadores
 em defesa do Estado Laico...

A Democracia e o Estado Laico exigem que aqueles que motivados pela religião
traduzam suas opiniões em valores Universais ao invés de valores religiosos – baseando-se em seus dogmas e textos sagrados

É um absurdo ainda termos que conviver com um fundamentalismo religioso que pretende impor à todos as crenças de uma pretensa maioria, como se isso fosse a expressão máxima de Liberdade Religiosa, esquecendo propositadamente que essa “Liberdade” de alguns fere a liberdade de outros.


Acho uma graça pessoas que se dizem "entendidas"
alegarem que Democracia é a vontade da maioria


Democracia é para TODOS
não existe isso onde uma minoria 
deva se adequar à vontade de uma maioria
e a seus dogmas...

para esses "cristãos" não basta poder seguir suas crenças e dogmas
dentro de suas casas, e em suas Igrejas
eles querem que TODOS façam o mesmo

isso é o que eu chamo de Ditadura Cristã que sempre existiu e agora está a cada dia mais e mais agressiva buscando a cada dia mais e mais espaço


que a Bíblia e os dogmas cristão sejam seguidos por quem achar que deva
mas não poderá nunca ser base para reger, orientar e decidir a vida de TODOS

Deputados perdem seu tempo e nosso dinheiro
criando Leis para favorecer a própria religião e religiosos
e apenas citando alguns exemplos:

de Paulou Lopes 2011/06/ Deputado de SP quer crucifixo na escola
Deputado de SP quer crucifixo na escola por representar “a moralidade do povo brasileiro", a qual, segundo ele, vem sofrendo corrosão. Ele disse que, em contrapartida, "o crucifixo enriquece o significado a vida."


no texto do projeto de lei os gastos com a compra e instalação do crucifixo serão cobertos pelo Orçamento do Estado.


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LIVROS DIDÁTICOS CATÓLICOS: O ENSINO RELIGIOSO E A
DISCRIMINAÇÃO DE RELIGIÕES AFRO-DESCENDENTES
GUEDES, Maristela Gomes de Souza – PUC-Rio
GT-12: Currículo
Agência Financiadora: CAPES

onde a autora disserta sobre os livros didáticos de educção religiosa editados pela Igreja Católica e distribuida na rede pública do Rio de Janeiro e de outras cidades, em evidente desrespeito

 "a Constituição, 
burlam a própria lei do Ensino Religioso, 
discriminam religiões afro-descendentes 
e representam um retrocesso em importantes
conquistas de educadores e educadoras preocupados (as) 
com a diversidade do país."
em .pdf
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BAHIA, Brasil, julho de 2008 (LifeSiteNews.com) — Um juiz do estado da Bahia, Brasil, ordenou o confisco de um livro escrito pelo padre Jonas Abib, no qual ele condena a feitiçaria como imoral.


O livro — “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação” — adverte os leitores contra os perigos do ocultismo, inclusive as religiões afro-brasileiras conhecidas como “espiritualismo”. De acordo com o site do Pe. Abib, o livro já teve 81 reimpressões e vendeu mais de 400 mil exemplares.



O livro Orixás, Caboclos e Guias Deuses ou Demônios? de Edir Macedo também foi censurado pelo Ministério Público Federal. - por intolerância religiosa



ah! sim! é verdade
os piedosos cristãos até toleram uma cultura Afro - desde que sejam eles que ensinem - do modo deles

afinal eles amam os Afros - só não concordam com suas práticas

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notícia de maio desse ano diz:
ONU critica Brasil por permitir ensino religioso em escolas públicas
por Jamil Chade, d'O Estado de S.Paulo


Centenas de escolas públicas em pelo menos 11 Estados do Brasil não seguem os preceitos do caráter laico do Estado e impõem o ensino religioso, alerta a Organização das Nações Unidas. Em relatório a ser apresentado na semana que vem ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, a situação do Brasil é criticada.

O documento foi preparado pela relatora da ONU para o direito à cultura, Farida Shaheed, que também alerta que intolerância religiosa e racismo "persistem" na sociedade brasileira.


A relatora apela por uma posição mais forte por parte do governo para frear ataques realizados por "seguidores de religiões pentecostais" contra praticantes de religiões afro-brasileiras no País. Uma das maiores preocupações é o com o ensino religioso, assunto que pôs Vaticano e governo em descompasso diplomático.


Os Estados citados por Farida, que visitou o País no final do ano passado, são Alagoas, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.


A relatora diz ter recolhido pedidos para que o material usado em aulas de religião nas escolas públicas seja submetido a uma revisão por especialistas, como no caso de outros materiais de ensino. Além disso, "recursos de um Estado laico não devem ser usados para comprar livros religiosos para escolas", esclarece.


Para Farida, "deixar o conteúdo de cursos religiosos ser determinado pelo sistema de crença pessoal de professores ou administradores de escolas, usar o ensino religioso como proselitismo, ensino religioso compulsório e excluir religiões de origem africana do curriculum foram relatados como principais preocupações que impedem a implementação efetiva do que é previsto na Constituição".
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Roseli explica que o modelo brasileiro é pouco usual nos países em que há total separação entre Estado e religião. "Até Portugal, que no regime de Salazar tornou obrigatório o ensino religioso, aboliu as aulas. Educação religiosa deve ser restrita aos colégios confessionais. Lá, o pai matricula consciente."
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quinta-feira, 24 de junho de 2010


Vereadores de Ibiúna aprovam lei que obriga leitura da Bíblia



Por unanimidade, os vereadores de Ibiúna (SP) aprovaram lei que obriga a leitura de um trecho da Bíblia na abertura das sessões da Câmara.


A lei é de autoria do vereador e evangélico Ismael Martins Pereira (foto). Ele é do PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.

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domingo, 27 de fevereiro de 2011
Pesquisa revela que metade das escolas tem ensino religioso




Vida de Jesus em quadrinhos para escolas


por Angela Pinho, da Folha


"O que são as histórias da Bíblia? Fábulas, contos de fadas?", pergunta a professora do 3º ano do ensino fundamental. "Não", respondem os alunos. "São reais!"


A cena, numa escola pública de Samambaia, cidade-satélite de Brasília, precede aula sobre a criação do universo por Deus em sete dias. O colégio é um dos 98 mil do país (entre públicos e particulares) que ensinam religião.

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sexta-feira, 11 de março de 2011
Evangélicos defendem ensino religioso e criticam 'ditadura do laicismo'

A Omebe (Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil) criticou o parecer do CME (Conselho Municipal de Educação) do Rio contra a implantação do ensino religioso nas escolas públicas.
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O pastor Francisco Nery, coordenador do departamento de ensino religioso da Omebe, afirmou que decisões como a do conselho “privam o aluno da oportunidade de escolha e estabelece uma ditadura do laicismo”.

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Livro de religião de escolas públicas associa ateu ao nazismo

O estudo “Laicidade: o Ensino Religioso no Brasil”, da Unb (Universidade de Brasília), constatou que um livro da lista dos 25 de ensino religiosos mais adotados por escolas públicas do país associa a pessoa sem religião ao nazismo


“É sugerido que um ateu tende a ter comportamentos violentos e ameaçadores”, disse Débora Diniz, uma das autoras do estudo.


Ela afirmou que, no geral, os livros impõem “uma espécie de catecismo cristão”. Jesus aparece 20 vezes mais que Lutero, referência do protestantismo, e 12 em relação ao budista Dalai Lama. Um líder religioso indígena é citado sem informação de sua biografia.


"Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã", disse. "Cristãos tiveram 609 citações nos livros e as religiões afro-brasileiras, tratadas como 'tradições', apenas 30.”


Os livros também são homofóbicos. Relacionam a homossexualidade a “desvio moral”, “doença física ou psicológica”, e “conflitos profundos”.


Um deles propõe a seguinte questão: "Se isso [a homossexualidade] se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?".
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Em 2009, uma escola pública de Macaé (RJ), uma professora umbandista “ousou” falar nas aulas de Literatura Brasileira sobre o livro‘Lendas de Exu, do autor Adilson Martins.

A professora Maria Cristina Marques conta que foi proibida de dar aulas após usar a obra, recomendada pelo Ministério da Educação (MEC). Ela, na época, entrou com notícia-crime no Ministério Público por se sentir vítima de intolerância religiosa.

Detalhe.
A professora Maria Cristina é umbandista e a diretora desta escola é evangélica.


A Secretaria de Educação de lá abriu sindicância e, como não houve acordo entre as partes, encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Macaé. Em nota, a secretaria informou que “a professora envolvida está em seu ambiente de trabalho, lecionando junto aos alunos de sua instituição”. A professora voltou a lecionar e disse: “Voltei, mas fui proibida até por mães de alunos, que são evangélicas, de dar aula sobre a África. Algumas disseram que estava usando a religião para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças. Me acusaram de fazer apologia do diabo”, contou Maria Cristina.

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segunda-feira, 4 de julho de 2011
Lei de evangélico multa no Rio biblioteca que não tiver Bíblia




O governador Sérgio Cabral (PMDB) sancionou hoje (4) lei de autoria do deputado evangélico Edson Albertassi (PMDB), 42, que obriga as bibliotecas do Estado a terem Bíblia. A biblioteca que descumprir a lei será multada em R$ 2.130 e, no caso de reincidência, em R$ 4.260.


A lei é polêmica porque o Estado, por ser laico, não pode fazer imposições de cunho religioso, ainda mais em se tratando de uma determinação que beneficia uma única denominação, no caso a cristã. A lei deixa de fora, por exemplo, livros espíritos, ao Corão e ao Torá.


O mesmo deputado apresentou projeto de lei para cada uma destas propostas:
1 -instituição do ensino religioso obrigatório,
2 - leitura da Bíblia antes do começo das aulas,
3 - isenção de IPVA às igrejas e de ICMS na compra de automóveis
4 - e a inscrição da frase “Deus seja Louvado” nas contas das concessionárias de serviços públicos.


