Petrobras
15 de outubro de 2010
Veja a nova carta enviada pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azevedo, à Miriam Leitão. Leia o post Gabrielli em carta que me mandou: “Afirmo e reafirmo”, publicado nesta sexta-feira (15/10) no blog da colunista.
“Prezada Miriam,
Da Terra e não da Lua vão alguns
comentários meus sobre sua coluna publicada hoje (15/10) no Globo para
fins de esclarecimentos. Tentarei me ater exclusivamente as suas
opiniões substantivas sobre a Petrobras, deixando os adjetivos de lado:
‘A Petrobras perdeu quase $100 bilhões
de valor’. É verdade, como resultado de vários fatores como a crise
internacional que desvalorizou muitos ativos, o desastre do Golfo do
México, que afetou especialmente as empresas de petróleo, a demora da
conclusão da capitalização devido à complexidade do processo eleitoral, e
necessidade de manter a operação estritamente de acordo com as regras
legais pertinentes. Dificilmente pode-se atribuir essa queda
especialmente à atuação da direção da Companhia. Ao contrário, o sucesso
da capitalização, além da participação do Governo e entidades
relacionadas com uma demanda privada muito superior a oferta disponível
de ações, mostra que o mercado acredita nas perspectivas futuras da
empresa. Você, mesmo a contragosto, concorda que ‘ao ser capitalizada,
principalmente com recursos da União, ela melhorou um pouco o
desempenho’.
‘Está sendo mal avaliada em relatórios
de bancos’. Você sabe que os relatórios dos analistas apontam para
preços-alvo das ações nos próximos 12 meses e perspectivas de ganhos em
relação à media do mercado. Eles não estã ‘julgando’ a gestão da
Companhia, estão avaliando as possibilidades dos ativos geridos
permitirem retornos adequados no horizonte de tempo que são relevantes
para eles. Dois tipos de análises foram publicados. A maioria absoluta
dos analistas ajustou tecnicamente o preço-alvo das ações, levando em
consideração que o número de ações colocadas no mercado é muito maior
depois da capitalização e portanto os preços unitários precisariam
necessariamente ser reajustados. Uma minoria de acionistas alterou a
recomendação sobre as ações de sugestões de compra porque elas poderiam
ter um comportamento melhor do que o conjunto do mercado, para uma
posição ajustada ao comportamento médio do mercado. O problema não é de
mal ou bem. É uma avaliação relativa ao conjunto de ações disponíveis no
mercado.
‘É a única ação que perde do Bovespa em
um ano’. Difícil superar o índice do mercado brasileiro com as
circunstâncias específicas mencionadas no primeiro tópico, especialmente
o longo processo de capitalização, que manteve uma âncora sobre o preço
das ações da companhia na maior parte do tempo considerado. O
comportamento desses preços posteriormente à finalização da operação é
bastante positivo considerando-se o tamanho da operação e a intensa
volatilidade esperada em transações desse tipo nos dias posteriores à
sua conclusão. As ações da Petrobras tiveram uma convergência para a
estabilidade mais rápido do que o esperado, à exceção dos dias 6 e 7 da
semana anterior quando as mudanças da tributação (IOF) sobre as
aplicações de renda fixa dos estrangeiros provocou intensas
movimentações de carteira, saindo das aplicações de renda variável, como
as ações da Petrobras para outras aplicações, evitando a necessidade do
pagamento dos 2% adicionais de impostos sobre movimentações
financeiras. A intensa venda das ações baixou os seus preços, no meio de
uma onda de boatos criminosamente espalhados sobre as revistas do final
de semana e denúncias falsas contra a Petrobras.
‘Tem suas reservas em águas profundas,
área em que no mundo inteiro estão sendo reavaliadas as normas de
segurança’. É verdade que a Petrobras é a maior operadora de águas
profundas do mundo. Operamos 20% da produção em campos com mais de 300
metros de lâmina de água (a segunda empresa opera 13%) e temos 45
unidades em operação (a segunda tem 15). Também é verdade que nossos
procedimentos operacionais de segurança são muito mais rígidos do que
outros e que a legislação brasileira já é mais rigorosa do que outras.
