sexta-feira, 10 de maio de 2013

Evangélicos e Gays: Algozes ou vítimas?



 unisinos

"O problema em si não é a religião evangélica propriamente dita, mas é a contradição que há no discurso hegemônico em relação aos princípios da própria religião. O direito de ser contra a homoafetividade ou qualquer prática de âmbito privado se encerra em seu próprio corpo e em sua própria vida. Nem mesmo há direito sobre os corpos dos filhos, caso eles/as sejam gays, cada um tem que dar conta de si e ponto", escreve Edson Elias de Morais, professor de sociologia, mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina, graduação em Ciências Sociais-UEL e Bacharel em Teologia-Faculdade Teológica Sul Americana.
Segundo ele, "o que os homoafetivos querem é simplesmente respeito e liberdade sobre eles mesmos".

Eis o artigo.

O debate sobre os evangélicos e a causa dos homoafetivos tem sido pauta todos os dias nos jornais e nas redes sociais, principalmente depois do evento Malafaia/Feliciano e seus polêmicos discursos. No dia 19 de abril um jovem de 23 anos morreu após cair/se jogar da torre telefônica em Rondônia e o site Uol postou como título da reportagem: “Suicídio: Jovem gay se joga de torre em Rondônia após ser rejeitado por família evangélica”.

Casos como este, e outros que não são revelados, nos faz pensar sobre a dor e a tristeza do preconceito. E traz à luz o antagonismo da fé que, ao invés de promover a vida e a liberdade, promove a rejeição, o sofrimento e a morte. Percebemos nisto que em tempos pós-modernos a cosmovisão mágica voltou com todo fôlego e trouxe à tona o preconceito adormecido e escondido do brasileiro supostamente gentil, acolhedor e "cordial", mas esses valores servem apenas para seu algoz movido pelo espírito submisso. Porém, quando este, supostamente cordial, encontra-se com alguém que considera inferior, transforma-se também num feroz algoz.

Mas há aqueles que não concordam com a associação direta dos evangélicos ao preconceito contra os gays e afirmam que é perseguição religiosa, é a “cristo-fobia”, “evangélico-fobia” e tantos neologismos vazios. Outros enfrentam o debate tentando mostrar que há evangélicos que não são preconceituosos, embora não concorde com a prática homossexual. Outro argumento que é possível ser encontrado nos debates é de que os males não são exclusivos dos evangélicos, mas encontra-se também entre os mais variados setores da sociedade e acusam todos aqueles que criticam tais posturas também de preconceituosos. Portanto, veem nos críticos e nos militantes do movimento GLBT um algoz contra sua “liberdade religiosa”, reproduzindo as bravatas de Malafaia/Feliciano. Assim, quem é vítima de quem?

A história, tristemente, relata casos como o da Ku Klux Klan encabeçada por evangélicos batistas nos Estados Unidos no século XX, motivados para combater/matar negros que tentavam adquirir terras e bens, em nome dos protestantes americanos brancos. No período Medieval é que se encontram relatos até datas muito recentes, os canhotos eram estigmatizados de enviados do Diabo, xingados de “mão do Diabo” e que deviam fazer com a “mão certa, a direita”. Em italiano canhoto é “mancino”, que também dá a ideia de “pessoa desonesta”; esquerdo é “sinistro”, que está diretamente associado ao Diabo.

Tivemos também luteranos alemães que apoiaram Hitler no horrendo Holocausto, assassinando milhares de judeus, negros, homossexuais e deficientes físicos e mentais. No Brasil do século XX houve inúmeros padres, bispos e pastores evangélicos que denunciaram seus irmãos na fé para o DOPS, dos quais muitos nunca retornaram para suas casas, fato que está sendo escancarado com a Comissão da Verdade. Além de tantos outros casos.

Mas, ao mesmo tempo, não podemos deixar de citar que a religião pode ser um catalizador de boas ações e luta contra a desigualdade e injustiça. Temos o exemplo de Dietrich Bonhoeffer, que projetou o assassinato de Hitler em nome do evangelho e das vidas que estavam sendo ceifadas por uma causa desumana - sua sentença foi a morte. Tivemos, no Brasil, militantes da Teologia da Libertação que sofreram perseguições, morte por causa também do evangelho contra a opressão da Ditadura Militar, e também outros casos de humanização e direito a vida e a liberdade em nome do Sagrado. Fica explícito nesses e tantos outros casos que a luta é em nome do EVANGELHO, mas não em nome dos EVANGÉLICOS.

Estão certos quando afirmam que nem todos os evangélicos ou cristãos são preconceituosos. Como também, que o preconceito está permeado em todos os segmentos da sociedade brasileira. E o exemplo disto é a REDE FALE, CONIC, Igreja Anglicana que se posicionaram enfaticamente contra as barbaridades do Malafaia/Feliciano. Desta forma, dizer que todos são iguais é realmente um equívoco grotesco e preconceituoso.

Mas veja bem, o número de evangélicos tem crescido no Brasil, como também o número de crentes e católicos que apoiam publicamente a postura do Malafaia/Feliciano, fato que tem se tornado público, revelando seus preconceitos escondidos ou mascarados. É sabido que entre os espíritas, os membros de religiões afro-brasileira, os sem-religião, os ateus e outros, a compreensão sobre a liberdade, o direito e a "normalidade" dos homoafetivos são muito mais aceitos que entre religiosos que professam o cristianismo (digo isso de forma genérica e sob perspectiva de tendência).

Acontece que os evangélicos proclamam em alto e bom tom o discurso do amor, da paz e liberdade religiosa, da misericórdia, graça e compaixão, e sob esta bandeira espera-se que vivam e promovam estes valores para as outras pessoas, como ensina o Evangelho, sua regra de fé e prática. Mas quando outra pessoa afirma e reafirma uma postura ou identidade fora dos padrões morais do cristianismo ocidental é taxado como fora dos padrões de Deus e infiéis.

Esta postura não é diferente da do catolicismo medieval que afirmava: Extra Ecclesiam nulla salus [fora da igreja não há salvação], os evangélicos e pastores têm reproduzido isso muito bem, e quem conhece os livros teológicos de Rubem Alves saberá muito do que estou falando. Portanto, a crítica está sobre os evangélicos, porque são eles que estão gritando contra os direitos dos corpos alheios. Se eles são contra a prática homoafetiva, então não tenham práticas homossexuais, mas não queiram propor o padrão moral individual sobre outras pessoas que, muitas vezes, não professam a mesma fé.

Dizer que é contra a prática sexual de outra pessoa, no caso, dos gays é tão ilógico e irracional, quanto seria se eles dissessem que os evangélicos não pudessem se casar, ou ter filhos, pois não compete a ninguém ditar o que é certo ou errado para a vida particular das outras pessoas. O problema dos pastores e padres é que eles se acham "pais", "donos", "senhores" da vida alheia e, com isso, determinam, ensinam o que é certo e errado, sob pena e punição, e jogam tudo isso nas costas de Deus, para legitimar seus próprios preconceitos.

Não podemos fechar os olhos para o horror que tem acontecido e que está explícito para quem quiser ver. Se o caso deste jovem fosse isolado toda essa discussão seria desconsiderada, mas bem sabemos que não é! Há inúmeros relatos de pessoas que rompem com suas famílias por causa de posturas semelhantes, outras pessoas vivem sob a pressão da suposta "cura gay" e tantos outros casos de opressão e até mesmo autoflagelo.

Ocorre que a cosmovisão evangélica é, em sua grande maioria, maniqueísta e
reproduz tenazmente a frase: "se não é por nós é contra nós" e por ter a compreensão de que a homossexualidade é pecado, logo associa ao Diabo e ao desvio dos planos de Deus. Qual é o resultado desta conta metafísica? Portanto, associar o gay ou a homoafetividade ao mal é mais do que comum! Quantos e quantos casos de "exorcismos", "cura interior", "aconselhamento pastoral para deixar de ser gay”, “indução a uma vida de eunuco" e “quebra de maldição” são direcionados para os homoafetivos.

O caso Malafaia/Feliciano tem sido um estopim a essa postura que estava ocultada e vivenciada no âmbito privado, mas que agora toma o espaço público. Como já disse: é obvio que há cristãos coerentes, sérios e respeitosos e que sabem de seus limites quanto aos direitos daqueles que são diferentes. Mas a atualidade tem demonstrado uma tendência evangélica, e é exatamente esta quem tem sido a criticada - e com muita razão - e deverá ser combatida, pois senão voltaremos aos tempos de obscurantismos em tempos de sociedade laica, isto é, sem uma religião única e o oficial, mas ao mesmo tempo, resguardando a pluralidade e não somente religiosa.

O problema em si não é a religião evangélica propriamente dita, mas é a contradição que há no discurso hegemônico em relação aos princípios da própria religião. O direito de ser contra a homoafetividade ou qualquer prática de âmbito privado se encerra em seu próprio corpo e em sua própria vida. Nem mesmo há DIREITO sobre os corpos dos filhos, caso eles/as sejam gays, cada um tem que dar conta de si e ponto.

O que os homoafetivos querem é simplesmente respeito e liberdade sobre eles mesmos. A suposta “ditadura-gay” é um terrorismo ideológico que religiosos mal intencionados têm disseminado sobre uma massa desinformada e que absorve tais ideias como esponjas. Se os evangélicos e católicos querem ser testemunhas fieis de seu mestre, sejam como ele foi: inclusivo. E lute contra a religião/religiosidade que promove o medo, a perseguição e a morte, como ele fez em sua época. Quem é o algoz e quem é a vítima? A resposta depende de quem executa a perseguição e de quem é perseguido e por quais motivos.

Em defesa do Estado Laico

de barcaparaavalon

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


Aderindo à campanha encabeçada pelo blog Livres Pensadores
 em defesa do Estado Laico...

A Democracia e o Estado Laico exigem que aqueles que motivados pela religião
traduzam suas opiniões em valores Universais ao invés de valores religiosos – baseando-se em seus dogmas e textos sagrados

É um absurdo ainda termos que conviver com um fundamentalismo religioso que pretende impor à todos as crenças de uma pretensa maioria, como se isso fosse a expressão máxima de Liberdade Religiosa, esquecendo propositadamente que essa “Liberdade” de alguns fere a liberdade de outros.