Albertassi é diácono da Assembleia de Deus de um templo da cidade de Volta Redonda.


Em setembro do ano passado, Albertassi conseguiu sanção para uma norma que altera a lei de incentivos fiscais de modo a beneficiar a produção e apresentação de música gospel.


O deputado tem uma rádio FM de músicas evangélicas.


Em setembro do ano passado, Albertassi conseguiu sanção para uma norma que altera a lei de incentivos fiscais de modo a beneficiar a produção e apresentação de música gospel.


O deputado tem uma rádio FM de músicas evangélicas.


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isso que eu chamo em legislar em causa própria
e ainda dizem que cristão é perseguido?


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Lei do ensino religioso no Rio une religiões contra Igreja Católica


A maioria dos representantes das religiões se posicionou em audiência pública na semana passada contra o projeto de lei que prevê a implantação do ensino religioso nas escolas públicas municipais do Rio porque entende que isso reforçará a hegemonia da Igreja Católica na educação.


O padre Paulo Alves Romão e o deputado federal católico Márcio Pacheco (PSC) só não ficaram isolados porque o sheikt Ahmad Mohammed, presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento Islâmico, disse que os estudantes devem ter esse tipo de orientação porque muitas vezes a família não tem tempo de fazê-lo. O argumento do padre foi de que ensino religioso não é catequese e o do deputado de que "crianças pobres também precisam ter educação completa".


O cigano Mio Vacite de certa maneira respondeu ao muçulmano. “A impressão que passa é de que se a pessoa não tiver educação religiosa ou ela é vagabunda ou bandida", disse. “Tenho medo da ditadura religiosa. Se estamos em um país democrático, temos de pensar muito. A moral não está só na religião.”


O bruxo Og Sperle, sacerdote da religião Wicca, alvejou a Igreja Católica em seu ponto mais sensível: “A religião não tem a premissa de moldar o caráter porque, se assim fosse, não teríamos tantos casos de pedofilia em igrejas.”


O bispo evangélico e vereador Jorge Braz (PTdoB) foi direto: “Chega de hegemonia!”. Ele manifestou o temor de que a lei seja aprovada porque a maioria dos parlamentares é católica...
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Pr. Marco Feliciano apresenta projeto “Papai do Céu na Escola"


Este projeto de lei tem por objetivo cuidar da formação básica do cidadão durante a infância, criando o Programa Nacional Papai do Céu na Escola.
13/4/2011 18:42:00

Este projeto de lei tem por objetivo cuidar da formação básica do cidadão durante a infância, criando o Programa Nacional Papai do Céu na Escola.


Valendo-se da legislação vigente, que já contempla o ensino religioso como disciplina integrante do currículo escolar do ensino fundamental, o programa tem o propósito de nortear essa disciplina, de forma a disseminar, de uma maneira lúdica, a diversidade religiosa do país, os valores morais, a cultura da paz e o respeito às diferentes crenças. (cultura da paz? discriminando tudo e todos como eles fazem?)


O ensino religioso é a base histórica dos princípios morais e éticos da sociedade e nossos pequenos cidadãos precisam conhecer esses ensinamentos. O Programa “Papai do Céu na Escola” levará esse conhecimento em uma linguagem apropriada a faixa etária das nossas crianças, com material didático apropriado e elaborado com a participação de diversos segmentos da sociedade que se dedicam à área.


É importante lembrar que paises mais desenvolvidos, que aboliram de sua grade curricular o ensino religioso, sofreram graves ataques contras escolas e famílias foram afetadas por monstruosidades deixando uma marca inesquecível e irreparável na sociedade mundial.


Por isso, precisamos resgatar o ensino religioso em nosso país de maneira sábia, simples, coerente e contínua. Queremos ver os filhos desta Nação olhando para a imensidão do cosmos e dizendo: HÁ UM PAPAI DO CÉU QUE CUIDA DE NÓS!.




SITE OFICIAL DO PROJETO



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e temos que concordar mesmo com o Godim
que afirma que Neopentecostais querem assumir o poder do Brasil
.

ele sabe o que afirma
eles sonham em se tornar 50% (ou mais) da população...

ele mesmo escreve: ‘Deus nos livre de um Brasil evangélico’


De acordo com o pastor, a devastação não se restringiria à cultura e à literatura brasileira.

“Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português. Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.”


...Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.”


Mais: “Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista”.

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terça-feira, 12 de julho de 2011

Pastores desafiarão lei da homofobia se ela for aprovada, diz Malafaia



Se a Lei da Homofobia -- prevista no Projeto de Lei 122/06 -- for aprovada, todos os pastores do país vão desafiá-la com uma pregação contra a homossexualidade, disse Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.


“Isso já está combinado”, afirmou. “Vão ter de arrumar cadeia para [tanto] pastor. Vamos ver o que vai valer, se a Constituição ou se essa porcaria que eles [homossexuais] estão chamando de lei.”


Malafaia informou que, se essa “lei do privilégio” for aprovada, as igrejas vão fazer de tudo para derrubá-la, recorrendo inclusive ao STF (Supremo Tribunal Federal). “Não vai ter moleza, não.”


Para o pastor, o PL 122 afronta a Constituição, que garante a liberdade de expressão, e, por isso, não acredita que seja aprovado.


Em entrevista de cerca de 18 minutos ao site SRZD, do jornalista Sidney Rezende, que também é apresentador da Globo News, Malafaia falou que há duas referência bíblicas sobre o dízimo, dos temores deles e do seu objetivo de um dia se tornar o pastor da maior denominação evangélica do país.


Também criticou o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, que, segundo ele, comprou a TV Record com “dinheiro sagrado”, do dízimo, para, agora, estar difundindo “lixo moral”.




heheheh
ainda bem que Malafaia e Macedão brigam feito moleques

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Deputado quer anistiar diretores caloteiros de entidades religiosas

O deputado evangélico Roberto Santiago (foto), 53, do PV-SP, pediu o desarquivamento do Projeto de Lei 4986/2009 que concede anistia a diretores de entidades religiosas do setor hospitalar que deixaram de recolher a contribuição previdenciária de trabalhadores.
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Diz o artigo 1º do PL: “Esta Lei concede anistia aos diretores, gestores e empregados das Santas Casas de Misericórdia, entidades hospitalares sem fim econômico, hospitais de natureza religiosa e entidades de saúde de reabilitação física de deficientes sem fins lucrativos que, durante sua administração, praticaram as condutas descritas no artigo 168-A, caput e § 1°, do Código Penal”.


O artigo do Código Penal ao qual o deputado se refere estabelece prisão de dois a cinco anos, além de multa, a quem não recolheu a contribuição da Previdência Social dos trabalhadores.


Ou seja, o deputado Santiago quer livrar esses devedores da Justiça.


Como justificativa, ele argumentou que “muitas vezes” os responsáveis pela administração desses estabelecimentos não recolhem a contribuição por causa de dificuldades financeiras. “As entidades assistenciais vivem asfixiadas por cobranças que se elevam conforme aumenta a demanda pelos seus serviços.”


O deputado não levou em consideração que as entidades filantrópicas e de assistência social, além das ongs, têm sido alvos prediletos de golpes dos criminosos de colarinho branco.


Ele também se “esqueceu” dos trabalhadores que foram prejudicados.




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Ibope revela que 77% dos evangélicos são contra a união de casais gays

Os evangélicos (incluindo quem se declara protestante) são o grupo religioso que mais repudia a união de casais de pessoas do mesmo sexo. Deles, 77% são contra esse tipo de união, de acordo com pesquisa nacional feita pelo Ibope entre os dias 14 e 18 de julho com 2.002 pessoas de 142 cidades.



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No Paraná, houve mais um caso de quebra de imagens de igreja



A Polícia Civil de Telêmaco Borga (PR) prendeu na segunda-feira (25) a evangélica Marisa de Souza Neris (foto), 40, sob a acusação de ter destruído imagens da igreja matriz.


Marisa quebrou quatro imagens, entre elas a de Nossa Senhora de Fátima, a padroeira da cidade.

Policiais afirmaram que a mulher justificou o ato com a necessidade de acabar com “aquelas coisas do demônio”.

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e coloco abaixo postagem de uma amiga...
(Meia de Seda)
Um Estado verdadeiramente Laico dá a liberdade para qualquer cidadão seguir sua crença de forma plena, sem por isso invadir a liberdade daqueles que não o desejarem; não prende uma população tão plural como a nossa a dogmas e atavismos com os quais não concorda e que lutamos tanto para nos desvencilhar


No panorama atual, o que vejo são 6 dúzia de pessoas ambiciosas usando a religião para chegar ao poder, manipulando a grande massa que sempre lhes serviu de curral eleitoral a odiar, sim, a odiar grupos de minoria que não oferecem perigo a ninguém; a essa 6 dúzia estão aliando-se militares herdeiros do poder conseguido com o golpe de 64, inconformados com o toque democrático que recebeu nosso país, usando o mesmo modus operandi da época, intensificado pela abrangência da mídia dos dias atuais, lembrando Goebbels de Hitler (sem medo de exagerar).


As pessoas que hoje estão aqui na comu, em outras pgs da internet, em cafés filosóficos, os autores de teatro, enfim, a intelectualidade atual, e o povo comum mas que aprendeu por si a pensar, a criticar, a provocar (e com isso a construir essa sociedade) correm um sério risco de se verem novamente censurados, tolhidos por leis que proíbam a livre manifestação do pensamento lógico, científico, contestador.


Se com uma Constituição que prega a laicidade, já há um abuso absurdo por parte dos religiosos que não medem esforços para conseguirem, mesmo que inescrupulosamente como acontecido recentemente, os objetivos insanos a que se propuseram, imagine se um desses segmentos tenha sua palavra amparada pela Lei?


Deixando claro que não estou falando da religiosidade das pessoas, falo de setores religiosistas; e que uma constituição laica não é uma Constituição atéia, como muitos afirmam; é uma constituição que respeita toda crença ou ausência dela.