Sempre afirmamos que há espaço para melhorar, e que os acidentes podem
ser evitados pela disciplina operacional, adoção de procedimentos
preventivos e rigidez nos compromissos com a segurança. Concordamos que
as melhorias podem vir de novas ferramentas e técnicas para a contenção e
recolhimentos de eventuais desastres e o fato de estarmos confiantes na
nossa capacidade não pode levar ao desprezo sobre essas questões.
Sempre reafirmamos nosso compromisso com a segurança em primeiro lugar.
Em relação à partilha e concessão já apresentei minha posição em carta anterior.
Tentando ser o mais objetivo possível
espero ter contribuído salutarmente para o debate de assuntos relevantes
para o futuro da Petrobras e para o seu presente.
Saudações,
José Sergio Gabrielli de Azevedo”
Leia também a primeira carta enviada à colunista.
“Miriam, respeito profundamente o
direito de opinião, divergências e controvérsias. Justamente por isso,
em relação à sua coluna de hoje, em que sou chamado de lunático e
negligente com as funções de Presidente da Petrobras, acusando-me de
atuar exclusivamente de forma política eleitoral, gostaria de convidá-la
para um debate dos méritos de minhas afirmações, além dos adjetivos.
Vamos aos fatos:
Afirmei que a área exploratória da
Petrobras estava sendo reduzida por limitações na ação da empresa na
aquisição de novos blocos de exploração e que isso seria mortal para uma
empresa que vive do crescimento orgânico de suas reservas,
principalmente através de novas descobertas. Disse e reafirmo que isso
mataria a Companhia por inanição se essa política não fosse revertida,
como o CA e a Diretoria da empresa assim o fizeram a partir de 2003.
Afirmei e reafirmo que os investimentos
em refino estavam limitados por decisões estratégicas à época do
presidente FHC. Considerado negócio de baixa rentabilidade, o refino no
governo FHC teve estímulo para parcerias para ser desmembrado para
potencial venda de suas partes. Essa visão foi revertida com o
presidente Lula. Consideramos que a integração da produção de petróleo e
o refino é fundamental para o fortalecimento da Petrobras, que tem mais
de 85% de suas receitas provenientes das vendas de derivados de
petróleo ao mercado brasileiro. No sistema integrado, a maior parte do
refino pertence à Petrobras e, portanto, o crescimento desse mercado é
estratégico para o desenvolvimento e sustentabilidade da própria
Companhia. Revertemos o ciclo de estagnação do investimento em refino e
planejamos construir cinco novas refinarias nos próximos anos.
Afirmei e reafirmo que a Engenharia e o
sistema de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa (principalmente o
Cenpes) estavam inibidos no seu crescimento por uma falsa ilusão de que o
mercado poderia fornecer as soluções tecnológicas necessárias para
enfrentar os desafios de uma atividade como a nossa, na qual o
conhecimento é vital para a sustentabilidade do crescimento. Felizmente,
essa política também foi revertida desde os tempos de José Eduardo
Dutra na Presidência da Petrobras, com o reerguimento da importância da
engenharia e da pesquisa desenvolvidos internamente, o que impediu a
continuidade de mais um elemento da morte por inanição que a orientação
da DE anterior levaria a empresa.
Afirmei e reafirmo que parte dos
programas de termoelétricas era extremamente nocivo à Petrobras.
Inquestionável que todos os ônus ficavam com a Petrobras e os benefícios
eram repassados para os sócios privados. A Diretoria dos últimos oito
anos reverteu esse processo e as termoelétricas hoje apresentam riscos e
benefícios justos para a empresa que investiu na construção de um
importante parque gerador no País.
Afirmei e reafirmo a ausência da
Petrobras na área dos biocombustíveis. A Petrobras Biocombustível é a
prova do sucesso da reversão dessa política.
Afirmei e reafirmo que a exacerbação do
conceito de unidades de negócio, como forma básica de organização da
empresa, levaria a uma perda de sinergia do sistema corporativo,
fragmentando sua ação, criando condições para a repartição do sistema em
unidades isoladas mais facilmente privatizáveis. A Diretoria da
Petrobras nos últimos oito anos fortaleceu o sistema, em lugar das
partes, enfatizou a atuação sistêmica e agora avança na separação das
unidades de operação dos ativos em relação às unidades que são
responsáveis pela implantação dos novos projetos, uma vez que a empresa
aumentou exponencialmente seus investimentos.