Acho uma graça pessoas que se dizem "entendidas"
alegarem que Democracia é a vontade da maioria


Democracia é para TODOS
não existe isso onde uma minoria 
deva se adequar à vontade de uma maioria
e a seus dogmas...

para esses "cristãos" não basta poder seguir suas crenças e dogmas
dentro de suas casas, e em suas Igrejas
eles querem que TODOS façam o mesmo

isso é o que eu chamo de Ditadura Cristã que sempre existiu e agora está a cada dia mais e mais agressiva buscando a cada dia mais e mais espaço


que a Bíblia e os dogmas cristão sejam seguidos por quem achar que deva
mas não poderá nunca ser base para reger, orientar e decidir a vida de TODOS

Deputados perdem seu tempo e nosso dinheiro
criando Leis para favorecer a própria religião e religiosos
e apenas citando alguns exemplos:

de Paulou Lopes 2011/06/ Deputado de SP quer crucifixo na escola
Deputado de SP quer crucifixo na escola por representar “a moralidade do povo brasileiro", a qual, segundo ele, vem sofrendo corrosão. Ele disse que, em contrapartida, "o crucifixo enriquece o significado a vida."


no texto do projeto de lei os gastos com a compra e instalação do crucifixo serão cobertos pelo Orçamento do Estado.


.......................

LIVROS DIDÁTICOS CATÓLICOS: O ENSINO RELIGIOSO E A
DISCRIMINAÇÃO DE RELIGIÕES AFRO-DESCENDENTES
GUEDES, Maristela Gomes de Souza – PUC-Rio
GT-12: Currículo
Agência Financiadora: CAPES

onde a autora disserta sobre os livros didáticos de educção religiosa editados pela Igreja Católica e distribuida na rede pública do Rio de Janeiro e de outras cidades, em evidente desrespeito

 "a Constituição, 
burlam a própria lei do Ensino Religioso, 
discriminam religiões afro-descendentes 
e representam um retrocesso em importantes
conquistas de educadores e educadoras preocupados (as) 
com a diversidade do país."
em .pdf
................................



BAHIA, Brasil, julho de 2008 (LifeSiteNews.com) — Um juiz do estado da Bahia, Brasil, ordenou o confisco de um livro escrito pelo padre Jonas Abib, no qual ele condena a feitiçaria como imoral.


O livro — “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação” — adverte os leitores contra os perigos do ocultismo, inclusive as religiões afro-brasileiras conhecidas como “espiritualismo”. De acordo com o site do Pe. Abib, o livro já teve 81 reimpressões e vendeu mais de 400 mil exemplares.



O livro Orixás, Caboclos e Guias Deuses ou Demônios? de Edir Macedo também foi censurado pelo Ministério Público Federal. - por intolerância religiosa



ah! sim! é verdade
os piedosos cristãos até toleram uma cultura Afro - desde que sejam eles que ensinem - do modo deles

afinal eles amam os Afros - só não concordam com suas práticas

............................................

notícia de maio desse ano diz:
ONU critica Brasil por permitir ensino religioso em escolas públicas
por Jamil Chade, d'O Estado de S.Paulo


Centenas de escolas públicas em pelo menos 11 Estados do Brasil não seguem os preceitos do caráter laico do Estado e impõem o ensino religioso, alerta a Organização das Nações Unidas. Em relatório a ser apresentado na semana que vem ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, a situação do Brasil é criticada.

O documento foi preparado pela relatora da ONU para o direito à cultura, Farida Shaheed, que também alerta que intolerância religiosa e racismo "persistem" na sociedade brasileira.


A relatora apela por uma posição mais forte por parte do governo para frear ataques realizados por "seguidores de religiões pentecostais" contra praticantes de religiões afro-brasileiras no País. Uma das maiores preocupações é o com o ensino religioso, assunto que pôs Vaticano e governo em descompasso diplomático.


Os Estados citados por Farida, que visitou o País no final do ano passado, são Alagoas, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.


A relatora diz ter recolhido pedidos para que o material usado em aulas de religião nas escolas públicas seja submetido a uma revisão por especialistas, como no caso de outros materiais de ensino. Além disso, "recursos de um Estado laico não devem ser usados para comprar livros religiosos para escolas", esclarece.


Para Farida, "deixar o conteúdo de cursos religiosos ser determinado pelo sistema de crença pessoal de professores ou administradores de escolas, usar o ensino religioso como proselitismo, ensino religioso compulsório e excluir religiões de origem africana do curriculum foram relatados como principais preocupações que impedem a implementação efetiva do que é previsto na Constituição".
...
Roseli explica que o modelo brasileiro é pouco usual nos países em que há total separação entre Estado e religião. "Até Portugal, que no regime de Salazar tornou obrigatório o ensino religioso, aboliu as aulas. Educação religiosa deve ser restrita aos colégios confessionais. Lá, o pai matricula consciente."
.......................

quinta-feira, 24 de junho de 2010


Vereadores de Ibiúna aprovam lei que obriga leitura da Bíblia



Por unanimidade, os vereadores de Ibiúna (SP) aprovaram lei que obriga a leitura de um trecho da Bíblia na abertura das sessões da Câmara.


A lei é de autoria do vereador e evangélico Ismael Martins Pereira (foto). Ele é do PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.

.................................................

domingo, 27 de fevereiro de 2011
Pesquisa revela que metade das escolas tem ensino religioso




Vida de Jesus em quadrinhos para escolas


por Angela Pinho, da Folha


"O que são as histórias da Bíblia? Fábulas, contos de fadas?", pergunta a professora do 3º ano do ensino fundamental. "Não", respondem os alunos. "São reais!"


A cena, numa escola pública de Samambaia, cidade-satélite de Brasília, precede aula sobre a criação do universo por Deus em sete dias. O colégio é um dos 98 mil do país (entre públicos e particulares) que ensinam religião.

...............................

sexta-feira, 11 de março de 2011
Evangélicos defendem ensino religioso e criticam 'ditadura do laicismo'

A Omebe (Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil) criticou o parecer do CME (Conselho Municipal de Educação) do Rio contra a implantação do ensino religioso nas escolas públicas.
...


O pastor Francisco Nery, coordenador do departamento de ensino religioso da Omebe, afirmou que decisões como a do conselho “privam o aluno da oportunidade de escolha e estabelece uma ditadura do laicismo”.

...............................

Livro de religião de escolas públicas associa ateu ao nazismo

O estudo “Laicidade: o Ensino Religioso no Brasil”, da Unb (Universidade de Brasília), constatou que um livro da lista dos 25 de ensino religiosos mais adotados por escolas públicas do país associa a pessoa sem religião ao nazismo


“É sugerido que um ateu tende a ter comportamentos violentos e ameaçadores”, disse Débora Diniz, uma das autoras do estudo.


Ela afirmou que, no geral, os livros impõem “uma espécie de catecismo cristão”. Jesus aparece 20 vezes mais que Lutero, referência do protestantismo, e 12 em relação ao budista Dalai Lama. Um líder religioso indígena é citado sem informação de sua biografia.


"Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã", disse. "Cristãos tiveram 609 citações nos livros e as religiões afro-brasileiras, tratadas como 'tradições', apenas 30.”


Os livros também são homofóbicos. Relacionam a homossexualidade a “desvio moral”, “doença física ou psicológica”, e “conflitos profundos”.


Um deles propõe a seguinte questão: "Se isso [a homossexualidade] se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?".
.......................................


Em 2009, uma escola pública de Macaé (RJ), uma professora umbandista “ousou” falar nas aulas de Literatura Brasileira sobre o livro‘Lendas de Exu, do autor Adilson Martins.

A professora Maria Cristina Marques conta que foi proibida de dar aulas após usar a obra, recomendada pelo Ministério da Educação (MEC). Ela, na época, entrou com notícia-crime no Ministério Público por se sentir vítima de intolerância religiosa.

Detalhe.
A professora Maria Cristina é umbandista e a diretora desta escola é evangélica.


A Secretaria de Educação de lá abriu sindicância e, como não houve acordo entre as partes, encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Macaé. Em nota, a secretaria informou que “a professora envolvida está em seu ambiente de trabalho, lecionando junto aos alunos de sua instituição”. A professora voltou a lecionar e disse: “Voltei, mas fui proibida até por mães de alunos, que são evangélicas, de dar aula sobre a África. Algumas disseram que estava usando a religião para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças. Me acusaram de fazer apologia do diabo”, contou Maria Cristina.

.......................

segunda-feira, 4 de julho de 2011
Lei de evangélico multa no Rio biblioteca que não tiver Bíblia




O governador Sérgio Cabral (PMDB) sancionou hoje (4) lei de autoria do deputado evangélico Edson Albertassi (PMDB), 42, que obriga as bibliotecas do Estado a terem Bíblia. A biblioteca que descumprir a lei será multada em R$ 2.130 e, no caso de reincidência, em R$ 4.260.


A lei é polêmica porque o Estado, por ser laico, não pode fazer imposições de cunho religioso, ainda mais em se tratando de uma determinação que beneficia uma única denominação, no caso a cristã. A lei deixa de fora, por exemplo, livros espíritos, ao Corão e ao Torá.


O mesmo deputado apresentou projeto de lei para cada uma destas propostas:
1 -instituição do ensino religioso obrigatório,
2 - leitura da Bíblia antes do começo das aulas,
3 - isenção de IPVA às igrejas e de ICMS na compra de automóveis
4 - e a inscrição da frase “Deus seja Louvado” nas contas das concessionárias de serviços públicos.


Albertassi é diácono da Assembleia de Deus de um templo da cidade de Volta Redonda.


Em setembro do ano passado, Albertassi conseguiu sanção para uma norma que altera a lei de incentivos fiscais de modo a beneficiar a produção e apresentação de música gospel.


O deputado tem uma rádio FM de músicas evangélicas.


Em setembro do ano passado, Albertassi conseguiu sanção para uma norma que altera a lei de incentivos fiscais de modo a beneficiar a produção e apresentação de música gospel.