Se for pra perder a laicidade, então que TODAS as religiões sejam IGUALMENTE ouvidas, o que penso ser impossível; é bem mais viável, prático e justo, que NENHUMA seja favorecida para garantir 'a justiça igual para todos'.


E mesmo assim haverá muito ainda o que fazer.
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http://www.youtube.com/watch?v=q2Qo0lo6MZg

esse vídeo é fantástico e aterrador
e, ao mesmo tempo que meu horror aumenta,
me alegro que finalmente outras vozes se levantam contra esse fundamentalismo cristão perverso e doentio

anos atrás (e nem faz tanto tempo assim)
eu levantei essa bandeira contra essa dominação cristã
e fui por diversas vezes duramente criticada
e mesmo nos silêncios ficava um tom de censura por eu estar sendo intolerante com os "irmãos Evangélicos/Cristãos"

pois bem
agora outras vozes também se levantam
e espero que em breve sejam tantas vozes a ponto de calar de vez essa corja de aves de rapina

e isso jamais seria intolerância religiosa
mas simplesmente intolerância aos abusos cometidos em nome de uma fé mercenária, estúpida e discriminatória

quem discrimina não pode ser tolerado
sob o risco de sermos todos esmagados pela Ditadura Cristã

e deixo um poema que fala sobre isso:


"No caminho com Maiakóvski”

do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa
e o trecho que destaco é o seguinte:

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ligações poderosas - Opus Dei e Geraldo Alkimin




Revista Época - 12/01/2006

Carlos Alberto Di Franco dá formação cristã ao governador Geraldo Alckmin e treinou mais de 200 editores da imprensa

Carlos Alberto Di Franco, 60 anos, é um dos numerários mais influentes e bem relacionados do Opus Dei. Representante no Brasil da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra e diretor do Master em Jornalismo, um programa de capacitação de editores que já formou mais de 200 cargos de chefias dos principais jornais do País, é citado no livro Opus Dei - Os Bastidores como o executor da política da Obra para a mídia do Brasil e na América Latina.

Nos últimos anos, tem feito periodicamente uma preleção sobre valores cristãos na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes a convite do governador Geraldo Alckmin (confira matéria na página xx). O encontro, apelidado de 'Palestra do Morumbi', reúne um seleto grupo de empresários e profissionais do Direito, entre eles o vice-presidente da Fiesp, João Guilherme Ometo. Na sede do Master, em São Paulo, em cujos andares superiores funciona o centro da Obra onde vive, Di Franco deu a seguinte entrevista a Época.

ÉPOCA - A partir do final dos anos 80 a Universidade de Navarra, que é do Opus Dei, passou a dar cursos nas redações brasileiras. Como surgiu essa estratégia?
Carlos Alberto Di Franco
- Vários professores de lá participaram de um seminário no Rio e chamaram atenção pela sua visão de Jornalismo. Esse foi o início de um trabalho não de universidade, mas de consultoria de alguns profissionais que também são professores em Navarra. Mais recentemente Navarra montou uma empresa de consultoria que atualmente está sendo reestruturada, e eu tenho uma empresa e contrato consultores de Navarra e também daqui.

ÉPOCA - O Master em Jornalismo é uma estratégia do Opus Dei para influenciar a imprensa brasileira e da América latina?
Di Franco -
Absolutamente nada a ver. É um trabalho profissional meu. A única coincidência é que Carlos Alberto Di Franco é do Opus Dei. A imprensa tem suficiente discernimento e filtros próprios para se deixar submeter a qualquer coisa deste tipo.

ÉPOCA - O senhor é numerário do Opus Dei, é representante da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra, que é do Opus Dei, o Master traz professores de Navarra que também são numerários, mas o senhor afirma que não há nenhuma estratégia do Opus Dei em influenciar a imprensa através de um curso de formação de editores?
Di Franco -
Muitos professores de Navarra que vêm não são do Opus Dei. O Master é um programa técnico de capacitação de editores e não de Religião. O Master tem uma identidade cristã? Claro. Quando eu abro o Master, a primeira coisa que eu faço é dizer que o centro conta com serviço de capelania entregue à prelazia do Opus Dei. Isso implica numa série de serviços de atendimento espiritual para quem queira recebê-los. Deixo absolutamente claro o que acontece aqui. O prestígio do Master não depende do número de gotas de água benta, mas de sua qualificação profissional.

ÉPOCA - Quantos professores tem o Master e, destes, quantos são do Opus Dei?
Di Franco -
Onze fixos, seis são da Obra.

ÉPOCA - São Escrivá disse que era preciso embrulhar o mundo em papel-jornal...
Di Franco -
Qualquer pessoa que pense dois minutos percebe que os meios de comunicação são um poderoso facho para o bem e para o mal. Essa preocupação de evangelização tendo em conta os meios de comunicação social é legítima. Mas você poderá difundir a mensagem cristã não com água benta e nem metendo-se a montar estruturas piegas, mas atuando na sua atividade profissional. Estou convicto de que se o mundo tiver mais cristãos ou gente comprometida com sua fé será um lugar melhor.

ÉPOCA - O senhor publicou um artigo no jornal O Estado de S.Paulo criticando o Código da Vinci, um livro de ficção que mostra o Opus Dei como uma seita capaz de assassinar para alcançar seus objetivos. O senhor assina como jornalista e professor de ética. O senhor não acha que deveria ter informado ao leitor que é um numerário?
Di Franco -
Não, porque não acrescenta nada. Na mídia todo mundo sabe.

ÉPOCA - O senhor acredita que todos os leitores do jornal sabem?
Di Franco -
Todos os leitores não, mas eu não sei o que ser membro do Opus Dei acrescenta ao meu currículo. O que eu fiz foi uma análise do Dan Brown mostrando a sua desonestidade intelectual que qualquer jornalista poderia fazer, budista ou ateu.

ÉPOCA - Poderia. Mas o senhor não acha que a informação de que quem criticava um livro contra o Opus Dei era alguém do Opus Dei teria sido relevante para o leitor?
Di Franco -
Eu fiz uma crítica técnica e não movida por razões religiosas.

ÉPOCA - Como começaram as 'palestras do Morumbi', que acontecem na última quarta-feira do mês, no Palácio, com o governador Geraldo Alckmin e um grupo de empresários e profissionais do Direito?
Di Franco -
Não é uma reunião regular, depende das agendas. O governador é cristão, muito católico. Nesta reunião tratamos temas relacionados a práticas ou virtudes cristãs.

ÉPOCA - De quem partiu essa idéia?
Di Franco -
Nasceu de uma conversa do governador com um sacerdote da Obra com quem ele tem direção espiritual periódica.

ÉPOCA - O Padre (José) Teixeira, confessor do governador?
Di Franco -
Isso, o Padre Teixeira. Aí eu e o governador conversamos sobre a melhor maneira de fazer e sobre quem participaria. O grupo é formado por amigos comuns, todos católicos. Eu sou o palestrante. Uma coisa rápida, meia-hora, um cafezinho. A última foi em agosto ou setembro. Depois teríamos outra, mas eu não pude. Agora ele entrou em campanha. Acredito que no final de janeiro combinaremos a próxima.

ÉPOCA - Essas palestras são pagas?
Di Franco -
Não é um trabalho profissional, é uma atividade de formação cristã.


ÉPOCA - O senhor não acha que a proibição de ir ao cinema, teatro ou estádio de futebol conflitua com seu trabalho de jornalista?
Di Franco -
Para mim nunca foi problema. Não é que não pode, a expressão está mal colocada. Não vai ao cinema porque não quer ir ao cinema. Os numerários vivem, voluntariamente, uma série de abstenções em função de sua entrega como numerários.

ÉPOCA - Como o senhor faz com o cilício?
Di Franco -
O cilício é uma mortificação corporal ultratradicional na Igreja. Se você falar com qualquer pessoa que viva o cristianismo é a coisa mais corriqueira e comum.

ÉPOCA - O senhor usa, duas horas por dia?
Di Franco -
Sim, como qualquer numerário.

ÉPOCA - Quando o senhor está com o cilício se concentra no sofrimento de Cristo?
Di Franco -
Essa pequena mortificação você oferece por várias intenções. A partir de hoje vou oferecer para você.

ÉPOCA - Não é necessário.
Di Franco -
Como colega. O incômodo se oferece.

ÉPOCA - É muito difícil o celibato?
 Di Franco - Qualquer pessoa tem desejo, é normal. Eu sinto atração pelas mulheres, claro que sinto, sobretudo pelas bonitas.

ÉPOCA - O senhor é virgem?
Di Franco -
Você está entrando em território perigoso. Mas sou, se quer saber sou.



A ESTRUTURA DA OBRA
A maioria dos membros são leigos. Eles se dividem nas seguintes categorias
Numerários: Membros celibatários que vivem em centros da Obra e cumprem um rígido programa diário de rezas e rituais. Comprometem-se com a probreza pessoal e a obediência irrestrita aos superiores. Os ganhos auferidos na atuação profissional são administrados pela instituição, assim como o patrimônio. Mulheres e homens vivem separados
Supernumerários: Podem casar e constituir família. Espera-se que tenham muitos filhos e os orientem para servir à Obra. Sua contribuição financeira deve ser equivalente aos gastos com mais um filho
Adscritos: Assumem as mesmas obrigações que um numerário, mas não vivem nos centros
Adjuntos: Numerários que ainda não vivem em casas da Obra, em geral com menos de 18 anos
Auxiliares: Numerárias que realizam as tarefas domésticas do centro. A maioria é recrutada na zona rural
Sacerdotes numerários: Aqueles que são ordenados padres
Cooperadores: Não são membros da Obra, mas colaboram financeiramente com ela. Podem ser não-cristãos e inclusive ateus

A vida íntima do Opus Dei

Revista Época

12/01/2006

Dissidentes brasileiros travam uma guerra contra a poderosa prelazia do papa e revelam segredos até então bem guardados 

Eliane Brum e Débora Rubin

Quando era do Opus Dei, Antonio Carlos Brolezzi foi obrigado a usar um macacão antimasturbação. O equipamento se destinava a combater a 'doença' que seu confessor diagnosticou como 'erotismo mental'. Tratava-se de uma calça jeans e uma camisa de flanela costuradas uma na outra e vestidas de trás para a frente com o objetivo de impedir o jovem de 20 anos de alcançar a parte mais íntima de sua anatomia. Brolezzi, hoje um bem casado professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, tem se dedicado a narrar em tom confessional as lembranças sexuais de uma década dentro da poderosa prelazia do papa.

