Gilmar Mendes é melhor na defesa da União que na prevenção da crise.
Os críticos já o apelidaram de Darth Vader
isto é dinheiro
02.JUN.01
Por Alceu Luis Castilho
Na semana passada, mais do que
nunca, o advogado Gilmar Mendes mereceu o apelido pelo qual é conhecido
no Ministério Público: Darth Vader, o comandante do lado negro da Força.
O pugnaz advogado-geral da União, mato-grossense de 45 anos, teve um
papel destacado no braço-de-ferro jurídico em torno do racionamento.
Embora longe dos holofotes, reservados ao ministro Pedro Parente, Mendes
protagonizou, dos bastidores, uma seqüência dramática de idas e vindas
do governo na elaboração do plano de emergência. Parente e sua equipe
anunciaram medidas draconianas que foram sendo suavizadas até chegar ao
que já foi chamado ironicamente de racionamento light. Em boa medida, os
recuos ocorreram pela incapacidade do governo de implementar legalmente
as suas decisões. Ou seja: tropeçou-se ali onde Mendes deveria oferecer
um caminho claro e seguro. “A Advocacia Geral da União possui duas
atribuições básicas”, explica o jurista Adilson Dallari. “A primeira é a
preventiva, de aconselhamento. A segunda é a defesa do governo. Se uma
falha, a outra fica comprometida.” Onipresente como defensor das medidas
do Executivo, Mendes não teve a mesma eficácia como conselheiro. “A
primeira MP foi muito mal cuidada. O governo agiu de modo tecnocrático,
sem consultar ninguém. Não só o Gilmar, mas todo o corpo de assessores
deveria ter tido mais sensibilidade”, analisa Dallari.
A precariedade da primeira medida levou
à sucessão de liminares que, por exemplo, permitiu ao governador de
Minas, Itamar Franco, armar o barraco político. Para Reginaldo de
Castro, ex-presidente da OAB e inimigo declarado de Mendes, o governo
foi prejudicado por confiar “cegamente” nas orientações do
advogado-geral. “Eles estão tomados por espírito de totalitarismo, não
sei se contaminados do mesmo mal que domina o Gilmar”, ataca. Impassível
às críticas, Mendes não admite ter errado na edição da primeira MP. O
recuo teria sido um mero “ajuste”. “É muito fácil fazer críticas ao
plano quando se está confortavelmente instalado numa sala de
ar-condicionado da Avenida Paulista”, diz ele, antes de sacudir o bordão
do Apocalipse. “Além do que, se nada for feito o que vai acontecer é o
apagão.” Em meio ao tiroteio, Mendes ganhou momentaneamente um escudo de
peso. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello,
que inicialmente criticou as medidas do racionamento, saiu em sua
defesa. “Temos hoje uma das advocacias mais inteligentes dos últimos
anos. É aguerrida como deve ser em um serviço público.”
Colaboraram: Deise Leobet, Marco Damiani e Shirley Emerick
Nenhum comentário:
Postar um comentário