O deputado tem uma rádio FM de músicas evangélicas.


.....................................

isso que eu chamo em legislar em causa própria
e ainda dizem que cristão é perseguido?


..................................
Lei do ensino religioso no Rio une religiões contra Igreja Católica


A maioria dos representantes das religiões se posicionou em audiência pública na semana passada contra o projeto de lei que prevê a implantação do ensino religioso nas escolas públicas municipais do Rio porque entende que isso reforçará a hegemonia da Igreja Católica na educação.


O padre Paulo Alves Romão e o deputado federal católico Márcio Pacheco (PSC) só não ficaram isolados porque o sheikt Ahmad Mohammed, presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento Islâmico, disse que os estudantes devem ter esse tipo de orientação porque muitas vezes a família não tem tempo de fazê-lo. O argumento do padre foi de que ensino religioso não é catequese e o do deputado de que "crianças pobres também precisam ter educação completa".


O cigano Mio Vacite de certa maneira respondeu ao muçulmano. “A impressão que passa é de que se a pessoa não tiver educação religiosa ou ela é vagabunda ou bandida", disse. “Tenho medo da ditadura religiosa. Se estamos em um país democrático, temos de pensar muito. A moral não está só na religião.”


O bruxo Og Sperle, sacerdote da religião Wicca, alvejou a Igreja Católica em seu ponto mais sensível: “A religião não tem a premissa de moldar o caráter porque, se assim fosse, não teríamos tantos casos de pedofilia em igrejas.”


O bispo evangélico e vereador Jorge Braz (PTdoB) foi direto: “Chega de hegemonia!”. Ele manifestou o temor de que a lei seja aprovada porque a maioria dos parlamentares é católica...
.........................................

Pr. Marco Feliciano apresenta projeto “Papai do Céu na Escola"


Este projeto de lei tem por objetivo cuidar da formação básica do cidadão durante a infância, criando o Programa Nacional Papai do Céu na Escola.
13/4/2011 18:42:00

Este projeto de lei tem por objetivo cuidar da formação básica do cidadão durante a infância, criando o Programa Nacional Papai do Céu na Escola.


Valendo-se da legislação vigente, que já contempla o ensino religioso como disciplina integrante do currículo escolar do ensino fundamental, o programa tem o propósito de nortear essa disciplina, de forma a disseminar, de uma maneira lúdica, a diversidade religiosa do país, os valores morais, a cultura da paz e o respeito às diferentes crenças. (cultura da paz? discriminando tudo e todos como eles fazem?)


O ensino religioso é a base histórica dos princípios morais e éticos da sociedade e nossos pequenos cidadãos precisam conhecer esses ensinamentos. O Programa “Papai do Céu na Escola” levará esse conhecimento em uma linguagem apropriada a faixa etária das nossas crianças, com material didático apropriado e elaborado com a participação de diversos segmentos da sociedade que se dedicam à área.


É importante lembrar que paises mais desenvolvidos, que aboliram de sua grade curricular o ensino religioso, sofreram graves ataques contras escolas e famílias foram afetadas por monstruosidades deixando uma marca inesquecível e irreparável na sociedade mundial.


Por isso, precisamos resgatar o ensino religioso em nosso país de maneira sábia, simples, coerente e contínua. Queremos ver os filhos desta Nação olhando para a imensidão do cosmos e dizendo: HÁ UM PAPAI DO CÉU QUE CUIDA DE NÓS!.




SITE OFICIAL DO PROJETO



.......................


e temos que concordar mesmo com o Godim
que afirma que Neopentecostais querem assumir o poder do Brasil
.

ele sabe o que afirma
eles sonham em se tornar 50% (ou mais) da população...

ele mesmo escreve: ‘Deus nos livre de um Brasil evangélico’


De acordo com o pastor, a devastação não se restringiria à cultura e à literatura brasileira.

“Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português. Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.”


...Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.”


Mais: “Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista”.

.............................................



terça-feira, 12 de julho de 2011

Pastores desafiarão lei da homofobia se ela for aprovada, diz Malafaia



Se a Lei da Homofobia -- prevista no Projeto de Lei 122/06 -- for aprovada, todos os pastores do país vão desafiá-la com uma pregação contra a homossexualidade, disse Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.


“Isso já está combinado”, afirmou. “Vão ter de arrumar cadeia para [tanto] pastor. Vamos ver o que vai valer, se a Constituição ou se essa porcaria que eles [homossexuais] estão chamando de lei.”


Malafaia informou que, se essa “lei do privilégio” for aprovada, as igrejas vão fazer de tudo para derrubá-la, recorrendo inclusive ao STF (Supremo Tribunal Federal). “Não vai ter moleza, não.”


Para o pastor, o PL 122 afronta a Constituição, que garante a liberdade de expressão, e, por isso, não acredita que seja aprovado.


Em entrevista de cerca de 18 minutos ao site SRZD, do jornalista Sidney Rezende, que também é apresentador da Globo News, Malafaia falou que há duas referência bíblicas sobre o dízimo, dos temores deles e do seu objetivo de um dia se tornar o pastor da maior denominação evangélica do país.


Também criticou o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, que, segundo ele, comprou a TV Record com “dinheiro sagrado”, do dízimo, para, agora, estar difundindo “lixo moral”.




heheheh
ainda bem que Malafaia e Macedão brigam feito moleques

................................

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Deputado quer anistiar diretores caloteiros de entidades religiosas

O deputado evangélico Roberto Santiago (foto), 53, do PV-SP, pediu o desarquivamento do Projeto de Lei 4986/2009 que concede anistia a diretores de entidades religiosas do setor hospitalar que deixaram de recolher a contribuição previdenciária de trabalhadores.
...
Diz o artigo 1º do PL: “Esta Lei concede anistia aos diretores, gestores e empregados das Santas Casas de Misericórdia, entidades hospitalares sem fim econômico, hospitais de natureza religiosa e entidades de saúde de reabilitação física de deficientes sem fins lucrativos que, durante sua administração, praticaram as condutas descritas no artigo 168-A, caput e § 1°, do Código Penal”.


O artigo do Código Penal ao qual o deputado se refere estabelece prisão de dois a cinco anos, além de multa, a quem não recolheu a contribuição da Previdência Social dos trabalhadores.


Ou seja, o deputado Santiago quer livrar esses devedores da Justiça.


Como justificativa, ele argumentou que “muitas vezes” os responsáveis pela administração desses estabelecimentos não recolhem a contribuição por causa de dificuldades financeiras. “As entidades assistenciais vivem asfixiadas por cobranças que se elevam conforme aumenta a demanda pelos seus serviços.”


O deputado não levou em consideração que as entidades filantrópicas e de assistência social, além das ongs, têm sido alvos prediletos de golpes dos criminosos de colarinho branco.


Ele também se “esqueceu” dos trabalhadores que foram prejudicados.




............................


Ibope revela que 77% dos evangélicos são contra a união de casais gays

Os evangélicos (incluindo quem se declara protestante) são o grupo religioso que mais repudia a união de casais de pessoas do mesmo sexo. Deles, 77% são contra esse tipo de união, de acordo com pesquisa nacional feita pelo Ibope entre os dias 14 e 18 de julho com 2.002 pessoas de 142 cidades.



...........................


No Paraná, houve mais um caso de quebra de imagens de igreja



A Polícia Civil de Telêmaco Borga (PR) prendeu na segunda-feira (25) a evangélica Marisa de Souza Neris (foto), 40, sob a acusação de ter destruído imagens da igreja matriz.


Marisa quebrou quatro imagens, entre elas a de Nossa Senhora de Fátima, a padroeira da cidade.

Policiais afirmaram que a mulher justificou o ato com a necessidade de acabar com “aquelas coisas do demônio”.

..................................................

e coloco abaixo postagem de uma amiga...
(Meia de Seda)
Um Estado verdadeiramente Laico dá a liberdade para qualquer cidadão seguir sua crença de forma plena, sem por isso invadir a liberdade daqueles que não o desejarem; não prende uma população tão plural como a nossa a dogmas e atavismos com os quais não concorda e que lutamos tanto para nos desvencilhar


No panorama atual, o que vejo são 6 dúzia de pessoas ambiciosas usando a religião para chegar ao poder, manipulando a grande massa que sempre lhes serviu de curral eleitoral a odiar, sim, a odiar grupos de minoria que não oferecem perigo a ninguém; a essa 6 dúzia estão aliando-se militares herdeiros do poder conseguido com o golpe de 64, inconformados com o toque democrático que recebeu nosso país, usando o mesmo modus operandi da época, intensificado pela abrangência da mídia dos dias atuais, lembrando Goebbels de Hitler (sem medo de exagerar).


As pessoas que hoje estão aqui na comu, em outras pgs da internet, em cafés filosóficos, os autores de teatro, enfim, a intelectualidade atual, e o povo comum mas que aprendeu por si a pensar, a criticar, a provocar (e com isso a construir essa sociedade) correm um sério risco de se verem novamente censurados, tolhidos por leis que proíbam a livre manifestação do pensamento lógico, científico, contestador.


Se com uma Constituição que prega a laicidade, já há um abuso absurdo por parte dos religiosos que não medem esforços para conseguirem, mesmo que inescrupulosamente como acontecido recentemente, os objetivos insanos a que se propuseram, imagine se um desses segmentos tenha sua palavra amparada pela Lei?


Deixando claro que não estou falando da religiosidade das pessoas, falo de setores religiosistas; e que uma constituição laica não é uma Constituição atéia, como muitos afirmam; é uma constituição que respeita toda crença ou ausência dela.


Se for pra perder a laicidade, então que TODAS as religiões sejam IGUALMENTE ouvidas, o que penso ser impossível; é bem mais viável, prático e justo, que NENHUMA seja favorecida para garantir 'a justiça igual para todos'.