O CORPO É O INIMIGO
Os numerários têm de usar o cilício duas horas por dia, no alto da coxa (como mostra a imagem acima). A mortificação evoca o sofrimento de Cristo na cruz. Disse o fundador da Obra: 'Trata o teu corpo com caridade, mas não com mais caridade que a que se tem com um inimigo traidor'


Pela primeira vez no Brasil, dissidentes retiram o manto de silêncio que envolve a 'Obra de Deus' (em latim, Opus Dei)e dedicam-se hoje a exibi-la em praça pública - alguns deles com uma sanha digna daquelas ex-mulheres que, na recente crônica política do país, enlamearam a imagem de figurões da República. Nada podia ser pior para uma instituição que usa a discrição como estratégia. A vida íntima do Opus Dei está sendo devassada. Dividido em duas partes - 'Memórias sexuais de um Numerário' e 'Manual do Ex-Numerário Virgem' -, o livro de Brolezzi deverá ser o próximo míssil editorial lançado contra a ultraconservadora organização católica.

Os 'numerários' a que se refere o livro são a espinha dorsal da Obra: os leigos celibatários que vivem nos centros da instituição e cumprem um ritual diário de rezas e mortificações. Já os supernumerários podem casar, ter filhos e patrimônio próprio. Na Espanha, onde o movimento foi fundado em 1928, já existe uma espinhosa bibliografia com relatos de ex-membros. No Brasil, porém, onde o Opus Dei só aportou no fim dos anos 50, a organização havia conseguido manter seus adeptos e suas práticas em segredo, obediente ao figurino pregado pelo fundador, Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975). Em Caminho, o guia do Opus Dei, Escrivá enfatiza: 'O desprezo e a perseguição são benditas provas de predileção divina, mas não há prova e sinal de predileção mais belo do que este: passar oculto'. Agora esse ideal tornou-se inalcançável também no maior país católico do mundo.


A declaração de guerra, no fim de outubro, foi o lançamento do livro Opus Dei - Os Bastidores (Verus Editora), escrito por três dissidentes da Obra. Um deles, Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da USP, havia vivido 35 anos como numerário. Lauand era uma das figuras mais populares da ordem até abandoná-la, há dois anos. Conhece como poucos sua atuação no Brasil. Ao deixá-la, tornou-se uma pedra no meio do caminho da obra de Escrivá.

O segundo ataque foi lançado pela mãe de um numerário, Elizabeth Silberstein. Usando o apelo de uma mãe em luta para resgatar o filho das 'garras da seita', ela escreveu e lançou em dezembro o livro Opus Dei - A Falsa Obra de Deus - Alerta às Famílias Católicas. A publicação, bancada por ela, copia a estrutura de um manual para pais que tiveram seus filhos seqüestrados pelas drogas. Ao Opus Dei é reservado o papel de traficante. O quinto capítulo, por exemplo, é intitulado 'Alerta: meu filho foi captado por eles! O que posso fazer?'.

As denúncias poderiam ser apenas uma daquelas constrangedoras brigas de família se o Opus Dei não fosse a única prelazia pessoal do papa - e a Igreja Católica a mais poderosa instituição religiosa do Ocidente. Desde o lançamento em 2003 do best-seller de Dan Brown O Código Da Vinci (mais de 40 milhões de exemplares vendidos), a Obra vive sob incômodos holofotes. No enredo, a organização é capaz de cometer assassinatos para impedir a revelação de verdades indesejáveis sobre Jesus. O fato de ser uma história de ficção não impediu arranhões profundos na imagem do Opus Dei. Para piorar, o filme baseado no livro estreará em maio, com Tom Hanks no papel principal e vocação de blockbuster. O momento, portanto, é propício para os membros da prelazia evocarem o ensinamento do fundador: 'Não pretendas que te compreendam. Essa incompreensão é providencial: para que o teu sacrifício passe despercebido'.


No Brasil, a reação dos dissidentes organizou-se a partir da criação de um site na internet, o www.opuslivre.org - quartel-general virtual em que ex-adeptos trocam confidências e dicas de 'sobrevivência'. Antonio Carlos Brolezzi conta que quando recebeu o primeiro e-mail do site teve uma tremedeira. 'Tive pesadelos e disse que não queria mais receber aquele tipo de correspondência', conta. 'Responderam-me que tudo bem, mas que havia chegado a hora de botar a boca no trombone e exorcizar os fantasmas. Antes, quem saía da Obra ficava isolado. Com a internet as pessoas passaram a conversar. Parei de tremer e decidi escrever o livro.'

Numerários influentes, como o jornalista Carlos Alberto Di Franco, enfrentam o fenômeno com o estoicismo pregado por Escrivá. 'A campanha difamatória é dolorosa, mas ao mesmo tempo será boa para a Obra no Brasil porque é o sinal da cruz de Cristo', afirma Di Franco. 'A contradição, a calúnia e a difamação sempre tiveram um papel na história da Igreja. Não há cristianismo sem cruz.'
Dom Geraldo Majella Agnelo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, disse a ÉPOCA que, se algum membro da prelazia procurar a CNBB com denúncias de violação de direitos humanos, ele encaminhará o assunto à Santa Sé. 'Como instituição, o Opus Dei foi aprovado. Mas, se há erros, aí é diferente.

Eles devem ser apontados e comprovados para ser julgados por autoridades competentes.' O escritório de informação do Opus Dei no Brasil, em resposta por escrito, afirma que a Obra já havia passado pela experiência de ser criticada por ex-membros em outros países. 'Ainda que a imensa maioria dos que se aproximam das atividades apostólicas e formativas do Opus Dei conserve sempre um enorme carinho e agradecimento, não é de estranhar que ocorram algumas exceções', diz João Gustavo Racca, do escritório brasileiro.


Erra quem vê o Opus Dei como um entre tantos movimentos católicos conservadores, como Arautos do Evangelho, TFP e Focolare. Desde que João Paulo II a ungiu com o status de prelazia pessoal, em 1982, a Obra tornou-se oficialmente corpo e sangue da Igreja. Prevista pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e incorporada pelo Código de Direito Canônico, essa nova figura jurídica garantiu ao Opus Dei um duplo privilégio. Por um lado, espalha-se pelo mundo sob o escudo da tradição milenar da Igreja de Roma. Por outro, é independente dos bispos e dioceses. A Obra só obedece ao prelado, cargo vitalício hoje ocupado por dom Javier Echevarría. E ele só presta contas ao papa.

Dentro do Vaticano, o Opus Dei incomoda os cardeais mais progressistas, que assistiram alarmados às demonstrações de entusiasmo de João Paulo II. A canonização do fundador da Obra aconteceu em tempo recorde para os padrões da Igreja, apenas 27 anos após sua morte. Bem diferente, por exemplo, do caso de José de Anchieta, cuja patente de santo é uma causa antiga dos brasileiros: o jesuíta morreu em 1597, mas só se tornou beato em 1980 e não há estimativa de quando possa virar santo. Antes da canonização, Escrivá era uma figura controversa. Jesuítas espanhóis o acusavam de criar uma 'maçonaria dentro da igreja' e até de promover 'uma nova heresia'.

Bento XVI é mais sóbrio na exposição de seus afetos que seu antecessor, mas a obediência dos membros do Opus faz da instituição um aliado valioso em um mundo onde a maioria dos fiéis prefere escolher as próprias opiniões.

'Obedecei, como nas mãos do artista obedece um instrumento 
- que não se detém a considerar por que faz isto ou aquilo - 
certo de que nunca vos mandarão coisa que não seja boa 
e para toda a Glória de Deus', 
aconselha Escrivá.


Em Opus Dei - Um Olhar Objetivo para Além dos Mitos e da Realidade da Mais Controversa Força da Igreja Católica, o jornalista especializado em Vaticano John Allen Jr. compara a Obra a uma Guiness Extra Stout. Como a tradicional cerveja irlandesa, em um mercado repleto de produtos diet, light e até sem álcool, o Opus Dei é um reduto de tradição em meio a um catolicismo que, desde o Concílio Vaticano II, tomou vários atalhos em sua vivência cotidiana.

Seu livro, lançado no fim de 2005, ainda sem tradução no Brasil, é o representante mais recente de uma ampla bibliografia destinada a produzir um retrato do Opus Dei isento de paixões. Como a cerveja preta e extra-forte, a organização sempre terá, segundo o autor, um número fiel de seguidores para os quais representa uma âncora irremovível num mundo movediço.

Quem pertence ao Opus Dei não tem dúvidas nem relativismos numa sociedade povoada por ambos: pensa com a Igreja e vive como o papa manda.

'A Igreja Católica não é uma democracia'
diz a numerária Maria Lúcia Alckmin.

 Para membros da Obra, parte significativa dos católicos não passa de 'católicos de censo' - que servem para expandir as estatísticas, mas seguem apenas as crenças pessoais. Em Caminho, Escrivá demonstra desprezo com relação a essa humanidade supostamente sem ideal: 'Que conversas! Que baixeza e que... nojo! - e tens de conviver com eles, no escritório, na universidade, no consultório... no mundo'.