Afirmei e reafirmo que o regime de
concessões aplicado a áreas de baixo risco exploratório, como é o
Pré-Sal brasileiro, implica maior parcela da renda petroleira às
empresas que aí investirem. Defendo que o regime de partilha de produção
para esses casos permite uma melhor repartição dessa renda futura com o
Estado e, portanto, é socialmente mais justa. Nesse sentido, a defesa
do regime atual para as áreas do Pré-Sal é, em certa medida, a defesa de
sua privatização sim.
Esses foram meus argumentos. Poderia ter
falado da preparação para a privatização das fábricas de fertilizantes
(Fafens), da política ofensiva aos movimentos sindicais dos petroleiros,
da internacionalização equivocada, das políticas de patrocínios
sociais, culturais e ambientais sem critérios e sem transparência, e
outras ações que indicavam a orientação do governo do presidente FHC
para preparar a privatização da empresa.
Você pode discordar de cada ponto por
mim tratado, mas não pode desqualificar apenas com adjetivos e
contextualização exclusivamente eleitoral. O que discuti foram pontos
relevantes para a gestão da maior empresa brasileira e uma das maiores
do mundo, que tem desafios gigantescos para implementar um dos maiores
programas de investimento do planeta.
Miriam, a defesa do fortalecimento da
Petrobras não pode ser classificada como negligência em relação às
tarefas do seu presidente. Ao contrário, defender esses princípios é
parte inerente e importante da função que exerço.
Muito obrigado.
José Sergio Gabrielli de Azevedo”
27 respostas para “Cartas do presidente da Petrobras ao blog de Miriam Leitão”
-
Todos que conviveram na gestão FHC sabem que o ex-presidente foi obrigado a fazer declaração que não pretendia privatizar a Petrobras, que serviu como uma “Cortina de Fumaça” para seu principal objetivo de privatização generalizada no pais em seu governo. Naquele momento, o mais preponderante fora a privatização do sietma Telebrás, sob o comando do seu Ministro de planejamento, José Serra, Mendonça de Barros e do Daniel Dantas do grupo Oportunity e outros comparsas, além de seu genro David Zilbenstarj. Com esta prática, privatizaram a preços de Banana a TELEBRAS, VALE DO RIO DOCE, DIVERSAS ESTATAIS DE ENERGIA ELÉTRICA, BANCOS alem de decretar o fim da NUCLEBRAS. Mesmo assim, naquele instante, o ex-presidente FHC articulou com sua turma, uma forma de privatizar mais adiante a Petrobras, e para tanto determinou mudanças na Estatal, criando para a PETROBRAS, diversas subsidiárias e subdividindo-a em diversas Unidades de Negócios para tal propósito. Portanto, o que falou o Presidente da Petrobras a Coluna de Miriam Leitão, não deve ser desconsiderado como pretende em sua matéria.
-
‘A empresa perdeu mais de U$ 100 bilhões em valor de mercado’…. ‘No dia 22 de maio de 2008, o valor de mercado da Petrobras era US$ 309 bilhões. No mês passado, chegou a valer APENAS (grifo nosso) US$ 146 bi…’. A anta não vê que, segundo a consultoria Economatica (citada por ela mesma), o valor de mercado da Petrobras, em 2002 (final do governo do Patrão dela) era de APENAS US$ 15,4 bilhões. Para efeitos de comparação, em 2009, AUGE da crise mundial, a Petrobrás lucro APENAS U$ 15,5 BILHÕÕÕÕÕEEESS!!!! Já dava para comprar outra Petrobras da época!!! Até cego reconhece o crescimento da Petrobras. E quem acha que a Petrobras é uma má empresa para investir, ótimo, sobra mais ações para mim….
-
PARABENS PELA RESPOSTA,SR.PRESIDENTE. ATAQUES DESTE TIPO MOSTRAM UMA MIRIAM CONDICIONADA AS ORIENTAÇÕES DO PATRÃO(SISTEMA GLOBO DE TELEVISAO).LAMENTAVEL ATITUDE DESTA COMENTARISTA.
-
Acho extremamente ABSURDO a existência de pessoas com opinião igual a essa da Miriam Leitão, totalmente favorável ao desmonte de seu país e é mesmo com letras minusculas porque dela tem que ser mesmo pequeno, pois o meu PAÍS precisa de pessoas; tipo LULA, que AMEM este País. Vou relembrar uma frase muito usada num passado que não quero mais que volte: AME-O OU DEIXE-O.