E mesmo assim haverá muito ainda o que fazer.
.................................


http://www.youtube.com/watch?v=q2Qo0lo6MZg

esse vídeo é fantástico e aterrador
e, ao mesmo tempo que meu horror aumenta,
me alegro que finalmente outras vozes se levantam contra esse fundamentalismo cristão perverso e doentio

anos atrás (e nem faz tanto tempo assim)
eu levantei essa bandeira contra essa dominação cristã
e fui por diversas vezes duramente criticada
e mesmo nos silêncios ficava um tom de censura por eu estar sendo intolerante com os "irmãos Evangélicos/Cristãos"

pois bem
agora outras vozes também se levantam
e espero que em breve sejam tantas vozes a ponto de calar de vez essa corja de aves de rapina

e isso jamais seria intolerância religiosa
mas simplesmente intolerância aos abusos cometidos em nome de uma fé mercenária, estúpida e discriminatória

quem discrimina não pode ser tolerado
sob o risco de sermos todos esmagados pela Ditadura Cristã

e deixo um poema que fala sobre isso:


"No caminho com Maiakóvski”

do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa
e o trecho que destaco é o seguinte:

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O que se esconde atrás do caso Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos

leonardo boff 
Magali do Nascimento Cunha é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora da Universidade Metodista de São Paulo e autora do livro A Explosão Gospel. Um Olhar das Ciências Humanas sobre o cenário evangélico contemporâneo (Ed. Mauad) publicou um estudo esclarecedor sob o titulo “O Caso Marco Feliciano:um paradigma na relação mídia-religião-políitca”. Ela desvenda, numa análise minuciosa, o jogo político que se esconde atrás da discussão da permanência ou não do Pastor Marco Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal. Este texto ajudará a muitos a entender as causas ocultas da resistência dele e os objetivos políticos presumivelmente almejados pela bancada evangélica na Câmar dos Deputados. O texto pode ser encontrado em : midiareligiaopolitica.blogspot.com.br   Lboff

Nestes meses de março e abril de 2013 temos lido, ouvido e assistido a um episódio sem precedentes no Congresso Nacional, que coloca em evidência a relação religião-política-mídia. Em 5 de março foi anunciada pelo Partido Socialista Cristão (PSC), a indicação do membro de sua bancada o pastor evangélico deputado federal Marco Feliciano (SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal (CDH). Foram imediatas as reações de grupos pela causa dos Direitos Humanos ao nome de Marco Feliciano, com a alegação de que o deputado era conhecido em espaços midiáticos por declarações discriminatórias em relação a pessoas negras e a homossexuais. O PSC se defendeu dizendo que seguiu um protocolo que lhe deu o direito de indicar a presidência dessa comissão, um processo que estava dentro dos trâmites da democracia tal como estabelecida no Parlamento brasileiro. Isto, certamente, é fonte de reflexões, em especial quanto ao porquê da defesa dos Direitos Humanos ser colocada pelos grandes partidos como “moeda de troca barata”, como bem expôs Renato Janine Ribeiro em artigo publicado no Observatório da Imprensa (n. 740, 2/4/2013). Soma-se a isto o fato de o deputado indicado e o seu partido não apresentarem qualquer histórico de envolvimento com a causa dos Direitos Humanos que os qualificassem para o posto. O que tem chamado a atenção neste caso, e que é objeto desta reflexão, é a “bola de neve” que ele provocou a partir das reações ao nome do deputado, formada por protestos públicos da parte de diversos segmentos da sociedade civil, mais a criação de uma frente parlamentar de oposição à eleição de Feliciano, e pelo estabelecimento de uma guerra religiosa entre evangélicos e ativistas do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), e entre evangélicos e não-cristãos. E esta bola de neve é produto de fatores que se apresentam para além da CDH, e a expõem como um elemento a mais no complexo quadro da relação entre religião e sociedade no Brasil. Pensemos um pouco sobre estes fatores; vamos elencar quatro. 


1. A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política 
Desde o Congresso Constituinte de 1986 e a formação da primeira Bancada Evangélica e seus desdobramentos, a máxima “crente não se mete em política” construída com base na separação igreja-mundo foi sepultada. A máxima passou a ser “irmão vota em irmão”. 

Depois de altos e baixos em termos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisiologismo, a bancada evangélica se consolidou como força no Congresso Nacional, o que resultou na criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2004, ampliada nas eleições de 2010 para 73 congressistas, de 17 igrejas diferentes, 13 delas pentecostais. Os parlamentares evangélicos não são identificados como conservadores, do ponto de vista sociopolítico e econômico, como o é a Maioria Moral nos Estados Unidos, por exemplo. Seus projetos raramente interferem na ordem social e se revertem em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. Basta conferir o perfil dos partidos aos quais a maioria dos políticos evangélicos está afiliada e os recorrentes casos de fisiologismo. 

Mais recentemente é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da FPE, que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católicos tradicionalistas, diálogo impensável no campo eclesiástico. 

Os números do Censo 2010 são fonte para a demanda de legitimidade social entre os evangélicos, e certamente de conquista de mais espaço de influência. Estudos mostram que desde 2002, período da legislatura em que a FPE foi criada, a cada eleição, o número de evangélicos no Parlamento (Câmara e Senado) aumenta em torno de 30% do total anterior. A estimativa, mantido este índice, é de chegarem a 100 cadeiras em 2014, o que representaria em torno de 20% das 513 do Congresso, refletindo a representatividade dos evangélicos no Brasil revelada pelo Censo 2010. Este é um projeto cada vez mais nítido deste segmento social que certamente visa, como os demais grupos políticos, muito mais do que cadeiras no Congresso, mas também presidências de comissões e de ministérios relevantes (para além do único atual tímido Ministério da Pesca, sob a liderança do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivela). 

A polêmica com Marco Feliciano deixa este projeto em evidência, já que não só uma presidência inédita de comissão foi alcançada, mas também maior visibilidade aos evangélicos na política e ao próprio PSC, que tem o nome “Cristão”, mas sempre se caracterizou como um partido de aluguel para quem desejasse candidatura independentemente de confissão de fé. Pelo fato de estar nas manchetes durante semanas, o PSC já prevê que Feliciano, eleito com 212 mil votos por São Paulo em 2010, se tornará um “campeão de votos” nas próximas eleições, podendo atingir um milhão de votos, e ainda alavancará a candidatura do pastor Everaldo Pereira (PSC/SP) a presidente da República. Aliado de Marco Feliciano, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia, figura sempre presente nas mídias, declarou: “Se o Feliciano tiver menos de 400 mil votos na próxima eleição, eu estou mudando de nome”.

Mais uma vez, é possível afirmar que a cada novo episódio, a relação evangélicos- política é dinâmica complexa que inclui disputas por poder e hegemonia no campo religioso, ambição dos políticos que veem no pragmatismo dos evangélicos fonte para suas barganhas de campanha, concorrência de grupos que competem por poder sociopolítico e econômico como as empresas de mídia, como veremos adiante. 


2. O conservadorismo de Marco Feliciano e de seus “soldados” 
A imagem dos “evangélicos” foi construída fundamentalmente com base na identidade de dois grupos de cristãos não-católicos: os protestantes de diferentes confissões que chegaram ao Brasil por meio de missões dos Estados Unidos, a partir da segunda metade do século XIX, e os pentecostais, que aportaram em terras brasileiras na primeira década do século XX, vindos daquele mesmo país. Esta imagem sempre mostrou ao Brasil um segmento cristão predominantemente conservador teologicamente, marcado por um fundamentalismo bíblico, um dualismo que separava a igreja do “mundo”/a sociedade e um anticatolicismo. 

Desta forma, não é surpresa que um pastor evangélico, no caso Marco Feliciano, reproduza em seus sermões modernos e de forte apelo emocional, uma abordagem teológica tão antiga como a que embasa a ideologia racista, por meio da leitura fundamentalista de textos do Gênesis que contêm a narrativa da descendência de Noé. Também não é surpresa que Marco Feliciano conduza sua reflexão teológica por meio de bases que justifiquem a existência de um Deus Guerreiro e Belicoso, que tem ao seu redor anjos vingadores, que destrói do Titanic a John Lenon ou aos Mamonas Assassinas, continuando o que já fazia com os povos africanos herdeiros do filho de Noé, e que, nesta linha, certamente fará aos que assumem e apregoam o homossexualismo. Menos surpreendente é ainda que o líder religioso reaja a quem lhe faz oposição ou tenha posição diferente da sua classificando-o como agente do diabo e assim foram sinalizadas a própria formação anterior da Comissão de Direitos Humanos e celebridades como o cantor Caetano Veloso. 

Quem se surpreende com o que Feliciano diz e com o apoio que ele recebe de diversos segmentos evangélicos desconhece o DNA deste grupo. Não há nada de novo aqui. O que há é maior visibilidade pela projeção que a mídia religiosa e não-religiosa têm dado a este discurso. Em 2010, por exemplo, o pastor estadunidense Pat Robertson, dono de um canal de televisão, declarou que o trágico terremoto no Haiti naquele ano era consequência de um pacto dos haitianos com o diabo no passado para se tornarem independentes da França. A declaração de Robertson, amplamente veiculada, provocou manifestações contrárias em todo o mundo. As palavras de Marco Feliciano no Brasil de 2013 são apenas o eco da mesma teologia. 

Há algo novo, sim, neste processo, relacionado à articulação dos apoios a Feliciano que coloca em evidência o conservadorismo, antes atribuído mais diretamente aos evangélicos, que reflete uma tendência forte na sociedade brasileira de um modo geral. 

É nesse contexto que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), suplente da CDH, afirmou que se sente como “irmão” do presidente da comissão. “Como capitão do Exército, sou um soldado do Feliciano”, declarou Bolsonaro, em matérias divulgadas pelas mídias em 27 de março, e acrescentou: “A agenda antes era outra, de uma minoria que não tinha nada a ver. Hoje, representamos as verdadeiras minorias. Acredito no Feliciano, de coração. Até parece que ele é meu irmão de muito tempo. Não sinto mais aquele cheiro esquisito que tinha aqui dentro e aquele peso nas costas. Aqui, era uma comissão que era voltada contra os interesses humanos, contra os interesses das crianças e contra os interesses da família. Agora, essa comissão está no caminho certo. Parabéns, Feliciano”. 