Com apenas 85 mil seguidores - 1.700 no Brasil -, o Opus Dei é irrelevante do ponto de vista quantitativo. Mas seus admiradores são estimados na casa dos milhões. Em 1950, num lance ousado, Escrivá conseguiu inédita autorização do Vaticano para aceitar cooperadores (leia-se financiadores) não-católicos e não-cristãos. Assim, a Obra tem apoiadores espalhados pelo mundo das mais variadas doutrinas - inclusive aqueles que nem sequer acreditam na existência de Deus. Além de aumentar o poder de penetração do movimento nas diversas instâncias da sociedade, os cooperadores representam uma boa fonte de recursos. O vaticanista Allen estima o patrimônio da organização em US$ 2,8 bilhões - pouco se comparado ao da Igreja nos Estados Unidos (US$ 102 bilhões), muito se o parâmetro for a quantidade de membros.

Cada numerário é obrigado a deixar salário e patrimônio para o Opus Dei.

 'Quando completei cinco anos na Obra, tive de lavrar um testamento deixando minha herança para a instituição', conta o ex-numerário David Fernandes, engenheiro do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). 'Quando saí, não me devolveram nada, mas acredito que não tentem me tomar as coisas. Se a Obra é tão boa, por que não há uma plaquinha na frente de cada centro dizendo o que são?'

A grande força do Opus Dei é sua proposta de 'santificação no meio do mundo'. Escrivá construiu a biografia para tornar-se 'o santo do cotidiano': 'elevar o mundo a Deus e transformá-lo a partir de dentro'. Em lugar de padres e freiras confinados em conventos ou dioceses, o exército de leigos da Obra vive em centros e cumpre o celibato, mas atua em postos estratégicos na sociedade como peças de uma engrenagem. Como diz Escrivá: 'Que preocupação há no mundo por mudar de lugar! Que aconteceria se cada osso, se cada músculo do corpo humano quisesse ocupar um posto diferente do que lhe compete? Não é outra a razão do mal-estar no mundo. Persevera no teu lugar, meu filho; daí, quanto poderás trabalhar pelo reinado efetivo do Senhor'.

 O numerário começa por obedecer ao 'plano de vida espiritual' com uma lista de obrigações diárias: duas orações mentais de meia hora, cinco minutos de leitura do Evangelho e dez de leitura espiritual, reza do terço, missa, comunhão seguida por dez minutos de ação de graças, meditação dos mistérios do rosário, reza das preces da Obra, exames de consciência particular e geral, reza de três ave-marias com os braços em cruz pedindo a castidade antes de dormir, aspersão de água-benta na cama para afastar as tentações do demônio. Uma vez por semana encontra-se com o diretor espiritual para uma 'conversa fraterna'. Nela, nada pode ser escondido. A etiqueta manda iniciar pelas revelações mais vergonhosas, obedecendo ao princípio da 'sinceridade selvagem'. 'Além de tudo isso, eu ainda ensinava na universidade. Voltava tarde e tinha de preparar aulas. Comecei a apresentar sintomas psicológicos estranhos, entrava em pânico', conta um engenheiro que deixou a Obra em novembro, depois de 24 anos. 'Pensei que acabaria morrendo se continuasse ali. Apavorado, fiz minhas malas e fui para um hotel.'

A liberdade religiosa, o direito de fazer o que bem entende com seu corpo e a livre manifestação são valores indiscutíveis. Quem pertence ao Opus Dei acredita que beijar o chão ao acordar e bradar 'Serviam' ('Eu servirei', em latim), cumprir rotina rígida e obedecer sem duvidar são um conforto e uma fonte de felicidade. Para os dissidentes, é lavagem cerebral - uma estratégia que usa a fé e a Igreja Católica para controlar e influenciar o mundo. São Escrivá teve o cuidado de reservar um ensinamento para esse impasse: 'Isso - o teu ideal, a tua vocação - é... uma loucura. E os outros - os teus amigos, os teus irmãos - uns loucos... Não tens ouvido, por vezes, esse grito bem dentro de ti? Responde, com decisão, que agradeces a Deus a honra de pertencer ao 'manicômio''.
 #Q:Entrevista com Antonio Carlos Brolezzi, ex-numerário e autor de um livro com dicas para quem abandona a obra:#





Memórias sexuais
Ex-numerário escreve um livro com dicas para quem abandona a Obra e quer reabilitar o desejo

Dez anos depois de abandonar o Opus Dei, Antonio Carlos Brolezzi escreve um livro em tom confessional sobre a Obra e o sexo. Dividido em duas partes, a primeira vai se chamar 'Memórias Sexuais de um Numerário' e a segunda 'Manual do Ex-Numerário Virgem'. Com 40 anos hoje, Brolezzi só perdeu a virgindade aos 30. Professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP, casado pela segunda vez e pai de uma filha, ele conta algumas de suas lembranças na seguinte entrevista.

ÉPOCA - Como entrou para o Opus Dei?
Antonio Carlos Brolezzi -
Ninguém vai para o Opus conhecendo a proposta, eles disfarçam. Me convidaram para um curso de Astronomia com professores da USP. Achei estranho que não havia meninas, mas pensei que elas não se interessavam pelo tema. Eu era office-boy, não me vestia bem. Lá o pessoal se vestia bem, eu achava superchique. A gente tem vontade de se aproximar porque são pessoas que parecem os elfos do Senhor dos Anéis, seres meio distantes mas ao mesmo tempo admiráveis. Imagine que eu pensava que aqueles caras tinham namoradas sensacionais, superintelectuais também. Só depois, quando entramos, é que descobrimos que é tudo montado. Quando eu entrei na USP para cursar Matemática começaram a me ligar, não me deixavam em paz um segundo. Criaram uma crise artificial de vocação. Vendem que somos especiais, que temos uma luz na testa, e ficamos seduzidos. Passamos a ter acesso a uma porta secreta, mostram uma sala onde só eles se reúnem.

Você passa a ter uma vida secreta, não pode contar a sua família. Dá um passo aos 20 anos que só você sabe. Fazendo uma analogia com Harry Potter, é como se o Opus fosse o mundo dos magos e fora de lá o dos trouxas, que desconhecem a magia.

ÉPOCA - Que memórias sexuais tem alguém que não podia nem sequer pensar em sexo?
Brolezzi -
Eu acho muito interessante olhar para o Opus Dei sob o ponto de vista da sexualidade. Quando eu fui para o centro tinha 19 anos e nunca havia tido uma relação sexual. Foi chocante para mim quando decidiram que eu não podia mais dar beijo no rosto de colega na faculdade. Um dia uma colega veio me dar um beijo e eu virei a cara. Foi o que o Opus chama de 'ato heróico', mas eu passei a noite chorando. A idéia deles é que você ganha as batalhas fazendo pequenas coisas. Não é 'eu não vou transar', é 'eu não vou olhar'. Se tem uma revista de mulher pelada numa banca, você precisa atravessar a rua. Uma vez eu vi uma bunda numa revista e contei para o diretor. Ele falou: 'Essas revistas pintam as fotos. Porque não é rosa, é marrom, marrom!'. Ele gritava, acho que se referia ao ânus. Queria que eu visse sujeira nessas coisas. Em 1991, vi uma folha rasgada na rua, com uma loira, de quatro, que dava para ver a vagina por trás. Fiquei espantado. Esse negócio de não poder olhar tem efeito contrário, isso aconteceu em 1991 e eu nunca esqueci. No meu livro terá um capítulo chamado 'Como é a vagina'.

ÉPOCA - Como assim?
Brolezzi -
Uma vez eu fiz um desenho de uma mulher nua num caderno e fui me confessar. O confessor queria saber como eu desenhei se nunca tinha visto. Eu disse que imaginei como se fosse uma boca, só que na vertical. Ele riu, deu a entender que eu era um ignorante.

ÉPOCA - E como foi ver uma de verdade?
Brolezzi -
Foi a primeira broxada. Tinha 30 anos, era virgem, tinha acabado de sair da Obra e arrumado uma namorada. Fomos a um motel e ela perguntou: 'Você tem camisinha?'. Eu disse que não, e ela falou para eu pedir pelo telefone. Eu nem sabia o que era camisinha, imaginava que se comprava numa casa escura, que precisava de uma senha. No centro, quando falavam de sexo, falavam contra a camisinha. Pedi cinco, todo constrangido. Ela ficou toda feliz, mas eu não usei nenhuma. O motel tinha uma luz meio apagada, meio vermelha, aquilo soava como o antro do demônio. Ela tirou a roupa, se deitou e eu imaginei que tinha de deitar em cima dela, só que meu pênis estava murcho. Me veio na mente a maldição que eles me lançaram quando eu saí. Disseram que Deus tinha me feito para ser solteiro, então eu podia não funcionar. Falaram que se eu tivesse um filho ele poderia nascer deformado. Quando broxei, pensei que eu era um cara estragado. Fiquei dez anos na Obra e passei dez anos fora dela tendo tremedeira e uma sensação de terror cada vez que ouvia ou lia o nome Opus Dei. Só quando conheci Viviane e nasceu minha filha, Alice, é que consegui superar.

ÉPOCA - Como conseguiu transar, afinal?
Brolezzi -
Vou até dar umas dicas no livro para quem sai da Obra. Você precisa ter amizade com o sexo feminino, primeiro. Conversar, dançar, para quebrar o esquemão de numerário, de não poder olhar para mulher. Ir sentindo que a mulher não é um dragão.

ÉPOCA - Você chegou a vestir um macacão antimasturbação para que não se tocasse. Tinha muita culpa de se masturbar?
Brolezzi -
Quem se masturba não pode nem comungar. Por isso, nos últimos minutos de oração, o padre se recolhe na sacristia. Se você se masturbou à noite, vai lá e se confessa. Nos centros grandes a fila era enorme nessa hora, afinal, um monte de moleques de 20 anos. Eu dormia rezando o terço para não ter tentação. Os devotos que me desculpem, mas muitas vezes acordava com ele enrolado no pênis.

ÉPOCA - Por que chegou a hora de exorcizar os fantasmas escrevendo um livro?
Brolezzi -
Quero falar com naturalidade sobre tudo isso. Você mortifica os cinco sentidos, precisa combater cada um deles. Se você gosta de olhar para uma janela, decide que não vai olhar. Se gosta de sal, passa a comer sem sal. Faz coisas como não encostar na cadeira, não ouvir mais música. Somos treinados a imaginar que o cheiro do sexo é ruim. Por isso quero escrever, porque para mim foi problemático fazer essa desprogramação. Quero falar no livro sobre casamento, porque nós tínhamos palestras em que o padre nos falava que os supernumerários (membros casados do Opus Dei) reclamavam que a mulher cheirava a alho e a fritura, que tinham de tomar banho de novo, que era chato e desgastante. É como explicar a normalidade para uma pessoa que achou que a normalidade era anormal. Quem sai tem de entender que quando você casa às vezes você briga e sua mulher não precisa ser santa, que não dá para fazer a 'correção fraterna' (quando um numerário chama a atenção do outro por pequenos erros cometidos) na sua mulher. No começo do meu casamento eu fiquei superneurótico com esse negócio das toalhas, por exemplo. Achava que tinha de ter lugar certo, corrigia minha mulher. Eles também sempre ridicularizavam quem tinha filho, que filho chorava, tinha doença. Quando saí, disseram que eu só arrumaria uma bruxa para casar.

ÉPOCA - Qual vai ser o último capítulo?
Brolezzi -
Sobre o sentido da vida. Quero dizer que ninguém sabe qual é o sentido e é preciso se acostumar com isso. O sentido da vida não está escondido com algumas pessoas, é você quem vai dar. Para mim, é ficar com a minha mulher, olhando revista e planejando a casa que a gente vai construir. O que importa é tomar sua história nas mãos e ter a memória apaziguada.
#Q:Pais versus filho numerário:#



'Roubaram meu filho'
Mãe de numerário, Elizabeth Silberstein lançou um manual de alerta às famílias católicas contra 'a falsa obra de Deus'

'Meu filho tinha 14 para 15 anos quando foi a um centro cultural do Opus Dei para fazer um curso de Redação. Foi convidado por um amigo do colégio. Apitou (tornou-se oficialmente numerário da Obra) aos 24 anos. Tinha acabado de levar o fora de uma namorada. O pessoal do Opus ligava 15 vezes por dia para a nossa casa. Pensei que eram amigos bacanas preocupados com o sofrimento dele. Quando falou que havia se tornado numerário, começou a chorar muito, e eu lhe perguntei por que não tinha nos contado antes. Ele disse que nós não entenderíamos. Essa é uma das frases-chave que eles põem na cabeça dos meninos. Para eles, os pais são os demônios que querem tirar a vocação. Em qualquer ordem da Igreja Católica, os seminaristas passam por vários testes para ter certeza da vocação. No Opus, ela é imposta. Eu propus ao diretor que meu filho passasse um ano de experiência, sem abandonar as atividades normais. Ele respondeu que eu tinha toda a razão e imediatamente o mandou para um retiro. Depois disse que lá não havia telefone. Eu e o pai dele fomos à polícia, descobrimos o telefone e chegamos ao retiro. Depois o diretor do centro ligou pedindo desculpas por ter mentido que não havia telefone onde meu filho estava. Quando entendi o que era ser numerário do Opus, chorei cinco anos sem parar. Tive o diagnóstico de depressão pós-traumática. Faz quatro meses que levantei. Aí disse: 'Chega'. E resolvi escrever o livro. Se eu evitar que uma única família passe pelo que passamos, já valeu a pena. A gente se prepara para não perder os filhos para as drogas e para a violência. Ninguém se preocupa em perder o filho para a religião.'


'Meus pais precisam rezar'
O numerário Augusto Silberstein diz que a família tem ciúme da Obra e frustração porque ele entregou a vida a Deus
Aos 29 anos, no Opus Dei há cinco, Augusto Silberstein faz pós-graduação em Administração e é subdiretor de um centro no Rio. Deu a seguinte entrevista a ÉPOCA.

ÉPOCA - Você acha que seus pais estão errados ao criticar a Obra?
Augusto Silberstein -
Meus pais têm uma apreciação errada da realidade por causa da paixão. É como usar óculos escuros. Se você põe um, tudo o que enxerga é escurecido. Eles têm de tirar os óculos para enxergar o lado bom da Obra, que é uma instituição maravilhosa. Me incomoda quando apresentam o Opus Dei assim porque parece que eu sou um fanático. Mas amo meus pais de coração. Acho que, como eu, meus pais têm de rezar.

ÉPOCA - Mas por que você acha que eles enxergam dessa maneira?
Silberstein
- Ciúme é uma das paixões. Imagine que você gosta muito de uma pessoa e se casa com ela. Aí entra a sogra. Ela vê que o filho está apaixonado, que uma pessoa está roubando o filho dela. Mas não é verdade. Também há uma certa frustração por eu não ter seguido o script que eles queriam. No meu caso, resolvi entregar minha vida a Deus.

ÉPOCA - Como você lida com o cilício?
Silberstein -
O cilício aparentemente choca, parece absurdo, medieval. Mas o Opus aproveita uma série de coisas antigas numa realidade nova. Acho que as pessoas não se escandalizam por causa da dor, porque hoje elas se submetem a coisas que provocam dor e que são desagradáveis só para ficar bonitas. O que escandaliza as pessoas é fazer algo desagradável por Deus.

ÉPOCA - Como é seu cotidiano? Com relação a livros e filmes, por exemplo?
Silberstein -
Como qualquer pai de família preocupado com a formação, a Obra tem de se preocupar com que não entre bobagem na cabeça dos filhos. Um numerário não pode ir ao cinema, mas não quer dizer que cinema seja bobagem. A gente assiste a filmes nos centros.

ÉPOCA - Qual foi o último filme que viu?
Silberstein -
Batman! É ótimo.

ÉPOCA - E livros?
Silberstein -
Livro que fala mal da Igreja, que te deixa deprimido, não pode. Nos centros há bibliotecas com bons livros.

ÉPOCA - O que está fora não é aconselhável?
Silberstein
- Exatamente.

ÉPOCA - Quais os autores que você sabe que não são bem vistos?
Silberstein -
(José) Saramago, por exemplo. Por que você vai ler uma coisa que fala mal do que você ama?



Os anos sombrios
Depois de mais de uma década na Obra, Thelma Pavesi luta para amarrar os pedaços da vida que deixou para trás

'Eu era uma das melhores da turma no curso de Química, da Unicamp. Namorava há sete anos, pretendia me formar e casar. Fui convidada por uma colega para assistir aulas de doutrina católica. Fui apenas para ser simpática. E continuei freqüentando por causa da insistência da moça que me 'tratava', é assim que eles dizem. Ela era responsável pela 'moça de São Rafael'', como chamam a garota que tem chances de 'apitar', entrar para a Obra. No caso, eu.

Essa pessoa faz um levantamento sobre a sua vida, situação financeira, profissional, amorosa. Ela foi entrando na minha intimidade até perguntar se eu era virgem. Se não fosse, seria um critério para desistirem de mim. Para apitar, eles criam uma crise vocacional. Dizem: 'Deus te chama. E chama só uma vez''.

Chegou a um ponto em que eu não conseguia mais trabalhar, comer, dormir porque Deus esperava a minha resposta. Fui instruída a desmanchar o namoro. Quando finalmente apitei senti alívio porque fiz o que esperavam de mim. No dia seguinte passei por um enorme arrependimento, mas já tinha dado a minha palavra a Deus. Se desistir você é uma traidora, uma Judas, é inferno certo.

Exerci lá dentro diversos cargos, comandei casa de retiro, tive de deixar meu emprego de professora. Cuidei da parte financeira, embora não faça a menor idéia de para onde vai o dinheiro. A TV ficava chaveada. Fiz coisas como colar um vestido sobre as pernas da Ivete Sangalo, no jornal, que era sempre censurado. Fui ensinada a olhar para um homem como se fosse uma espiga de milho. Quando não suportei mais e disse que queria ir embora, me ofereceram remédio. Já estava em uma casa em que a maioria tomava medicamentos com tarja preta. Entrei em depressão. Fiz tratamento. Quando melhorei, comecei a pensar em como arranjar dinheiro para ir embora, já que meu cheque, cartão e passes ficavam retidos pela Obra. Consegui um jeito de fazer caixa dois e juntei um dinheirinho. Encontrei um quartinho para alugar e me mudei. Saí há três anos, no dia da missa em homenagem ao fundador. A primeira coisa que eu fiz foi ir ao cinema. Entrei num filme qualquer, nem me lembro qual, mas adorei a sensação de liberdade. Eu tinha pedido no meu aniversário para assistir ao filme 'Uma mente brilhante' (ganhador de quatro Oscars) e não permitiram. Hoje tenho 39 anos, estou sem namorado, sem emprego e lidando com o fato de talvez nunca ser mãe. Não vejo esses 13 anos no Opus como algo que eu precisava passar, mas como uma manipulação que não quero que se repita na minha vida.



Marcelo Rudini/ÉPOCA
CONTROLE O professor Renato da Silva teve seus arquivos violados pelos superiores
Invasão de privacidade
Renato da Silva foi expulso depois que o subdiretor violou seus arquivos e considerou um e-mail suspeito
'Entrei para a Obra em 1982, aos 17 anos. Estudava em uma escola católica e vi um panfleto sobre orientação profissional. Fui, sem saber que era do Opus Dei. Quando minha família soube, eu estava na Obra havia três anos. Em 1989, fui enviado para o sul e consegui emprego em uma universidade federal.