O deputado Bolsonaro tem um histórico de posicionamentos racistas e de conflito com ativistas sociais e militantes de movimentos gays. Em novembro de 2011, ele chegou a pedir, da tribuna da Câmara, à presidente Dilma Rousseff para que ela assumisse se gostava de homossexuais. Em março do mesmo ano, respondeu que “não discutiria promiscuidade” ao ser questionado em um programa de TV pela cantora Preta Gil sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra.

No campo das igrejas, o já citado pastor Silas Malafaia, conhecido por polêmicas midiáticas desde a campanha presidencial de 2010, se alistou nas fileiras do deputado Feliciano e se tornou seu árduo defensor e colaborador desde o início da controvérsia da presidência da CDH. Até a Igreja Católica, explícita em suas posições quanto à ampliação de direitos civis de homossexuais, mas clássico “inimigo” dos evangélicos, é colocada por Feliciano na lista de aliados. Em entrevista à TV Folha-UOL (2/4/2013), o deputado explicitou: “Tenho alguns contatos com algumas pessoas da CNBB, mas com os grandes líderes do movimento católico não tive contato até porque quase não tenho tempo. Acredito que, nesse momento, todos eles me conhecem até porque o que eu sofro hoje de perseguição dado ao movimento LGBT, a Igreja Católica sofre isso no mundo todo. Inclusive, o novo papa, o papa Francisco, na Argentina quase foi linchado por esse grupo. Então, nós temos algumas coisas que, acredito, nos fazem pensar igual.(…) Eu fiquei feliz por termos ali um papa que ainda é bem ortodoxo, é bem conservador e que prima por aquilo eu acredito também, que a família é a base da sociedade. Aliás, a família é antes da sociedade”.

Estas alianças estão produzindo efeitos até na qualidade do discurso de Marco Feliciano. Os benefícios proporcionados pela aproximação com lideranças mais experientes ficam evidentes nas mudanças no discurso do deputado como: “Só saio da presidência da CDH morto” para “Só saio da presidência da CDH se os deputados condenados pelo julgamento do mensalão, José Genoíno e João Paulo Cunha, deixarem a Comissão de Constituição e Justiça”. Com isso, Feliciano atraiu para si a simpatia da mídia que se fartou na cobertura do julgamento do Superior Tribunal de Justiça e de segmentos conservadores, que, embora não concordem com seu nome na presidência da CDH, querem “a cabeça” dos condenados. Feliciano usa uma controvérsia ética para justificar a controvérsia de sua própria eleição – a CDH como moeda de troca partidária.

Alianças do religioso com o não-religioso formando exércitos que marcham em defesa da moral e dos bons costumes – em defesa da família – não é algo novo no Brasil, mas é bastante novo no espaço político que envolve os evangélicos e suas conquistas na esfera pública. Em matéria na Folha de São Paulo, de 7/4/2013, o diretor do instituto de pesquisa Datafolha, Mauro Paulino, declarou que o discurso de Feliciano atinge preocupações de parte da população: “Entre os brasileiros, 14% se posicionam na extrema direita. As aparições na imprensa dão esse efeito de conferir notoriedade a ele.” Isto significa que apesar dos tantos slogans divulgados em manifestações presenciais e nas redes sociais – “Feliciano não me representa” – Feliciano, Bolsonaro e tantos outros são eleitos e ganham espaço e legitimidade. Portanto, há quem se sinta representado, sim, não somente do ponto de vista da popularidade mas do peso das articulações ideológicas em curso na sociedade brasileira.

3. Inimigos, um componente do imaginário evangélico 
 Exércitos precisam de inimigos. A teologia de um Deus Guerreiro e Belicoso sempre esteve presente na formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros, compondo o seu imaginário e criando a necessidade da identificação de inimigos a serem combatidos. Historicamente a Igreja Católica Romana sempre foi identificadas como tal e sempre foi combatida no campo simbólico mas também no físico-geográfico. Da mesma forma as religiões afro-brasileiras também ocupam este lugar, especialmente, no imaginário dos grupos pentecostais. 
 
Periodicamente, estes “inimigos” restritos ao campo religioso perdem força quando ou se renovam, como é o caso da Igreja Católica, a partir dos anos de 1960, ou quando aparecem outros que trazem ameaças mais amplas. Assim foram interpretados os comunistas no período da guerra fria no mundo e da ditadura militar. Há também um imperativo imaginário de se atualizar os combates, quando a insistência em determinados grupos leva a um desgaste da guerra. Durante o processo de redemocratização brasileira nos anos 80, o espaço que vinha sendo conquistado pelo Partido dos Trabalhadores, interpretado como nítido representante do perigo comunista, foi reconhecido como ameaça e campanhas evangélicas contra o PT reverberaram de forma religiosa o que se expunha nas trincheiras da política. 

Com o enfraquecimento do ideal comunista nos anos 90 e com o PT chegando ao poder nacional com o apoio dos próprios evangélicos, a força das construções ideológicas estadunidenses abriu lugar à atenção à ameaça islâmica e houve algum espaço entre evangélicos no Brasil para discursos de combate ao islam. No entanto, como esta ameaça está bem distante da realidade brasileira – não se configura um inimigo tão perigoso nestas terras -, emerge, mais uma vez, o imperativo de se atualizar os combates. Não mais catolicismo, nem comunismo, não tanto islamismo… quem se configuraria como novo inimigo? Desta vez, um inimigo contra a religião e seus princípios, contra a Bíblia, contra Deus, contra o Brasil e as famílias: o homossexualismo. 

Declarações de Marco Feliciano na mídia noticiosa expressam bem este espírito belicoso: “É um assunto tão podre! Toda vez que se fala de sexo entre pessoas do mesmo sexo ninguém quer colocar a mão, porque é podre. Por causa disso, um grupo de 2% da população – os gays – consegue se levantar e oprimir uma nação com 90% de cristãos, entre católicos e evangélicos, e até pessoas que não têm religião, mas que primam pelo bem-estar da família, pelo curso natural das coisas” (Rede Brasil Atual, 1/3/2013). “Existe uma ditadura chamada (…) “gayzista”. Eles querem impor o seu estilo de vida e a sua condição sobre mim. E eles lutam contra a minha liberdade de pensamento e de expressão. Eles lutam pela liberdade sexual deles. Só que antes da liberdade sexual deles, que é secundária, tem que ser permitida a minha liberdade intelectual. A minha liberdade de expressão. Eu posso pensar. Se tirarem o meu poder de pensar, eu não vivo. Eu vegeto e morro”. (TV Folha-UOL, 2/4/2013). 

Consequência da eleição de inimigos e do combate a eles é o discurso de que há uma perseguição a quem se faz contrário, promovida pelo maior inimigo de Deus, Satanás. Esta ideia está claramente presente em afirmações de Feliciano como: “Eu morro, mas não abandono minha fé”; “A situação está tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez”; “Se é para gritar, tem um povo que sabe o que é grito. [...] Nós (evangélicos) sabemos qual é o poder da nossa fé.” 

A insistência da mídia noticiosa em enfatizar a guerra Feliciano-homossexuais, com o lado “inimigo” representado por um deputado, na mesma condição do primeiro, Jean Wyllys (PSOL/RJ), ativista do movimento LGBT, só faz reforçar a reconstrução do imaginário evangélico da guerra aos inimigos e da perseguição consequente. Isso tem gerado manifestações diversas de apoio a Feliciano entre evangélicos dos mais diferentes segmentos e ações como a da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), realizada em Brasília neste abril, que aprovou uma moção de apoio a Feliciano, aprovada em votação simbólica por unanimidade. Feliciano agradeceu o apoio dizendo que “nunca houve uma comissão com tanta oração. Os pastores estão orando pela minha vida e pela comissão. Venceremos esta batalha”. 

Há ainda uma explosão de postagens em nas mídias digitais, em especial nas redes sociais. Por exemplo, uma montagem com foto de Marco Feliciano com uma faixa presidencial tem sido veiculada por usuários do Facebook, e, na primeira semana de abril já havia superado a marca de 65 mil compartilhamentos. A campanha pede que favoráveis à candidatura do pastor à presidência da República em 2014 compartilhem a imagem para demonstrar força nas redes sociais: “Campanha urgente: Marco Feliciano presidente do Brasil”, diz o texto.

Uma segunda imagem com comparações entre Marco Feliciano e Jean Wyllys também veiculada no Facebook, já havia superado 100 mil compartilhamentos em meados de abril, registrando mais de 7,5 mil comentários. Na imagem, há dados sobre o número de votos de cada um dos deputados, além de comparações entre as bandeiras políticas defendidas por cada um deles. A imagem quando compartilhada revela declarações pessoais de quem “curtiu” com texto que manifesta apoio ao pastor Feliciano: “Eu sou cristão, a favor da democracia, da vida e da família brasileira. Marco Feliciano me representa”. 

A declaração de Silas Malafaia à Folha de São Paulo (7/4/2013) sobre a repercussão do caso entre os evangélicos e simpatizantes reflete bem este espírito: “Quero agradecer ao movimento gay. Quanto mais tempo perderem com o Feliciano, maior será a bancada evangélica em 2014″. 
Toda e qualquer análise e ação em torno da presença dos evangélicos nas mídias e na política não pode ignorar esta dimensão do imaginário da necessidade da criação de inimigos e da consequente perseguição. Isto é característico de religiões numericamente não-majoritárias, sendo portanto, fruto, entre outros aspectos, do caráter minoritário da presença evangélica em terras brasileiras. 


4. As transformações e as revelações na relação mídia-religião
O histórico da presença evangélicas nas mídias não-religiosas no Brasil revela a hegemonia católica-romana que vem pouco a pouco sendo diminuída por conta do espaço que os evangélicos vêm conquistando na esfera pública. Enquanto católicos sempre apareceram para expressar sua fé nas datas clássicas do calendário religioso e para se manifestar sobre temas amplos, à exceção dos casos controversos inevitáveis como a pedofilia praticada por clérigos, cuidadosamente tratados, evangélicos tinham espaço garantido quando se tratava de escândalos de corrupção ou situações bizarras. 