Professor universitário é uma posição estratégica e eles não tinham ninguém lá. Sou doutor em Ciência da Computação pela USP e sempre valorizei a Internet, mas notei que havia uma atitude hostil a ela. Começaram a baixar normativas dizendo que só haveria um computador por casa, que deveria ser desligado à noite e que ficaria em local público. Fiz um dossiê de 82 páginas e encaminhei à comissão regional questionando as regras. Jamais pensara em sair da Obra. Como aprendi: ''Meu lugar é aqui, para o bem ou para o mal'. Mas em 2003 fui ao Rio a trabalho. Quando voltei, o subdiretor me disse: 'Na sua ausência, fiz uma coisa que não deveria ter feito, mexi nos seus arquivos e achei um negócio que levei ao diretor'. O diretor falou: 'Isso é tão sério que eu encaminhei à comissão regional e eles decidiram que é grave, você está confuso e não deve mais ficar aqui.' Perguntei o que poderia ser. Não me disseram. Não sabia para onde ir, depois de 21 anos vivendo em um centro do Opus. Lembrei do Jean (Lauand, hoje também dissidente), que era numerário mas morava sozinho. Passamos a noite em claro conversando. Entrei em depressão e tive que fazer tratamento. Hoje, aos 40 anos, concluí que você passa por um condicionamento muito forte, baseado na culpa. Segundo os psicólogos, é lavagem cerebral. Só depois descobri porque havia sido expulso. Era um e-mail, rascunho de um texto com perguntas incômodas para o diretor espiritual. Eu mal tinha lido, não tinha dado muita importância.'




Opus Dei: o sofrimento das "domésticas" da organização

revista epoca

06/07/2007

por Eliane Brum

O fundador do opus dei, o espanhol Josemaría Escrivá de Balaguer, costumava dizer que a espiritualidade é mais importante que a sabedoria para quem deseja se entregar a Deus. É o preceito de número 946 de seu livro mais popular – Caminho. Escrivá fazia uma ressalva: “Quanto a elas (as mulheres), não é preciso ser sábias; basta que sejam sensatas”. A baiana Rosidalva Julião afirma que não era uma mulher sensata quando ingressou num centro do Opus Dei para lavar, limpar e fabricar os instrumentos de martírio corporal usados pela controversa organização da Igreja Católica.

 REFÉM
Rosidalva Julião diz que o Opus Dei isola as numerárias auxiliares, 
responsáveis pelos serviços domésticos, para que não consigam sair

Em menos de dois anos, ex-integrantes e familiares de membros ativos do Opus Dei publicaram seis livros no Brasil. A mais recente ofensiva editorial revela a vida cotidiana das mulheres entre as paredes da Obra de Deus, tradução da expressão latina Opus Dei. Rosidalva é a personagem real de dois títulos: O Opus Dei e as Mulheres (Panda Books) e Sob o Jugo do Opus Dei – este último lançado no fim de junho. Seu depoimento ilumina, pela primeira vez, uma figura obscura da organização. Rosidalva era numerária auxiliar, única categoria restrita ao sexo feminino.

Dois tipos de membros vivem em centros do Opus Dei: os numerários e as numerárias auxiliares. Os homens são separados das mulheres. Os numerários são leigos celibatários de ambos os sexos. Têm curso superior, e a maioria desempenha suas atividades em postos estratégicos da sociedade. A força do Opus Dei é, segundo os preceitos, “a santificação no meio do mundo”. No Brasil, a organização começou a atuar no fim dos anos 50. Boa parte dos primeiros numerários foi recrutada entre os melhores alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

As numerárias auxiliares, não. De origem humilde, elas são recrutadas em zonas rurais e nas periferias das grandes cidades. Na prática, são as domésticas do Opus Dei. Com algumas diferenças. Não podem casar, namorar nem fazer sexo. Sua carteira de trabalho é assinada pela secretária ou administradora do centro. Ao ingressar na Obra, a aceitação das regras é automática. Uma delas é doar o salário. Como a própria organização as remunera, elas vivem uma situação ambígua: nem sequer chegam a receber o dinheiro e passam a depender da administração para todas as suas necessidades.

“Eu era uma escrava”, afirma Rosidalva. 
 “Diziam que meu salário era para Deus. Mas eu tinha de assinar os recibos.”
 
Ela foi recrutada aos 20 anos, no ponto de ônibus. Havia acabado de chegar a São Paulo, vinda de Salvador. Esperava conseguir um emprego e terminar o ensino médio para fazer faculdade de Fisioterapia. “Conheci uma auxiliar no ponto de ônibus. Ela disse que trabalhava num lugar maravilhoso, que eu iria lidar com administração e poderia estudar”, diz Rosidalva. “Depois de seis meses, eu queria ir embora, mas insistiam que Deus tinha me escolhido e que eu estava virando as costas. Era uma pressão terrível. Eu não queria ter vocação, mas afirmavam que eu tinha. Jesus Cristo era meu amigo. Virou meu patrão.”

Quando precisam de um médico ou dentista, as auxiliares são encaminhadas a profissionais ligados à Obra. Em geral supernumerários – a categoria dos membros casados. Elas raramente saem à rua. Quando isso acontece, costumam ser acompanhadas. Não podem ir ao cinema. Só lhes é permitido ler os livros autorizados pela instituição. Jorge Amado e José Saramago, por exemplo, são escritores vetados pelo Opus Dei. A TV é trancada a chave.

Uma vez por semana, as auxiliares são submetidas à “conversa fraterna”. No ritual contam à “diretora espiritual” tudo o que pensaram e sentiram, usando o que o fundador chamava de “sinceridade selvagem”. São aconselhadas, como os demais numerários, a começar sempre pelos “sapos mais gordos”. “Em duas ocasiões, fiz as malas para ir embora, mas tive de desfazer”, diz Rosidalva. “Não tinha nenhum dinheiro, não conhecia ninguém fora do centro e minha família estava longe.”

No Sítio da Aroeira, no município paulista de Santana do Parnaíba, as numerárias auxiliares são responsáveis também pela fabricação de instrumentos de martírio corporal: o cilício – uma tira de arame com pontas usada no alto da coxa durante duas horas por dia – e as disciplinas – um chicote de corda trançada usado para açoitar as nádegas nuas uma vez por semana. “Para fazer o cilício, é preciso cortar os arames com um tipo de alicate de bijuteria. Como no início eu não sabia fazer direito, sem querer cortava enviesado. Aí machucava mais, porque ficava pontudo, entrando mais na carne”, diz Rosidalva. “O padre elogiou esse fato e pediu à diretora para me dizer que estava muito bem-feito. A orientação era experimentar o cilício depois de pronto. Se não machucasse, era necessário desmanchar e refazer.”



O uso do cilício e da disciplina é a característica que mais instiga a imaginação do público no que se refere ao Opus Dei. O objetivo da mortificação corporal é evocar o sofrimento de Cristo para fazer a caridade. Pode parecer estranho que, no século XXI, uma organização formada em sua maioria por profissionais liberais e acadêmicos use instrumentos de martírio. No Ocidente, porém, o respeito à autonomia do indivíduo é uma conquista de toda a sociedade. No Estado laico, toda escolha deve ser respeitada, desde que não viole a lei. Apesar de a Igreja Católica criticar o que considera um excesso de liberdades individuais no mundo moderno – especialmente quando se trata de escolhas na área da moral sexual –, as práticas de qualquer um de seus fiéis são merecedoras do direito à tolerância garantido a todas as fés.

A crítica de alguns dissidentes é que não escolheram seguir regras como a mortificação corporal. Além de produzir o cilício e as disciplinas, as numerárias auxiliares também são obrigadas a usá-los. “Por fazer cilícios e hóstias, fiquei com tendinite”, afirma Rosidalva. “Por usar o cilício, tenho até hoje pontinhos brancos nas coxas.”

Aos 32 anos, casada e com um filho pequeno, ela diz ter decidido escrever o livro “para conseguir viver”. “O Opus Dei era como uma infecção dentro de mim. Bloqueava toda a minha vida. Consegui um emprego de camareira de hotel. Quando fui arrumar os quartos, paralisei. Não conseguia me mexer, porque me lembrava dos centros. Fiquei desempregada”, diz. “Logo que saí, tinha pesadelos recorrentes. Sempre estava presa em um quarto quando começava a encher de água, pegar fogo ou ser invadido por ratos e baratas. Agora, botei tudo para fora e quero esquecer.” Hoje, Rosidalva é secretária de uma paróquia católica, em São Paulo.

ATAQUE EDITORIAL 
Os dois últimos lançamentos mostram o cotidiano das mulheres entre as paredes da Obra


Guerra de mães
Rosidalva divide as páginas do livro Sob o Jugo do Opus Dei com Josefa Rodrigues – mãe de uma numerária auxiliar. Desde o ano passado, Josefa e o marido, Francisco, movem uma campanha pelo site Orkut, chamada “Opus Dei – Libertem Taís!!!”. Filha do meio do casal, Taís foi levada a um centro do Opus Dei aos 17 anos para trabalhar. “Não sabíamos o que era Opus Dei. A Taís estava terminando o ensino médio e estávamos desempregados. A diretora do centro ligou perguntando se ela não queria fazer uma experiência. Quando surgisse um emprego melhor ou ela pudesse fazer faculdade, sairia”, diz Josefa. “Achei ótimo, porque estava em um lugar seguro, da nossa Igreja, que sempre foi referência para tudo na nossa vida. Então, autorizei.”


Taís nunca mais saiu. Hoje tem 23 anos e tornou-se numerária auxiliar. “Minha filha desistiu de fazer faculdade, afastou-se da família, virou um zumbi. Só então começamos a investigar e descobrimos o que era o Opus Dei. Ficamos horrorizados, mas já era tarde”, diz Josefa. “Não tenho nada contra ser empregada doméstica, mas não acredito que alguma mãe deseje esse futuro para sua filha. Ninguém escolhe essa vocação. A gente é pobre, mas hoje pobre chega à faculdade. Até entrar no Opus Dei, a Taís era uma ótima aluna e queria estudar.”

Francisco é caseiro de um sítio no município paulista de Itupeva. Ganha R$ 600 por mês. Em abril de 2006, comprou um computador em 18 prestações de R$ 120. Com a ajuda da filha caçula, ele e a mulher transformaram a internet numa arma. Mantêm ativa no Orkut a comunidade usada para denunciar o Opus Dei. Enviaram e-mails a todos os bispos do Brasil, ao Núncio Apostólico e até para a Embaixada do Brasil no Vaticano. “Imagina eu, um jardinheiro que não sabe nem falar. Agora estou no Orkut, no MSN”, diz Francisco.