Na última década, a expressiva representatividade dos evangélicos no país com o consequente declínio do catolicismo, e a ampliação de sua presença nas mídias e na política, torna este segmento não só visível mas um alvo mercadológico. As mídias passam a prestar a atenção no segmento e na lucratividade possível, em torno da cultura do consumo vigente. 
Um exemplo ilustrativo se dá quando um personagem, por vezes protagonista, por vezes coadjuvante, como o pastor Silas Malafaia, que assume o papel da pessoa controvertida em todo este contexto e constrói sua imagem midiática como “aquele que diz as verdades”, é convidado para uma conversa com o vice-diretor das Organizações Globo, João Roberto Marinho (PINHEIRO, Daniela. Vitória em Cristo. Revista Piauí, n. 60, set 2011). Aí é possível identificar o patamar em que se encontra o segmento evangélico nas mídias. Segundo depoimento do pastor depois da conversa, Marinho teria alegado precisar conhecer mais o mundo dos evangélicos já que a emissora teria percebido que Edir Macedo não seria “a voz” dos protestantes no Brasil. O pastor Malafaia ganhou, então, trânsito em um canal destacado de comunicação e teve várias aparições no programa de maior audiência da Rede Globo, o Jornal Nacional. 

Além do contato com Malafaia, as Organizações Globo, por meio da gravadora Som Livre, já contrataram grandes nomes do mercado da música evangélica que têm, a partir daí, espaço garantido na programação da Rede Globo. A Globo tirou da Rede Record, em 2011, o evento de premiação dos melhores da música evangélica, tendo criado o Troféu Promessas. A Rede Globo é também, a partir de 2011, patrocinadora de eventos evangélicos como a Marcha para Jesus e de festivais gospel. Noticiário inédito do mundo evangélico tem ganhado espaço na Rede, como por exemplo, a matéria sobre a reeleição de José Wellington Bezerra à presidência da Convenção Geral das Assembleias de Deus veiculada em matéria de 1’44 no Jornal da Globo, de 1’52 na Globo News, em 11 de abril, além de nota na CBN e no portal G1. 

Neste contexto, o caso Marco Feliciano tem sido amplamente tratado pela grande mídia. Feliciano já foi entrevistado por todos os grandes veículos de imprensa e já participou dos mais variados programas de entretenimento – de talk-shows a games. Foi tratado com simpatia na entrevista de Veja e defendido pelo jornalista Alexandre Garcia em comentário na Rádio Metrópole (5/4/2013) com o argumento de “liberdade de opinião”. Fica nítido que estes veículos não desprezam a dimensão do escândalo e da bizarrice relacionada ao caso, somada à atraente questão da homossexualidade que mexe com as emoções e paixões humanas e expõe a vida íntima de celebridades, como o caso da cantora Daniela Mercury que veio à tona na trilha desta história. 
No entanto, o amplo espaço dado para que Feliciano e seus aliados exponham seus argumentos e sejam exibidos como simpáticos bons sujeitos revela que estas personagens ganham um tratamento bastante afável em comparação à execração imposta a outras em situações críticas da política brasileira, como a que envolveu os parlamentares do PT. Não temos aqui apenas os evangélicos como um segmento de mercado a ser bem tratado, mas, retomando a constatação de que Feliciano, Malafaia e Bolsonaro representam uma parcela conservadora da sociedade brasileira, é possível que haja uma identidade entre estes líderes e quem emite e produz conteúdos das mídias. Afinal, é a mesma mídia que constrói notícias sobre crimes protagonizados por crianças e adolescentes de forma a promover uma “limpeza” das cidades por meio de campanha por redução da maioridade penal no Brasil, ou que veicula programas que trazem enquetes durante um noticiário sobre crimes urbanos que indagam: “Ligue XXX ou YYY para indicar qual pena merece o criminoso? XXX para prisão ou YYY para morte”. 

São transformações na relação mídia e religião, com efeitos políticos, que merecem ser monitoradas e esclarecidas, tendo em vista a complexidade das relações sociais, em especial no que diz respeito à religião, e que devem ser potencializadas no ano eleitoral que se aproxima. 


Um paradigma 
O caso Marco Feliciano pode ser considerado um paradigma pelo fato de ser a primeira vez na
 história em que os evangélicos se colocam como um bloco organicamente articulado, com projeto temático definido: uma pretensa defesa da família. Com a polarização estimulada pelas mídias entre o deputado Feliciano e ativistas homossexuais foi apagada a discussão de origem quanto à indicação do seu nome em torno das afirmações racistas e de seu total distanciamento da defesa dos direitos humanos.

Torna-se nítida uma articulação política e ideológica conservadora em diferentes espaços sociais – do Congresso Nacional às mídias – que reflete um espírito presente na sociedade brasileira, de reação a avanços sociopolíticos, que dizem respeito não só a direitos civis homossexuais e das mulheres, como também aos direitos de crianças e adolescentes, às ações afirmativas (cotas, por exemplo) e da Comissão da Verdade, e de políticas de inclusão social e cidadania. Nesta articulação a religião passa a ser instrumentalizada, uma porta-voz. 

A postagem de um pastor de uma igreja evangélica no Facebook reflete bem este espírito: “Devemos nos unir cada vez mais, já somos milhões de evangélicos no Brasil, fora os simpatizantes. Temos força, é claro que nossa força vem de Deus. Precisamos nos mobilizar contra as forças das trevas, que querem desvirtuar os bons costumes e a moral e, principalmente que querem afetar a honra da família. Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar e orar, não tem capeta que resista”. E as palavras de Marco Feliciano ecoam como profecia: “Graças a Deus permanecemos firmes até aqui. Chegará o tempo que nós, evangélicos, vamos ter voz em outros lugares. O Brasil todo encara o movimento evangélico com outros olhos”.

Nesse sentido é possível afirmar que os grupos políticos e midiáticos conservadores no Brasil descobriram os evangélicos e o seu poder de voz, de voto, de consumo e de reprodução ideológica. A ascensão de Celso Russomano nas eleições municipais de São Paulo, em 2012, já havia sido exemplar: um católico num partido evangélico, apoiado por grupos evangélicos os mais distintos. A eleição da presidência da CDH é paradigmática no campo nacional e ainda deve render muitos dividendos a Feliciano, ao PSC, à Bancada Evangélica e a seus aliados. O projeto político que se desenha, de fato, pouco ou nada tem a ver com a defesa da família… os segmentos da sociedade civil, incluindo setores evangélicos não identificados com o projeto aqui descrito, que defendem um Estado laico e socialmente justo, têm grandes tarefas pela frente.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Estudo mostra que Bolsa Família não leva beneficiário à acomodação

07/05/2013 | 18h10

zerohora

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez análise sobre microempreendedorismo



O auxílio financeiro dado às famílias em situação de extrema pobreza pelo programa Bolsa Família não desestimula os favorecidos a buscar emprego ou a se tornar empreendedores. A conclusão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), após análise do microempreendedorismo brasileiro.

— O Bolsa Família não produz o chamado efeito preguiça ou de acomodação. Prova disso é que boa parte dos beneficiados é empreendedora e está formalizada — disse Rafael Moreira.

Ele é um dos pesquisadores sobre microempreendedor individual — pessoa que trabalha por conta própria, que se legaliza como pequeno empresário de um negócio com faturamento máximo de R$ 60 mil por ano. Esse tipo de empreendedor tem no máximo um empregado contratado, recebendo salário mínimo ou o piso da categoria.

A publicação Radar, divulgada nesta terça-feira pelo Ipea, relata que 7% dos empresários individuais são também beneficiados pelo Bolsa Família. Além disso, 38% do público-alvo do programa são trabalhadores por conta própria, formalizados ou não.

Segundo Mauro Oddo, outro colaborador do estudo, as microempresas representam 99% das empresas do país e são responsáveis por 51% de todos empregos existentes.

— Isso mostra que o país não vai se desenvolver enquanto as diferenças entre a realidade monetária e quantitativa for tão grande. As empresas (de menor porte) têm um grande peso para a economia. Não dá para entender o país sem entender o que são elas — argumentou o pesquisador.

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e presidente do Ipea, Marcelo Neri disse que entre as conclusões mais relevantes do estudo Radar está a de que metade de trabalhadores informais, como camelôs, se formalizaram.

— Essa é uma cena interessante e surpreendente. Ninguém esperava isso dez anos atrás. Hoje entendemos que trabalhadores muitas vezes são pequenas empresas. Em geral, são capitalistas sem capital — disse.

Segundo o estudo apresentado pelo pesquisador João de Oliveira — sobre a ampliação da base formal do emprego —, metade dos empresários individuais tem como origem o mundo informal. Além disso, metade do grupo iniciou seus negócios "não por oportunidade, mas por necessidade, após serem demitidos".

Oliveira explica que o microempreendedor individual tem um perfil de menor escolaridade (49,4% têm no máximo ensino médio completo) e renda mais baixa. Ele apresentou estimativas indicando que atualmente deve haver 3 milhões deles participando da economia brasileira. Há, ainda, outros 6,12 milhões de pequenas e microempresas no país.

AGÊNCIA BRASIL

O bolsa família dos EUA e os vagabundos daqui e de lá


Falar do Bolsa Família nas rodas da classe-média no Brasil é algo desgastante. Os que discordam são sempre raivosos e olham os beneficiados com um ar superior, moralista e hipócrita.

No país, quem manda na cabeça da classe-média, normalmente incapaz de pensar, é a imprensa. E mesmo nossa imprensa já parou de meter o pau no programa. É que reiteradas vezes, uma após outra, os dados comprovaram que é falsa a premissa de que todo mundo que recebe o benefício é vagabundo. Maior prova disso é a economia nordestina ter crescido nos últimos anos quase 50%. Tirando alguns rincões da China, altamente subsidiados pelo seu governo, praticamente lugar nenhum do mundo experimentou crescimento tão grande. A conta é fácil de se fazer. Mais dinheiro circulando, maior consumo, mais empregos. No Brasil, mais de 40% dos beneficiados já sairam ESPONTÂNEAMENTE dos quadros do Bolsa Família. Em outras palavras, o cara pobre quando consegue um emprego, vai lá e avisa que podem parar de pagar pra ele, e passar a pagar pra outro que precise.

Existem exceções? Claro, sempre existem. Corrupto é corrupto em qualquer classe social, o que muda é a quantidade de grana que se consegue roubar. Ou você mesmo nunca ouviu falar de mulheres que nunca casaram "no papel" pra não deixar de receber a normalmente gorda pensão do pai militar que morreu (esse benefício só vale pra quem tem direito adquirido, considerando que hoje ele é proibido)? Ou do funcionário público que mesmo ganhando muito bem, desvia verbas e cobra propinas? Ou quem sabe do executivo da multinacional que ainda que com um salário invejável, mesmo assim surrupia a empresa na qual trabalha?

Precisamos aprender que corrupto é corrupto porque é corrupto, não porque é pobre e brasileiro.

O baluarte dos exemplos da nossa decrépita classe-média, os Estados Unidos tem provado disso de forma muito amarga. Altos executivos de empresas trilionárias pouco se lixam para a crise que eles mesmos criaram, de propósito (sim, porque com toda a desregulamentação, ganhavam mais dinheiro). Continuam exigindo seus cheques e o povo que morra de fome. O movimento Ocupe Wall Street não nasceu por acaso. Na outra ponta, o desemprego campeia na América. Os estados mais pobres também têm sua cota de desocupados que precisam de ajuda. Os "food stamps" (cupons de comida) e os cheques de assitência social desde há muito existem e especialmente nos tempos de crescimento econômico, ajudaram o país a dar uma força aos mais necessitados, até que eles fossem eventualmente trazidos ao mercado de trabalho. Isso quando a América tinha uma política econômica mais séria. Hoje, nos tempos de bandalheira neoliberal alguns programas ainda existem (os que resistiram a Reagan e Bush), mas o governo parece não muito preocupado em criar empregos. Tanto é fato, que não consegue peitar um congresso de bandidos milionários.

Lucas Mendes em sua coluna na BBC Brasil traz um olhar sobre alguns beneficiários de programas de assistência naquele país. Em uns dos estados mais pobres e atrasados, americanos não muito chegados ao trabalho deixam de ganhar 1300 dólares por semana na lavoura como colhedores, para ganhar 260 como dependentes do viúva. É que o trabalho é "pesado".

E olha, nos Estados Unidos, que nossa mídia tão alienada proclama como exemplo pra tudo, mesmo sendo um país que mal se aguenta em pé.

Vale a pena dar uma lida no que diz Lucas (leia aqui). Aliás, convém dizer que a realidade americana está comendo pelas pernas mesmo nossos colunistas mais apegados ao Tio Sam. Está sendo duro para eles reconhecerem que todo aquele trololó democutano que eles cresceram ouvindo, está sumindo como areia pelos vãos dos dedos.

Não é mais só o brasileiro que é vagabundo. Não somos só nós que temos corruptos ou que enfiamos coisas nos bolsos pra sair das lojas sem pagar. Seu país de exemplo não é mais exemplo de nada.

Na verdade, há muito tempo que não é. O que demorou um pouco, foi aparecer as consequências de tanta barbaridade e liberalidade. É muita gente tendo que rever seus conceitos ao mesmo tempo. Lá e cá. Nada como um dia depois do outro.

Clique aqui para assistir System of a Dilma, videozinho que está deixando a Veja horrorizada.
Clique aqui para ver que o filho de FHC é laranja da Disney.
Clique aqui para ver o DNA tucano instalando mais um pedágio no Paraná.
Clique aqui para ver que o Berlusconi pode. O Lula, não. .

Quase 2 milhões de famílias abriram mão do Bolsa Família voluntariamente

metebronca

quarta-feira, 8 de maio de 2013




Uma das principais críticas da oposição e de setores conservadores da sociedade em relação ao programa Bolsa Família do governo Federal é de que ele não teria "porta de saída" ou que estaria fomentando a "vagabundagem", principalmente nos rincões do Brasil.

Todavia, dados fornecidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome mostram que essas críticas são infundadas. Segundo o Ministério, 1,69 milhão de famílias de beneficiários do Bolsa Família saíram espontaneamente do programa desde seu início, há dez anos, depois de declarar que tinham renda familiar acima do limite permitido, que é de R$ 140 mensais por pessoa.

O secretário nacional de Renda de Cidadania, Luís Henrique de Paiva, explica que esses 1,69 milhão de beneficiários prestaram informações voluntariamente, durante a atualização cadastral, feita a cada dois anos pelas prefeituras, o que corresponde a 12% das 14 milhões de famílias contempladas pelo programa.

A diarista Selma Patrícia da Silva, de 42 anos, é uma das pessoas que abriu mão do Bolsa Família depois que melhorou de vida. Selma diz ter recebido dinheiro do Auxílio Gás, do Bolsa Escola e do Bolsa Família na época em que ela e o marido faziam bicos como doméstica e pedreiro para sustentar os cinco filhos. Após construir a casa onde vive, em Formosa, a diarista decidiu devolver o cartão. "Pensei assim: da mesma forma que serviu para os meus filhos, vai ajudar outras pessoas. Acho muita covardia a pessoa não necessitar e ficar recebendo. Entreguei o cartão na mão da primeira-dama (do município), que começou a chorar", afirma Selma.

O Bolsa Família concede benefícios com base na renda autodeclarada. O cadastramento é feito pelas prefeituras, que são responsáveis por alimentar o Cadastro Único, onde são selecionados os beneficiários. O crescimento do programa na última década deu origem a uma rede de assistência que lembra a dos postos do INSS. Diariamente, dezenas e até centenas de pessoas vão a cada secretaria municipal de assistência social no país solicitar benefícios, atualizar o cadastro ou tirar dúvidas.


- Com informações de matéria publicada em O Globo

domingo, 5 de maio de 2013

Salim Lamrani: 50 verdades sobre o bloqueio econômico dos EUA contra Cuba

blog limpinho e cheiroso

Cuba_Bloqueio15
O estado de sítio econômico mais extenso da história voltou a atrair holofotes após a visita da cantora Beyoncé à Ilha.

Salim Lamrani de Paris, lido no Opera Mundi

A visita da estrela estadunidense da música Beyoncé e de seu marido Jay-z à Havana voltou a levantar polêmica sobre a manutenção das sanções contra Cuba, em vigor há mais de meio século. Eis aqui alguns dados sobre o mais extenso estado de sítio econômico da história.

1. A administração republicada de Dwight D. Eisenhower impôs as primeiras sanções econômicas contra Cuba em 1960, oficialmente por causa do processo de nacionalizações que o governo revolucionário de Fidel Castro empreendeu.

2. Em 1962, o governo democrata de John F. Kennedy aplicou sanções econômicas totais contra a Ilha.

3. O impacto foi terrível. Os Estados Unidos e Cuba sempre mantiveram políticas cordiais de comércio. Em 1959, 73% das exportações eram feitas para o vizinho do norte e 70% das importações precediam deste território.

4. Agora, Cuba não pode exportar nem importar nada dos Estados Unidos.
Desde 2000, depois das pressões do lobby agrícola estadunidense que buscava novos mercados para seus excedentes, a cidade de Havana está autorizada a importar algumas matérias-primas alimentícias, com condições draconianas.

5. A retórica diplomática para justificar o endurecimento deste estado de sítio econômico evoluiu com o tempo. Entre 1969 e 1990, os Estados Unidos evocaram o primeiro caso de expropriações de suas empresas para justificar sua política hostil contra Havana. Em seguida, Washington evocou sucessivamente a aliança com a União Soviética, o apoio às guerrilhas latino-americanas na luta contra as ditaduras militares e a intervenção cubana na África para ajudar as antigas colônias portuguesas a conseguir sua independência e a defendê-la.

6. Em 1991, depois do desmoronamento do bloco soviético, em vez de
normalizar as relações com Cuba, os Estados Unidos decidiram reforçar as sanções invocando a necessidade de reestabelecer a democracia e o respeito aos direitos humanos.

7. Em 1992, sob a administração de Bush pai, o Congresso dos Estados Unidos adotou a lei Torricelli, que recrudesce as sanções contra a população cubana e lhes dá um caráter extraterritorial, isto é, contrário à legislação internacional.

8. O direito internacional proíbe toda lei nacional de ser extraterritorial, isto é,
de ser aplicada além das fronteiras do país. Assim, a lei francesa não pode ser aplicada na Alemanha. A legislação brasileira não pode ser aplicada na Argentina. Não obstante, a lei Torricelli é aplicada em todos os países do mundo.

9. Assim, desde 1992, todo barco estrangeiro – qualquer que seja sua procedência – que entre em um porto cubano, se vê proibido de entrar nos Estados Unidos durante seis meses.

10. As empresas marítimas que operam na região privilegiam o comércio com os Estados Unidos, primeiro mercado mundial. Cuba, que depende essencialmente do transporte marítimo por sua insularidade, tem de pagar um preço muito superior ao do mercado para convencer as transportadoras internacionais a fornecer mercadoria à Ilha.

11. A lei Torricelli prevê também sanções aos países que brindam assistência a Cuba. Assim, se a França ou o Brasil outorgarem uma ajuda de US$100 milhões à Ilha, os Estados Unidos cortam o mesmo montante de sua ajuda a essas nações.

12. Em 1996, a administração Clinton adotou a lei Helms-Burton que é ao mesmo tempo extraterritorial e retroativa, isto é, se aplica sobre feitos ocorridos antes da adoção da legislação, o que é contrário ao direito internacional.

13. O direito internacional proíbe toda legislação de ter caráter retroativo. Por
exemplo, na França, desde 1º de janeiro de 2008, está proibido fumar nos restaurantes. Não obstante, um fumador que tivesse consumido um cigarro no dia 31 de dezembro de 2007 durante um jantar não pode ser multado por isso, já que a lei não pode ser retroativa.

14. A lei Helms-Burton sanciona toda empresa estrangeira que se instalou em propriedades nacionalizadas pertencentes a pessoas que, no momento da estatização, dispunham de nacionalidade cubana, violando o direito internacional.

15. A lei Helms-Burton viola também o direito estadunidense que estipula que as demandas judiciais nos tribunais somente são possíveis se a pessoa afetada por um processo de nacionalizações era um cidadão estadunidense quando ocorreu a expropriação e que esta tenha violado o direito internacional público. Veja só, nenhum destes requisitos são cumpridos.