O Opus Dei gerou algum barulho no início de sua história. Escrivá fundou a organização em 1928 e apoiou a ditadura franquista na Espanha. A Obra passou a maior parte de seus quase 80 anos aumentando sua influência na Igreja Católica sem chamar a atenção do mundo. Só ficou conhecida do grande público a partir de 2003, ao se tornar tema de um dos maiores best-sellers de todos os tempos – O Código Da Vinci, de Dan Brown. Mas esta era uma obra de ficção. A série de livros de não-ficção só foi possível no Brasil por causa da internet.

 Acima, um bilhete em que a garota diz para quem dedica suas mortificações 


Em 2003, um grupo de ex-numerários tomava chope e comia frango à passarinho no Senzala, tradicional bar de São Paulo, quando decidiram montar o site www.opuslivre.org. “A partir daí, o que era individual tornou-se coletivo.

Pessoas separadas pela distância e pelo tempo se encontraram na rede e descobriram que sentiam as mesmas coisas, tinham os mesmos problemas”, diz o ex-numerário Márcio Fernandes da Silva. Ele é um dos três autores de Opus Dei: os Bastidores (Verus Editora), o primeiro livro contra a Obra, lançado em 2005. Hoje, além do site, os dissidentes compartilham confissões em comunidades do Orkut. Uma delas, a “Opus Dei Brasil”, tem quase 800 membros.

A internet uniu Josefa, Rosidalva e Betty Silberstein – a primeira mãe de um numerário a denunciar publicamente os meios de recrutamento da Obra. Betty escreveu uma espécie de manual, em 2005 – Opus Dei – A Falsa Obra de Deus – Um Alerta às Famílias Católicas. Organizou também o último lançamento, Sob o Jugo do Opus Dei. Ela e o marido, administrador de empresas, bancaram a edição de ambos. “Os centros não têm placas dizendo que são do Opus Dei. Crianças e adolescentes são levados pelos pais ou por amigos porque oferecem atividades educativas, recreação, palestras. Sabemos apenas que é algo da Igreja Católica. E por isso confiamos”, diz Betty. “Escrevo porque, se tivesse alguma informação, meu filho jamais teria entrado num centro. É nosso dever de mãe saber aonde estamos levando nossos filhos de 14, 15, 16, 17 anos.” No final de cada livro, ela publica todos os endereços dos centros para que os pais possam descobrir se o local freqüentado pelos filhos pertence ao Opus Dei.

Betty e Josefa uniram-se a outras mães de numerários – poucas ainda – para formar o “Grupo de mães de famílias prejudicadas pelo Opus Dei”. Acompanharam, empunhando faixas, os eventos públicos da visita do papa Bento XVI, em São Paulo e Aparecida. “Fomos atraiçoadas pelo que mais amamos na nossa vida, a nossa fé católica”, diz Josefa. As mães entregaram uma carta aberta aos bispos reunidos na 5a Conferência-Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em maio. Nela, pediam a criação de “um grupo de trabalho” para tratar “dos casos em que famílias solicitam apoio e socorro no conflito com o Opus Dei”.

Quando levaram seus filhos a centros da Obra, eles eram menores de idade. Hoje, têm mais de 18 anos e declaram querer permanecer na instituição. Quando Taís não voltou para casa, Josefa e Francisco, católicos praticantes, não tiveram dúvidas sobre o que fazer. “Fomos pedir ajuda ao bispo”, diz Josefa. A pedido dos pais, dom Gil Antônio Moreira, bispo de Jundiaí, conversou com Taís. “Ela disse a dom Gil que está feliz no Opus Dei”, afirma o padre Jorge Demarchi, coordenador da pastoral de comunicação da diocese. “Ele não notou nada de estranho nela. Se a moça é maior de idade, o que mais o bispo pode fazer?”

 As mães esperam da Igreja Católica que obrigue o Opus Dei a ter “transparência no processo de recrutamento” e investigue os meios de “descoberta da vocação”. “O Opus Dei é como o traficante na porta da escola”, diz Betty. “Sem contar que, em todas as congregações, os seminaristas passam por vários testes para ter certeza da vocação. Na Obra, ela é imposta.”

O Opus Dei, procurado por ÉPOCA por meio de seu escritório de comunicação, em São Paulo, não quis dar entrevista. Taís, a filha do casal Josefa e Francisco, marcou entrevista para as 18 horas do dia seguinte ao primeiro contato. No horário marcado, disse que não iria falar. Ela vive em um centro no Paraná.



A voz dos bispos
O Opus Dei é a única prelazia pessoal da Igreja Católica. Esse status o torna mais influente que qualquer um dos movimentos conservadores aninhados no amplo regaço do catolicismo. Como prelazia, o Opus Dei não tem limite de território. Circula na sociedade mundana protegido pelo escudo milenar da Igreja Católica. Mas só responde a seu prelado, hoje dom Javier Echevarría. E ele só presta contas ao papa. Por esses privilégios especiais, concedidos à organização pelo papa João Paulo II, em 1982, seus inimigos costumam dizer que o Opus Dei é “uma igreja dentro da Igreja”.

Seu fundador, Josemaría Escrivá, foi canonizado em 2002, menos de 30 anos depois de sua morte, período rápido para a média na Igreja Católica. Basta lembrar que Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, morreu em 1822 e só foi canonizado neste ano – quase dois séculos mais tarde. Ter sido liderada por “santos” parece ter virado uma meta no Opus Dei. A causa de canonização do sucessor de Escrivá, monsenhor Álvaro del Portillo, falecido em 1994, já foi oficialmente aceita em Roma.

A maioria dos dissidentes da Obra se mantém católica. E vem aumentando a pressão para que a cúpula da Igreja tome uma posição diante de suas denúncias. “Afinal, somos ou não parte do rebanho? Quando temos um problema dentro da Igreja, a quem devemos recorrer?”, diz Betty. “Acho que não é ao rabino ou ao bispo da Universal.”

ÉPOCA enviou a dom Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o relato dos sucessivos pedidos de providências aos bispos e à CNBB feitos por Josefa Rodrigues e pelo grupo de mães. Em 27 de junho, dom Dimas respondeu com uma nota de 11 itens – oito deles explicavam o que é uma prelazia pessoal. No nono, dom Dimas declarava: “Em outras palavras, a CNBB não tem nenhuma autoridade para interferir nos assuntos internos do Opus Dei”.

Por considerar as denúncias “graves”, dom Dimas deu instruções precisas: as mães devem “recorrer diretamente à Congregação para os Bispos ou ao Tribunal da Rota Romana, ambos em Roma. Para isso, convém consultar um advogado especialista em Direito Canônico, disponível no Tribunal Eclesiástico mais próximo”.

Uma semana depois, na terça-feira passada, dom Dimas procurou ÉPOCA para explicar que teve tempo para conversar com alguns colegas e queria fazer uma “pequena modificação” na nota. Dom Dimas retirou a referência à gravidade das denúncias e acrescentou: “O processo de discernimento vocacional na prelazia é prolongado e cuidadoso e, pelo que me consta, marcado por um profundo respeito à liberdade das pessoas, de modo que só cheguem a formalizar seu compromisso estável aqueles e aquelas que tenham demonstrado maturidade suficiente e plena convicção do caminho que escolheram no seguimento de Cristo. Além disso, conheço diversos membros do Opus Dei. São pessoas de excelente formação intelectual, espiritual e moral e grande dedicação apostólica, e que não demonstram minimamente os desequilíbrios de que se tem falado”.

Dom Dimas também declarou-se, por telefone, “provocado a chegar à verdade”. Disse que neste final de semana começaria a ouvir, no Rio de Janeiro, os filhos das denunciantes – ele ainda não sabia quem, exatamente. Também estaria disposto a conversar depois com o grupo de mães – “talvez dividindo a tarefa com dom Geraldo Lyrio”, atual presidente da CNBB. “Como trouxeram o problema à CNBB, me sinto no dever de aprofundar a questão”, afirmou dom Dimas. “É uma atitude de ajuda fraterna. Se percebermos que há alguma coisa errada na formação, vou falar com o superior da Obra para ajudar a resolver.”

Em 29 de maio de 2006, dom Geraldo Majella Agnelo, então presidente da CNBB, respondeu a Josefa por meio de sua secretária: “Informo que sua Eminência fez o devido encaminhamento do assunto aos órgãos responsáveis, pedindo que lhe seja dado uma resposta”.

ÉPOCA solicitou uma entrevista com dom Geraldo para esclarecer quais eram “os órgãos responsáveis” e se havia alguma resposta. Uma semana depois, dom Geraldo enviou a ÉPOCA a mesma nota de dom Dimas, “por estar inteiramente de acordo”. Só fez um adendo: “Acrescento somente o fato de as jovens que ingressaram no Opus Dei serem de maior idade. É tudo”.

Ex-membros do Opus Dei têm denunciado – insistentemente – que foram “pressionados e manipulados” para entrar na Obra. “Será que alguém tem vocação para lavar louça e limpar banheiro? Eu queria estudar”, diz Rosidalva.

Ela afirma só ter conseguido abandonar o Opus Dei depois de sete anos, em 2002. “Percebi que não adiantava continuar repetindo que não tinha vocação”, diz. “Disse à diretora que tinha mentido. Que não era casta antes de chegar à Obra, que tinha tido vários homens, era muito pior que Maria Madalena.”

Embora a diretora não conseguisse entender como Rosidalva havia sido escolhida, achou melhor liberá-la. “Me deram R$ 350 e me botaram na rua uma semana depois”, afirma. “Saí virgem como tinha entrado.”

No Opus Dei, ela só podia usar o uniforme azul ou roupas em tons pastel. No lançamento do livro, vestiu-se de vermelho. Rosidalva afirmou que agora é uma mulher não apenas sensata – mas sábia.



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