16. A lei Helms-Burton tem como efeito dissuadir numerosos investidores de se instalarem em Cuba por temer represálias por parte da justiça estadunidense e é muito eficaz.

17. Em 2004, a administração de Bush filho criou a Comissão de Assistência a uma Cuba Livre, que impulsionou novas sanções contra Cuba.

18. Esta Comissão limitou muito as viagens. Todos os habitantes dos Estados Unidos podem viajar a seu país de origem quantas vezes quiserem – menos os cubanos. De fato, entre 2004 e 2009, os cubanos dos Estados Unidos só puderam viajar a Ilha 14 dias a cada três anos, na melhor das hipóteses, desde que conseguissem uma autorização do Departamento do Tesouro.

19. Para poder viajar era necessário demonstrar que ao menos um membro da família vivia em Cuba. Não obstante, a administração Bush redefiniu o conceito de família, que se aplicou exclusivamente aos cubanos. Assim, os primos, sobrinhos, tios e outros parentes próximos já não formavam parte da família. Somente os avós, país, irmãos, filhos e cônjuges formavam parte da família, de acordo com a nova definição. Por exemplo, um cubano que residisse nos Estados Unidos não poderia visitar sua tia em Cuba, nem mandar uma ajuda econômica para seu primo.

20. Os cubanos que cumpriam todos os requisitos para viajar a seu país de origem, além de terem de limitar sua estadia a duas semanas, não podiam gastar ali mais de US$50,00 diários.

21. Todos os cidadãos ou residentes estadunidenses podiam mandar uma ajuda financeira a sua família, sem limite de valor, menos os cubanos, que não podiam mandar mais de US$100,00 ao mês entre 2004 e 2009.

22. Não obstante, era impossível a um cubano da Flórida mandar dinheiro à sua mãe que vivia em Havana – membro direto da sua família de acordo com a nova definição –, se a mãe militasse no Partido Comunista.

23. Em 2006, a Comissão de Assistência a uma Cuba Livre adotou outra norma que recrudesceu as restrições contra Cuba.

24. Com o objetivo de limitar a cooperação médica cubana com o resto do mundo, os Estados Unidos proibiram a exportação de equipamentos médicos a países terceiros “destinados a serem utilizados em programas de grande escala [com] pacientes estrangeiros” mesmo apesar de a maior parte da tecnologia médica mundial ser de origem estadunidense.

25. Por causa da aplicação extraterritorial das sanções econômicas, uma fabricante de carros japonesa, alemã, coreana, ou outra, que deseje comercializar seus produtos no mercado estadunidense, tem de demonstrar ao Departamento do Tesouro que seus carros não contêm nem um só grama de níquel cubano.

26. Do mesmo modo, um confeiteiro francês que deseje entrar no primeiro mercado do mundo tem de demonstrar à mesma entidade que sua produção não contém um só grama de açúcar cubano.

27. Assim, o caráter extraterritorial das sanções limita fortemente o comércio internacional de Cuba com o resto do mundo.

28. Às vezes, a aplicação destas sanções toma um rumo menos racional. Assim, todo turista estadunidense que consuma um cigarro cubano ou um copo de rum Havana Club durante uma viagem ao exterior, na França, no Brasil ou no Japão, se arrisca a pagar uma multa de US$1 milhão e a ser condenado a dez anos de prisão.

29. Do mesmo modo, um cubano que resida na França, teoricamente não pode comer um sanduíche do McDonald’s.

30. O Departamento do Tesouro é taxativo a respeito: “Muitos se perguntam com frequência se os cidadãos estadunidenses podem adquirir legalmente produtos cubanos, inclusive tabaco ou bebidas alcoólicas, em um país terceiro para seu consumo pessoal fora dos Estados Unidos. A resposta é não”.

31. As sanções econômicas também têm um impacto dramático no campo da saúde. Com efeito, cerca de 80% das patentes depositadas no setor médico provêm das multinacionais farmacêuticas estadunidenses e de suas subsidiárias e Cuba não pode ter acesso a elas. O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos sublinha que “as restrições impostas pelo embargo têm contribuído para privar Cuba de um acesso vital a medicamentos, novas tecnologias médicas e científicas”.

32. No dia 3 de fevereiro de 2006, uma delegação de dezesseis funcionários cubanos, reunida com um grupo de empresários estadunidenses, foi expulsa do Hotel Sheraton Maria Isabel da capital mexicana, violando a lei asteca que proíbe todo tipo de discriminação por raça ou origem.

33. Em 2006, a empresa japonesa Nikon se negou a entregar o primeiro prêmio – uma câmera – a Raysel Sosa Rojas, jovem cubano de 13 anos que sofre de uma hemofilia hereditária incurável, que ganhou o XV Concurso Internacional de Desenho Infantil do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A multinacional nipônica explicou que a câmera digital não poderia ser entregue ao jovem cubano porque continha componentes estadunidenses.

34. Em abril de 2007, o Banco Bawag, vendido ao fundo financeiro estadunidense, fechou as contas de uma centena de clientes de origem cubana que residiam na república alpina, aplicando assim, de modo extraterritorial, a legislação estadunidense em um país terceiro.

35. Em 2007, o banco Barclays ordenou às suas filiais de Londres que fechassem as contas de duas empresas cubanas: Havana International Bank e Cubanacán, depois de a Ofac (Office of Foreign Assets Control, ou Oficina de Controle de Bens Estrangeiros) do Departamento do Tesouro, efetuar prisões.

36. Em julho de 2007, a companhia aérea espanhola Hola Airlines, que tinha um contrato com o governo cubano para transportar pacientes que padeciam de doenças oculares no marco da Operação Milagre teve de por fim às suas relações com Cuba. Com efeito, quando solicitou ao fabricante estadunidense Boeing que realizasse consertos em um avião, este lhe exigiu como condição que rompesse seu contrato com a Ilha e explicou que a ordem era procedente do governo dos Estados Unidos.

37. No dia 16 de dezembro de 2009, o banco Crédit Suisse recebeu uma multa de US$536 milhões do Departamento do Tesouro por realizar transações financeiras em dólares com Cuba.

38. Em junho de 2012, o banco holandês ING recebeu a maior sanção jamais aplicada desde o início do estado de sítio econômico contra Cuba em 1960. A Ofac, do Departamento do Tesouro, sancionou a instituição financeira com uma multa de US$619 milhões por realizar, entre outras, transações em dólares com Cuba, por intermédio do sistema financeiro estadunidense.

39. Os turistas estadunidenses podem viajar para a China, principal rival econômica e política dos Estados Unidos, para o Vietnã, país contra o qual Washington esteve mais de quinze anos em guerra, ou para a Coreia do Norte, que possui armamento nuclear e ameaça usá-lo, mas não para Cuba, que, em sua história, jamais agrediu os Estados Unidos.

40. Todo cidadão estadunidense que viole esta proibição se arrisca a uma sanção que pode alcançar 10 anos de prisão e US$1 milhão de multa.

41. Depois das solicitações de Max Baucus, senador do Estado de Montana, o Departamento do Tesouro admitiu ter realizado, desde 1990, apenas 93 investigações relacionadas ao terrorismo internacional. No mesmo período, efetuou outras 10.683 “para impedir que os estadunidenses exerçam seu direito de viajar a Cuba”.

42. Em um boletim, a Gao (United States Government Accountability Office, ou Oficina de Responsabilidade Governamental dos Estados Unidos) apontou que os serviços aduaneiros (Customs and Border Protection – CBP) de Miami realizaram inspeções “secundárias” sobre 20% dos passageiros procedentes de Cuba em 2007 com a finalidade de comprovar que não importavam tabaco, álcool ou produtos farmacêuticos da Ilha. Por outro lado, a média de inspeções foi só de 3% para o restante dos viajantes. Segundo a GAO, este enfoque sobre Cuba “reduz a aptidão dos serviços aduaneiros para levar a cabo sua missão que consiste em impedir que os terroristas, criminosos e outros estrangeiros indesejáveis entrem no país”.

43. Os ex-presidentes James Carter e William Clinton expressaram várias vezes sua oposição à política de Washington. “Não deixei de pedir pública e privadamente a eliminação de todas as restrições financeiras, comerciais e de viagem”, declarou Carter depois de sua segunda estadia em Cuba em março de 2011. Para Clinton, a política de sanções “absurda” tem sido um “fracasso total”.

44. A Câmara de Comércio dos Estados Unidos, que representa o mundo dos negócios e as mais importantes multinacionais do país, também expressou sua oposição à manutenção das sanções econômicas.

45. O jornal The New York Times condenou “um anacronismo da Guerra Fria”.

46. O Washington Post, diário conservador, aparece como o mais virulento quando se trata da política cubana de Washington: “A política dos Estados Unidos em relação a Cuba é um fracasso […]. Nada mudou, exceto que o nosso embargo nos torna mais ridículos e impotentes que nunca”.

47. A maior parte da opinião pública estadunidense também está a favor de uma normatização das relações entre Washington e Havana. Segundo uma pesquisa realizada pela CNN no dia 10 de abril de 2009, 64% dos cidadãos estadunidenses se opõe às sanções econômicas contra Cuba.

48. De acordo com a empresa Orbitz Worldwide, uma das mais importantes agências de viagem da internet, 67% dos habitantes dos Estados Unidos desejam ir de férias para Cuba e 72% acreditam que “o turismo em Cuba teria um impacto positivo na vida cotidiana do povo cubano”.

49. Mais de 70% dos cubanos nasceram sob o estado de sítio econômico.

50. Em 2012, durante a reunião anual da Assembleia Geral das Nações Unidas, 188 países de 192 condenaram pela 21ª vez consecutiva as sanções econômicas contra Cuba.


Salim Lamrani é doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade de Paris Sorbonne-Paris IV, professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos.


VOTAÇÕES NA ASSEMBLEIA GERAL DA ONU CONTRA O
 BLOQUEIO DOS EUA CONTRA CUBA
Cuba_Bloqueio_Anos01
Nota: Atualmente, a ONU possui 193 países-membros, mas nem todos comparecem nas votações.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...